sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Extra-Campeonato: A Jueves não se cala, outra vez!

A frase do momento em Espanha e na América Latina é o "Porqué no te callas?", que o Rei Juan Carlos mandou ao presidente venezuelano Hugo Chavez na Cimeira Ibero-Americana de Santiago do Chile, no Sábado passado. Por duas ordens de motivos: porque nem toda a gente tem uma paciência infinita para aturar (em todos os sentidos) o presidente da Venezuela, e porque ser o Rei de Espanha, que muito raramente abre a boca em público. E não naqueles modos.

Mas hoje estou a falar sobre outra coisa: a revista satírica "El Jueves", que desde Julho comprou uma guerra contra a familia real espanhola, que por causa de uma capa em que punha os Principes das Asturias em "doggy style", no sentido de gozar com uma lei de Zapatero, viu a sua edição ser apreendida por ordem do tribunal. Ora, o caso foi a julgamento e a sentença foi dada, condenando o caricaturista e o seu editor a uma multa de 6 mil euros, pagos a meias.



Bom, se acham que isto iria acabar aqui, esqueçam! A "El Jueves", que agora tem um novo lema (El Jueves, la revista qué nos condenan los Martes), publicou, na edição desta semana, a resposta à sentença ditada pelos juízes da Audiência Nacional. A resposta da revista à situação (satírica, como sempre) fez-se através de várias tiras, ironizando ainda o assunto: "O que terão feito com os nossos seis mil euros?" foi o mote.

E as respostas são várias: "Pagar o divórcio da princesa [Elena]?"; "Pagar contas em atraso?"; "Ir jantar a um bom restaurante?"; "Viajar por sítios novos [como as ruas da cidade madrilena]?"; "Fazer obras?"; "Aumentar a fortuna [pessoal do Rei Juan Carlos]?".

Uma coisa é certa: para eles, a liberdade de criticar é um bem absoluto, e que não poder ser dobrado sob qualquer pretexto. Isto faz-me lembrar, muitas vezes, com o Larry Flynt. Quem viu o filme, feito pelo excelente cineasta checo Milos Forman (Voando sobre um Ninho de Cucos, Amadeus, Homem na Lua) sabe daquela cena que, quando Flynt e o seu advogado saem do Supremo Tribunal (interpretados respectivamente por Woddy Harrelson e Edward Norton), após este ter dado uma sentença favorável, a um caso contra o tele-evangelista Jerry Fallwell, evocando a Primeira Emenda da Constituição Americana (que proíbe leis que restringam a liberdade de expressão, de reunião de livre religião, de liberdade de imprensa), ele afirmou a razão porque levou o caso até ao fim:

"Se um pornógrafo como eu pode publicar, então que vocês (jornalistas) possam excercer a vossa profissão em paz."

No final, é tudo uma questão de liberdade de expressão.

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