quinta-feira, 29 de novembro de 2007

A matéria do dia: a última tentativa de Graham Hill

Passam-se hoje 32 anos desde que o sonho de Graham Hill de construir a sua própria equipa na Formula 1 se viu desfeita numa árvore no campo de golfe de Elsetree Hill, nos arredores de Londres. No avião que caiu nessa tarde de nevoeiro iam o projectista Andy Smallwood, o director Ray Brimble, três mecânicos e piloto principal: Tony Brise. E disso que hoje falo: o sonho de Graham Hill em ter a sua equipa, no dia em que todos essas sonhos acabaram.


Para isso, coloco aqui uma matéria escrita no passado dia 7 de Agosto deste ano no blog brasileiro "Histórias da Formula 1", escrito pelo monocromático (um pseudónimo, tal como o meu). Uma história que merece ser recordada.


"Após uma década de muito sucesso na BRM e na Lotus durante os anos 60, Graham Hill fez três temporadas muito fracas entre 70 e 72. Talvez pela ineficiência do defasado Lotus 49 em 70, ou pelos fracos Brabhams dos anos seguintes, ou até mesmo por uma inadaptação aos novos conceitos de pilotagem que os avanços na aerodinâmica naqueles anos exigiam de um piloto acostumado a guiar com maestria aqueles charutinhos com rodas dos anos passados. Fato é que em 1973, Hill se atirou de cabeça num projeto pessoal, sua própria equipe: a Embassy Racing."


1973 e 1974 foram anos difíceis. Usando chassis de segunda mão de Shadow e Lola, Hill e seus pilotos jamais se aproximaram das primeiras colocações. A partir de 1975, com o desenvolvimento de um chassis próprio baseado nas experiências anteriores, esperava-se que o time finalmente fosse para frente. Mas como sabemos, isso não aconteceu, e até hoje a Embassy é tida como um grande fracasso, e a grande carreira de Graham Hill ficou estigmatizada por esses últimos anos melancólicos à frente de uma equipe que não deu certo. O que é injusto, como veremos.


Começando a derradeira temporada ainda com um Lola, o próprio Hill chegou a nem se classificar para duas provas. Ao não obter classificação para o grid do GP de Mônaco, onde ele detinha o recorde de 4 vitórias, o britânico se aposentou. Ao seu lado corria Rolf Stommelen, o alemão que começara a carreira de forma promissora, mas cujas escolhas erradas o conduziram por meios tortuosos à equipe de Hill no meio da temporada de 1974.


Antes do GP de Mônaco veio o GP da Espanha, no circuito de rua de Montjuic. Stommelen teve ao seu lado o francês François Migault. Os dois estreavam o chassis GH1, contruído pela própria equipe. O alemão largou num notável nono lugar, e logo no começo da prova ganhou posições. Em poucas voltas, ele disputava a primeira colocação da corrida com José Carlos Pace!


Tudo corria bem, quando o aerofólio traseiro do GH1 se soltou, e o carro de Rolf Stommelen foi atirado contra o público. O piloto sofreu apenas fraturas, mas 4 espectadores morreram. A pista estava tão perigosa que a corrida foi encerrada antes da metade das voltas previstas com apenas 8 dos 25 carros na prova.



Após o GP de Mônaco, Hill contratou a jovem promessa britânica Tony Brise, que acabara de debutar pela Williams. E a partir do GP da Bélgica, ele faria par com o futuro campeão mundial Alan Jones. Em suma, o chassis prometia, e os dois pilotos poderiam corresponder às expectativas. Brise obteve um sexto em Anderstorp, e o australiano um quinto em Nürburgring. O inglês ainda largou em sexto em Monza, melhor posição de largada da equipe até então.


No final, a temporada foi positiva; os três pontos foram mais do que a equipe conseguira nos anos anteriores, sem contar as boas classificações nos treinos e a bela estréia do chassis GH1 na Espanha. Graham Hill tinha muitos planos para 76. Manteria Brise no time, construiria um chassis novo. Estava empenhando até mesmo as economias da família neste projeto. Mas tudo terminou subitamente quando, no dia 29 de novembro, Hill, Brise, o diretor Ray Brimble e mais dois mecânicos morreram enquanto o bicampeão tentava pousar seu helicóptero em más condições meteorológicas. Graham Hill morreu, e junto com ele seu sonho e sua obra.

Nós costumamos nos lembrar da última imagem deixada por uma pessoa, ou por um evento qualquer. Lembramos de Jim Clark, Ayrton Senna e José Carlos Pace no seu auge, e pensamos quanto mais eles poderiam ter conquistado se tivessem continuado vivos. Lembramos de Michael Schumacher ainda em forma na sua última corrida, e muitos perguntam se Lewis Hamilton seria páreo para ele se voltasse às pistas. Não nos lembramos com tanta paixão do que aconteceu antes - os fracassos, as trapalhadas, os erros - e essas pessoas se tornam mitos, embora ainda sejam pessoas. Jamais a Embassy Racing teve a chance de se tornar grande, e ela terminou de repente justo no momento da virada. É lembrada injustamente, como eu disse, como um fracasso. Mas creio que seja assim por nossa culpa, não pela deles."


Já agora, decidi colocar o texto tal como estava, pois achava uma história bem contada. Contudo, existem algumas alterações históricas que tenho de fazer, para que o leitor não caia no erro, cortesia do Xico Warrior, forista do Autosport (versão portuguesa):


1 - No GP dos Estados Unidos de 1969, Hill sofreu um grave acidente com o seu Lotus 49, ao empurrar o seu carro após um despiste. Sem poder apertar o cinto de segurança, sofreu um furo e novo despiste, tendo sido projectado e fracturado ambas as pernas. Recuperou ainda a tempo de participar no primeiro GP da época de 1970, na Africa do Sul, mas a velocidade não foi mais a mesma.

2 - Os chassis da Shadow não eram em segunda mão, pois a sua estreia na Formula 1 tinha sido em 1973. Era fornecedora de chassis, tal como a Lola, que os adaptava directamente da Formula 5000, uma categoria popular na altura nos Estados Unidos.



3 - Graham Hill ganhou cinco provas no Mónaco (1963, 1964, 1965, 1968 e 1969), as três primeiras ao volante de um BRM, as outras duas ao volante de um Lotus. E ao contrário que alguns pensam, nem todas foram ganhas através da sorte...


De facto, hoje em dia Graham Hill não é tão recordado como outros grandes corredores do seu tempo, como Jim Clark ou Jackie Stewart. É mais recordado como sendo o pai de Damon Hill, ou como um piloto ao nível de um John Surtees ou um Dan Gurney. Poucos se recordam como o primeiro rei do Mónaco (cinco vitórias entre 1963 e 1969) e ele tem mais palmarés do que eles, enquanto que se costuma esquecer que é alguém que durente muito tempo foi recordista de Grandes Prémios (176 corridas) e com a carreira mais longa de sempre (18 temporadas, entre 1958 e 1975).

6 comentários:

Anónimo disse...

Dizem que Hill foi um piloto médio... Não sei. Mas gosto muito do desenho de seu capacete...
Speeder...eu não consegui ver o video que me indicou...
Brigado assim mesmo. eu gosto de rali sim.

I wanna be Nuno Rogeiro disse...

O Hill foi um grande campeão, sobretudo julgando pela lonegevidade da sua carreira e dos seus feitos extra-F1. Faltava-lhe era aquela centelha de talento que caracterizou nomes como Fangio, Moss, Clark, Stewart ou Schumacher, só para citar alguns.

E dos idos 60, há um piloto que eu gostaria de ver o que teria feito se tem utilizado a mesma maquinaria que o Graham Hill: Dan Gurney.

Anónimo disse...

Estranha essa visão do Hill, como o piloto sem a 'centelha': não concordo.
Os títulos dele falam muito: longa carreira, títulos, vitórias, único a conseguir a tríplice coroa, só não foi campeão como construtor porque morreu cedo.
Tenho lido alguns textos sobre o Hill e nenhum considera um fato crucial: Hill sofreu um acidente gravíssimo, destruiu sua Lotus e suas pernas (que ficaram horrivelmente tortas: eu o vi pessoalmente).
Se ele não tivesse se destruído nesse acidente, seria mais cultuado do que já é.
E com méritos!

Anónimo disse...

já me davas algum crédito às minhas correcções... ficava te bem Sr. Paulo Alexandre LOL

Anónimo disse...

Então meu? Aquelas correcções às histórias do Graham Hill fui eu que as escrevi no Forum AS. Porque não puseste ai que fui eu que tas disse? Não quero fama nem prestígio de ninguém, mas ficava te bem.

Cumprimentos

Speeder76 disse...

Nâo há crise... já faço a correcção.