segunda-feira, 30 de março de 2009

GP Memória - Africa do Sul 1974

Quase dois meses depois das corridas iniciais na América do Sul, a Formula 1 estava de volta, correndo em paragens sul-africanas. Contudo, esta ronda esteve quase a não se realizar, pois nessa altura, a crise energética tinha atingido forte e feio a sociedade, e havia problemas em termos de fornecimento de combustível. Felizmente, o assunto fora resolvido a tempo, e a corrida pode prosseguir como planeado.


A corrida sul-africana foi o palco de várias estreias em termos de chassis. A Hesketh tinha finalmente o seu próprio chassis, o modelo 308, para o rápido James Hunt. No caso da BRM, o modelo P201 estava pronto a estrear, com Jean-Pierre Beltoise ao volante. Mas a expectativa maior estava na Lótus e o seu revolucionário modelo 76. Era mesmo revolucionário: duas asas traseiras, quatro pedais, um dos quais para activar uma embraiagem electrónica, uma percursora das actuais caixas semi-automáticas na Formula 1. Contudo, este era um modelo complexo, e as performances da equipa nestes treinos foram decepcionantes: Jacky Ickx fora décimo na grelha, Ronnie Peterson o 16º.


A Williams traz um segundo piloto para paragens sul-africanas, o dinamarquês Tom Belso. Quem também se estreava na Formula 1 era um italiano de 35 anos, a bordo de um March laranja, pintado com as cores da sua patrocinadora, a firma de peças Beta: Vittorio Brambilla.


A grelha sul-africana foi preenchida, como sempre, com pilotos locais. A Team Gunston, com dois Lótus 72, tinha como pilotos Paddy Driver e Ian Scheckter, o irmão mais velho de Jody, enquanto que Eddie Keizan corria com uma Tyrrell 003, com o patrocínio da Lucky Strike, e para finalizar, Dave Charlton tinha inscrito um McLaren M23 pela Scuderia Scribante.


Lamentavelmente, havia uma equipa não participa neste Grande Prémio: a Shadow. Uma semana antes, durante uns testes de adaptação ao circuito, o carro dirigido pelo americano Peter Revson sofre uma quebra da suspensão na rápida recta anterior à meta, a Barbecue Bend, causando um despiste fatal ao americano. Tinha 35 anos. Denny Hulme, seu ex-companheiro da McLaren, tinha assistido ao despiste fatal e decidira que iria abandonar a competição no final dessa época.


Os treinos tiveram alguns resultados surpreendentes. Niki Lauda conseguia aqui a sua primeira pole-position da carreira, e a primeira da Scuderia em ano e meio (a última tinha sido em Itália 1972, graças a Jacky Ickx), batendo a Surtees do brasileiro José Carlos Pace, que conseguia aqui o seu melhor resultado na grelha da equipa do único campeão em duas e quatro rodas, John Surtees. A segunda linha tinha também mais uma pequena surpresa, pois o italiano Arturo Merzário levava o seu Iso Marlboro ao terceiro lugar, tendo a seu lado o Brabham de Carlos Reutmann. A terceira fila tinha o McLaren de Emerson Fittipaldi e o segundo Ferrari de Clay Regazzoni. O alemão Hans-Joachim Stuck era o sétimo a largar, tendo a seu lado o melhor dos locais, Jody Scheckter. Denny Hulme era nono, á frente do Lótus de Ickx.


Na partida, Lauda parte na frente, enquanto que Reutmann passa Pace e Merzário para ficar com o segundo posto. A meio do pelotão, o desastre acontece aos dois Lótus. O acelerador de Peterson fica preso e bate em… Jacky Ickx! O sueco ainda aguente duas voltas, antes de se retirar, enquanto que o belga continua a correr até à volta 31, quando os travões dão de si.


Entretanto, na frente, Lauda aguenta os ataques de Reutmann até à nona volta, altura em que é ultrapassado pelo piloto argentino, para não mais largar a liderança. Nesta altura, atrás destes dois pilotos estão Clay Regazzoni, Jody Scheckter, James Hunt e Emerson Fittipaldi. Hunt desiste na 14ª volta, porque o carro vibrava violentamente, e poucas voltas depois, Scheckter, o herói local, tinha problemas num dos pneus e atrasava-se. Quem beneficiava destas contrariedades na frente era Mike Hailwood, que já se encontrava na quinta posição, atrás de Fittipaldi, no início da 20ª volta.


Mas atrás destes dois pilotos estava o BRM de Beltoise. Com um carro novo e bem afinado, o motor V12 respondia bem na altitude de Kyalami, e conseguia acompanhar os dois pilotos. Com o tempo, passou ambos os carros, e era quarto na volta 48, antes de Hailwood levar a melhor sobre o outro McLaren, e ficar com a quinta posição.


Mais para o fim, a corrida ganha emoção: na volta 66, o Ferrari de Regazzoni teve problemas de motor e encosta à berma, e na volta 74, a quarto do fim, é a vez de Lauda parar, com problemas de ignição. Isto quando tinha garantido o segundo lugar da classificação…


Assim sendo, quem herdaria os problemas da Ferrari era Beltoise, que levava o seu BRM ao melhor resultado da equipa em ano e meio. Mas quando o director da corrida mostrava a bandeira de xadrez a Carlos Reutmann, quatro voltas depois, história estava a ser feita: Reutmann tornava-se no primeiro argentino a ganhar uma corrida desde o lendário Juan Manuel Fangio, no mítico GP da Alemanha de 1957, com Beltoise e Mike Hailwood a acompanhá-lo no pódio. Nos restantes lugares pontuáveis ficavam Patrick Depailler e Hans Stuck, que a bordo do seu March conseguia os seus primeiros pontos da sua carreira, e Arturo Merzário, que dava o primeiro ponto do ano á Iso-Marlboro.


À saída de Kyalami, Regazzoni liderava o campeonato, mas o equilíbrio era patente, pois tinha havido três vencedores em três corridas diferentes. Dali a um mês, em Jarama, o campeonato continuava, na chegada do pelotão a solo europeu.


Fontes:


http://en.wikipedia.org/wiki/1974_South_African_Grand_Prix
http://www.grandprix.com/gpe/rr238.html

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