terça-feira, 4 de setembro de 2007

O piloto do dia - Jochen Rindt (2ª parte)

O ano de 1970 começa com Jochen Rindt a usar o Lotus 49, mas sabia que Colin Chapman estava a preparar um novo carro: a versão 72. As duas primeiras corridas não foram boas: em Kyalami, foi 13º, e desistiu em Jarama. Aliás, da primeira vez que experimentou o Lotus 72, no circuito espanhol, despistou-se ao fim de 200 metros devido a um defeito no veio do travão dianteiro esquerdo. Rindt discutiu com Chapman e o seu mau feitio veio ao de cima: “Nunca mais piloto esta m**** de carro!” era um sinal de que desaprovava o estilo de Colin Chapman. Mas depois de uma conversa séria, as coisas voltaram ao normal…


De regresso ao Lotus 49, chega ao Mónaco disposto a acabar a corrida como vencedor. Mas encontra como grande opositor, o “Black JackBrabham, que ainda aos 44 anos (!) dava cartas. O duelo entre eles foi intensamente vivido quer dentro da pista, quer fora dela. Oitenta voltas em que o mundo inteiro não descolava olho da pista (ou da televisão) para saber qual deles é que levava a melhor. E acabou por ser um erro de Brabham, na última curva da última volta, que deu a primeira vitória do ano para Jochen Rindt. A cena foi tão surpreendente, que o próprio comissário não se lembrou de agitar a bandeira de xadrez quando Rindt passou, pois estava à espera de Brabham!


Rindt volta ao Lotus 72 em Zandvoort, na Holanda, onde ganha, mas também vê morrer carbonizado o seu grande amigo Piers Courage. Consta-se que foi a partir daí que Rindt tomou a decisão de abandonar a competição no final da época. Mas queria retirar-se em grande. Logo, ganhou as três provas seguintes: França, em Charade; Inglaterra, no circuito de Brands Hatch; e Alemanha, no circuito de Hockenheim, numa final disputada ao segundo com o belga Jacky Ickx… Seria a sua última vitória na Formula 1.


Depois de não ter concluído a corrida da sua terra, disputada no novo circuito de Zeltweg, Rindt e a Lotus estavam em Monza para colectar os pontos que faltavam para ganhar mais um título de pilotos. Quando começaram os treinos classificativos de sexta-feira, os Lotus eram anormalmente lentos em relação à concorrência: a armada Ferrari, com Ickx, Regazzoni e Giunti eram os primeiros, o March do seu amigo Jackie Stewart e o BRM de Pedro Rodriguez eram quarto e quinto, enquanto que Rindt era sexto. Rindt queria guiar a versão 49, mas Chapman não deixou, decidindo em vez disso trocar o motor, e concordou com a decisão de Rindt em tirar as asas traseiras. O austríaco diria depois: “Sem as asas faço mais 800 RPM nas rectas, e sem ir no vácuo de outro”. Isso foi o seu primeiro erro.


O segundo erro seria o cinto de segurança. Só nos últimos tempos é que tinha sido convencido em usar um cinto de segurança de quatro pontos. E nesse dia 5 de Setembro, Rindt só tinha apertado os cintos de cima...


Sábado, 5 de Setembro de 1970. Começam as qualificações. Jochen Rindt tenta por todos os meios ultrapassar a Ferrari na sua própria casa. Sem as asas, ganha velocidade de ponta, mas tem dificuldades para curvar, algo que para ele não deixava de estar habituado. Primeiro faz de modo cauteloso, e depois a toda a velocidade.


A meio da qualificação, Rindt chega à recta oposta à meta, e ultrapassa o McLaren de Dennis Hulme, em direcção da Curva Parabólica. Quando chega à altura de travar, um dos veios de travão cedeu e Rindt perde o controlo do seu Lotus, chocando de frente com os rails. No impacto, o corpo de Rindt deslizou para baixo, partindo as pernas e os braços e rompendo fatalmente a traqueia.


Os socorristas acudiram-no, e ainda vivia. Mas o socorro foi um desastre: sem um helicóptero na pista, em vez de o levar para o centro médico do circuito, para estabilizá-lo e dar os primeiros socorros, levaram-no directamente de ambulância para o Hospital Central de Milão, que ficava a uns 40 km. Mas quando chegaram, já era demasiado tarde: aos 28 anos, Karl Jochen Rindt estava morto.


A sua carreira na Formula 1: 62 Grandes Prémios, em sete temporadas, seis vitórias, treze pódios, dez pole-positions, três voltas mais rápidas e 109 pontos no total, mas que só contaram 107.


Alguns dias mais tarde, mais de 30 mil pessoas acorreram a Graz para assistir ao funeral do seu herói. Os seus amigos e concorrentes Jackie Stewart, Graham Hill, Jack Brabham, Chris Amon, Jo Siffert, Rolf Stommelen, John Miles, Jo Bonnier, Derek Bell e Masten Gregory, estiveram no funeral. O seu patrão, Colin Chapman, e o seu empresário, um tal de… Bernie Ecclestone, também lá estiveram. O piloto foi enterrado no Zentralfriedhof de Graz, onde existe uma estátua a homenageá-lo.


Logo imediatamente, Colin Chapman decidiu retirar os seus Lotus da corrida. Depois, havia este dilema: dar-se ia o título a um piloto morto, caso a época acabe e ele ainda fosse o líder da tabela de pilotos?


Quando a FIA decidiu que sim, a Lotus reorganizou-se e concentrou os seus esforços no seu número dois: o “rookie” brasileiro Emerson Fittipaldi. A estratégia era impedir que Jacky Icxx ganhasse todas as corridas que faltavam, sob pena da Ferrari levar o título para casa. O piloto belga ganhou em Mosport, mas na corrida seguinte, no circuito de Watkins Glen, Ickx atrasou-se na corrida e Fittipaldi aproveitou para ganhar a sua primeira corrida da sua gloriosa carreira e dar ambos os títulos: o de construtores a Chapmam, e o de pilotos… a Nina Rindt.

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