sábado, 12 de abril de 2008

O piloto do dia - Carlos Reutemann

Depois de Juan Manuel Fangio e dos seus cinco títulos nos anos 50, os argentinos não mais sairam do seu país para tentarem a sua sorte nas pistas de todo o mundo durante quase uma década. A Formula 1 deixara de visitar as "Pampas" em 1960, e nada se viu daí até perto do final da década, quando viram um talentoso piloto a mostrar os seus dotes. Por vezes inspirado, outras vezes desesperadamente desapontador, a sua melhor hipótese foi aproveitada... por um brasileiro. Hoje é dia de falar de Carlos Reutmann, no dia em que faz 66 anos.

Filho de pai argentino e mãe italiana, e neto de suiços, Carlos Alberto Reutemann nasceu a 12 de Abril de 1942 em Santa Fé, no norte da Argentina. De apelodo "Lole", devido ao facto do seu pai ser leiteiro (Lo Lechero), começou a correr tarde, aos 23 anos, nos Turismos argentinos. Logo ganhou corridas, e dois campeonatos nacionais no seu país. Entretanto, em 1968, corre na Formula 2, no seu país, e os bons resultados fazem com que tente a sua sorte lá fora, em 1970, pela equipa oficial do Automóvel Club Argentino.

Na Europa, depois de uma primeira adaptação, num Brabham, no ano seguinte consegue ganhar uma corrida e torna-se vice-campeão de Formula 2, ficando atrás do sueco Ronnie Peterson. Nesse ano, participa no GP da Argentina, então uma prova extra-campeonato, e termina na terceira posição, na mesma volta do vencedor, Chris Amon.

Todas estas demonstrações tinham impressionado o patrão da Brabham, Bernie Ecclestone. Assim sendo, deu a Reutmann um lugar na Williams, ao lado do veterano Graham Hill, e na primeira prova do ano, na Argentina natal, impressiona tudo e todos... ao fazer a pole-position! Na corrida, Reutemann arrastou-se até ao final, ficando fora dos pontos. Até ao final do ano, conseguiu um quarto lugar no Canadá, terminando a temporada na 16ª posição, com esses três pontos. Para além disso, ganhou a corrida extra-campeonato em Interlagos.

No ano seguinte, tendo como seu companheiro o brasileiro Wilson Fittipaldi, Reutemann teve melhores performances. Sobe ao pódio em Paul Ricard e em Watkins Glen, ambos na terceira posição, e consegue mais algumas boas posições, batendo largamente o seu companheiro de equipa. No final do ano, acaba na sétima posição, com 16 pontos.

Em 1974, o projectista da Brabham, Gordon Murray, desenha o BT44, e rapidamente fica demonstrado que tem potêncial vencedor. Sendo definitivamente o primeiro piloto da equipa (nesse ano, Ecclestone tem uma série de segundos pilotos sem chama como Richard Robarts e Rikky von Opel), só no meio da época acerta no segundo piloto, que tinha corrido na Surtees: José Carlos Pace.

O carro mostra aquilo que é na terceira prova do campeonato, na Africa do Sul. Aí, Reutmann torna-se no primeiro argentino a ganhar uma corrida de Formula 1 em 17 anos. Ao longo do ano, mostra aquilo que vale, ganhando em Zeltweg e em Watkins Glen, fazendo dobradinha com Pace, e depois de fazer a pole-position no dia anterior. No final da temporada, é sexto, com 32 pontos.

Em 1975, a Brabham tinha altas aspirações para alcançar o título mundial. Quer Reutemann, quer Pace, achavam que o BT44 era uma excelente máquina, e esperavam que as coisas corressem melhor em termos de resultados. Contudo, Reutemann, apesar de coleccionar pódios, somente ganhou uma corrida, no demolidor circuito de Nurburgring, 28 anos depois do seu compatriota Fangio. No final do ano, é terceiro na tabela de pilotos, a sua melhor posição até então.

Contudo, no final de 1975, Bernie Eccelstone assina um contrato com a Alfa Romeo para correr com motores dessa marca nos chassis Brabham. Pesados e gulosos, quer Reutemann, quer Pace tinham dificuladades em conseguir os resultados dos anos anteriores. Frustrado, o melhor que consegue é um quarto lugar em Espanha. Desmotivado, vê a oportunidade concedida pela Ferrari, quando do acidente de Niki Lauda, em Nurburgring, para libertar-se do seu contrato e assinar um lugar na Ferrari. Correu em Monza, num terceiro carro, ao lado do regressado Lauda e de Clay Regazzoni, e descansou no resto da temporada.

Em 1977, Reutemann começa bem a temporada: é terceiro em Buenos Aires, atrás do seu ex-companheiro Pace e de Jody Scheckter, no novo Wolf, e ganha em Interlagos, numa corrida onde sobreviver já foi um feito. Mas a partir de Kyalami, lugar onde Niki Lauda ganharia pela primeira vez desde o seu acidente quase fatal em Nurburgring, o austriaco partiu numa cavalgada imparável rumo ao bi-campeonato. Reutemann não ganhou mais nesse ano, e terminou no quarto lugar da classificação, com 42 pontos.

Em 1978, Reutmann é o primeiro piloto da Ferrari, após a partida de Lauda. Mas herda um jovem companheiro de equipa, que se tinha juntado no final da temporada anterior: o canadiano Gilles Villeneuve. Tem um bom inicio de temporada, ao ganhar em Jacarépaguá e em Long Beach, mas quando entra em cena o Lotus 78, somente ganha mais duas vezes, em Brands Hatch e Watkins Glen. O terceiro lugar final, com 48 pontos, era sinal de que era um dos melhores do pelotão.

Mas a sua relação dentro da Ferrari tinha-se deteriorado, e ele decidiu procurar melhores ares. Pensava que tinha chegado a isso, quando foi para a Lotus, recém-coroado campeão do mundo, com uma máquina revolucionária, o Lotus 79. Contudo, esta mudança tinha sido feita na hora errada, pois esse carro iria ser ultrapassado por outras máquinas do pelotão. Para piorar as coisas, o novo carro, o Lotus 80, era tão perigoso que o próprio Reutemann se recusava sentar-se nele. Contudo, conseguiu quatro pódios e terminou na sétima posição na classificação de pilotos.

Em 1980, mudou-se mais uma vez de equipa, desta vez rumou à Williams, substituindo Clay Regazzoni. Tendo a seu lado o australiano Alan Jones, não podia fazer muito senão ser o seu fiel escudeiro, numa máquina excelente como era o Williams FW07. Ganhou uma vez, no Mónaco, mas andou muitas vezes no pódio (três segundos e quarto terceiros lugares), terminando o campeonato no terceiro lugar, com 42 pontos.

No inicio da temporada de 1981, Reutemann julgava que partia em iguais circunstâncias para o título mundial desse ano, com Jones. Contudo, a equipa perferia o australiano, não só por ser o campeão do mundo, mas também por ser um piloto de lingua inglesa. Em Long Beach, a pretexto de um erro de pilotagem, deixa passar Jones para a liderança, mas na corrida seguinte, as coisas não seriam assim.

Em Jacarépaguá, palco do Grande Prémio do Brasil, chovia a potes. Os Williams aproveitaram um erro de julgamento de Nelson Piquet (decidiu colocar pneus slicks numa pista alagada, e a chuva não parou durante a corrida), e Reutmann disparou para a frente, seguindo de Jones. A poucas voltas do fim, com ambos os carros a uma boa distância um do outro, a box da Williams sinalizou a seguinte placa: JONES x REUT. O argentino pura e simplesmente desobdeceu à ordem. Ganhou a corrida e uma guerra na equipa.

Em Buenos Aires, fica em segundo, atrás de Piquet, e passa a comandar o campeonato. Vence mais uma vez, em Zolder, mas o ambiente na equipa é mau, e não fazem muito para alcançar mais este campeonato. Entretanto, Nelson Piquet começa a mostrar as suas potencialidades no seu Brabham BT49, e começa a alcançar ambos os pilotos da Williams, especialmente na segunda parte da temporada.

Quando a Formula 1 chega à sua prova final, no improvisado circuito de Las Vegas, desenhado no parque de estacionamento do Ceasar's Palace, Reutemann era o líder, com um ponto de vantagem sobre Piquet. tinha feito a "pole-position" e tudo para vencer o campeonato. Quase 24 anos depois, a Argentina poderia ganhar de novo o título mundial, e com 39 anos, Reutmann tinha a sua maior chance da sua vida competitiva.

Para melhorar as coisas no seu lado, Piquet estava inferiorizado com dores no pescoço, e Alan Jones tinha anunciado que iria retirar-se da competição no final dessa corrida. Contudo, no inicio da primeira volta, Reutemann perde três posições e vê-se na quinta posição, e com Nelson Piquet bem atrás de si! O argentino estava a lutar contra um carro subvirador, e mais tarde, ficava sem a quarta velocidade. Sendo assim, o argentino perde posições até ficar no oitavo posto final. Piquet, esse, dorido e exausto, consegue acabar a corrida no quinto lugar, e ser campeão do mundo por apenas um ponto (50 contra 49)

A sua melhor chance tinha passado.

Em 1982, ele e Frank Williams tinham-se reconciliado, e ele tinha um novo companheiro de equipa, vindo da Fittipaldi: o finlandês Keke Rosberg. Retuemann consegue um bom inicio, ao ser segundo em Kyalami, mas a sua motivação tinha desaparecido. Sabia que os Williams, com motor Cosworth, poucas hipóteses tinham contra os motores Turbo, como os Ferrari e Renault. Após o GP do Brasil, e perto do seu 40ª aniversário, o argentino decidiu que era altura de descansar de vez da competição.

A sua carreira na Formula 1: 146 Grandes Prémios, em 11 temporadas (1972-82), 12 vitórias, 45 pódios, seis pole-positions e seis voltas mais rápidas, no total de 310 pontos, 298 dos quais válidos. Foi vice-campeão do Mundo em 1981.

Ironicamente, caso tivesse ficado para o resto da temporada de 1982, poderia ter alcançado o título mundial, já que o seu companheiro Rosberg somente conseguiu um triunfo, mas foi mais regular que os carros com motor Turbo, que tinham graves problemas de fiabilidade. Mas ele diz que nunca se arrependeu da decisão que tomou.

Após regressar à Argentina, e ter feito umas corridas nos Ralies (é o unico piloto de Formula 1 que tem um pódio num mundial de Ralies, ao ser terceiro colocado na edição de 1985) começou outra carreira: a politica. Após alguns anos no seu rancho na sua Santa Fé natal, Reutmann foi convidado pelo Partido Justicialista, um movimento herdeiro do presidente Juan Peron, para ser o candidato a governador, em 1991. Ganhou as eleições nesse ano, e após cumprir um mandato, retirou-se. Mas voltou à carga em 1999, no cargo de Governador, para um segundo mandato. Contudo, em 2001, o país entrou numa grave recessão económica, e a sua provincia natal não escapou à crise. As suas medidas conservadores salvaram, de uma certa maneira, os cofres provinciais, mas não evitou o desemprego galopante e a crise social. Para piorar as coisas, em Abril de 2003, uma inundação devastadora paralisou a cidade de Santa Fé durante uma semana, e Reutmann foi acusado de nada fazer para evitar a catástrofe.

Contudo, desde então, Reutmann tornou-se num possivel candidato à presidência da República, algo que sempre recusou, perferindo apoiar o casal Kirchner (Nestor e Cristina Fernandez). Desde então, Reutemann é Senador, mantendo-se em "low profile", e recusando no ano passado a candidatura a um terceiro mandato como governador de Santa Fé.

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