quarta-feira, 28 de março de 2007

Pois é...

Um grupo de portugueses decidiu fazer o seu melhor e escolher este senhor de Santa Comba, que nos deu cabo do juízo durante 40 anos, como o melhor português de sempre. Aconteceu o que se esperava. Afinal, há semanas que se adivinhava este desfecho.

Agora que o resultado é conhecido, lá vêm os “intelectuais” de café a bradar, em colunas de opinião, blogues e afins de que “a democracia está perdida”, ou que “o 25 de Abril morreu”. Enfim, acho que muitos deles dizem coisas que roçam a hipocrisia, mas não deixam de ter um pouco de razão, dado que muita gente (o Zé Povinho, por exemplo) não acredita muito neste tipo de democracia. Há quem defenda (poucos) que devíamos fazer uma IV República, que devíamos dar poderes ao presidente… enfim, coisas.

Vamos ser honestos: Primeiro: isto é um concurso, não uma eleição. Segundo, a RTP devia ter colocado, logo no primeiro dia, os pontos nos “is” em relação a nome com conotação negativa, como S****** ou Caetano, ou seja, vetá-los. Fizeram na Alemanha, com o nome de Hitler, e não protestaram. Aqui, só omitiram, sem dizerem no momento que este ou outro nome está vetado. Não o fizeram, e quando houve protestos, colocaram o seu nome. E esse foi o erro.

E sei que muitos votaram no sentido do anti-sistema: votaram em S****** para demonstrar que odeiam o actual sistema político. E para piorar as coisas, a coisa transformou-se num concurso ideológico: milhares deram os seus 60 cêntimos de mensagens de telemóvel para votar ou no professor de Coimbra ou no Álvaro Cunhal, o homem que governou o Partido Comunista Português durante anos, ou seja, o concurso transformou-se numa batalha ideológica.

Outro problema que isto deixou a nu: a maneira como a História do Século XX português é dado nas nossas escolas. Aposto que deve estar tudo na mesma desde o tempo em que andei no Secundário, há uns bons 15 anos: o período do Estado Novo deve ser dado em uma, duas aulas, a correr… ou então, nem é dado, a coisa acaba no dia 5 de Outubro de 1910, data da Implantação da República. Senhores historiadores, professores de História e Ministra da Educação? Não sei se sabem, mas ainda faltam dar quase 100 anos da nossa história…

Agora que o resultado é conhecido, lá vêm a classe politica gritar “Aqui d’ El-Rei”. Agora, que o leite está derramado? Porque é que não interviram antes? Enfim, em jeito de conclusão: isto é mesmo um Big Brother. Não para cultos, mas para aqueles que acham que a ideologia está acima das coisas. Ou então só quiseram avacalhar isto tudo. Se era assim, porque não elegeram os Gato Fedorento?
E também outra coisa: por mais que se tente, não se pode apagar a história, ou apresentá-la a preto e branco. Este borrão que teve o azar de nascer em Santa Comba vai ficar para sempre nas nossas mentes…

Enfim, fica a lição. Não sinto orgulho, mas também não tenho vergonha do que aconteceu. Afinal, aprendi que isto é só um concurso, e não se devem tirar ilações daí. Querem fazer o Museu dele em Santa Comba? Força! Querem reerguer a estátua do homem? Façam-na. Agora, preparem-se para ir buscar a cabeça ao fundo da Barragem da Aguieira, como aconteceu à outra... Mas em compensação, o Estado devia tomar posse do edifício da António Maria Cardoso, sede da nossa Policia Internacional de Defesa do Estado (PIDE), e erguer um Museu da Resistência, em vez de o transformar num condomínio fechado… O nosso país trata mal a nossa história contemporânea.

E pronto, disse de minha justiça. Mas não se esqueçam: isto foi só um concurso. Um concurso de m****, mas não deixa de sê-lo...

1 comentário:

José António disse...

Queria dizer só isto: se Salazar fosse vetado, como disse, não estariamos a voltar ao tempo da censura?