sábado, 4 de julho de 2009

As ideias de Bernie Ecclestone sobre a sociedade em que vivemos

Ora, é simples: como ele está num cargo não-electivo, e é essencialmente um homem de negócios com imensa influência (mas não poder - e nem precisa de o ter!), Bernie Ecclestone pode dizer todos os disparates que quiser. Até para dizer que adora ditaduras.


Pessoalmente, sempre soube que tinha este feitio. Sempre. Quem tem o anuário de 1989/90 do Francisco Santos, como eu, e ler a história da Brabham, irá topar uma frase dita pelo "Môco" (a.k.a José Carlos Pace) "anãozinho tenebroso". De facto, pode ser baixinho, mas há muita gente que treme na sua presença. Esta arrogância tipicamente britânica anda muitas vezes de mão dada com a auto-confiança nos pincaros. Tou a dizer isso porque muito do que disse faz lembrar o José Mourinho. Só que o "Special One" ou Il Speziale" nunca elogiou, pelo menos até agora, Adolf Hitler. E o "Mad Bernie" sim. Eis alguns excertos da entrevista publicada hoje no jornal inglês "The Times":

"Pode parecer terrível dizer isto, mas aparte o facto de Hitler se ter deixado levar e ser persuadido a fazer coisas que não sei que ele queria fazer ou não, de muitas formas, ele estava em posição de comandar muita gente e conseguir que as coisas fossem feitas. No final, ele acabou por perder-se, pelo que não foi um bom ditador, porque, ou tinha noção do que estava a acontecer [no seu país] e insistiu nisso, ou apenas não se importou... de qualquer forma, ele não foi um ditador".

"A democracia não fez muitas coisas boas em muitos países, incluindo este [Grã-Bretanha]".

"Gosto de pessoas com mentes decididas. Acho que é parvo ir sempre falar com a nossa avó antes de fazer qualquer coisa. Eu tomo decisões, às vezes erradas, às vezes acertadas - desde que se tomem mais acertadas do que erradas, então tudo bem".

"Os políticos actuais estão demasiado preocupados com eleições. Cometemos um erro terrível ao apoiarmos a deposição do Saddam Hussein. Ele era o único que conseguia controlar aquele país. Aconteceu o mesmo com os talibãs [no Afeganistão]. Entramos nos países sem termos qualquer noção da cultura deles. Os americanos provavelmente pensaram que a Bósnia era uma cidade em Miami. Há pessoas a morrerem de fome em África e não fazemos nada mas envolvemo-nos em coisas que deveriamos deixar em paz".

"Prefiro líderes fortes. Margaret Thatcher tomou muitas decisões e cumpriu o seu trabalho. Foi ela que construiu este país lentamente. Deixámo-lo ir abaixo, outra vez. Todos estes políticos, Gordon (Brown) e Tony (Blair) estão sempre a tentar agradar a todos ao mesmo tempo".

Esta última frase acho-a genial. E a genialidade dela é demonstrativo da hipócrisia que Ecclestone navega. Quando os Trabalhstas chegaram ao poder, em 1997, rebentou um escândalo relativo às contribuições ao Partido Trabalhista, e Ecclestone tinha dado à volta de 600 mil libras aos cofres do partido. Depois de uma polémica, esse valor foi devolvido, creio eu. Ver agora o Tio Bernie a dizer mal deles parece ser no mínimo contra-natura...

Em suma: temos de dizer que Ecclestone foi verdadeiro. E a sua postura perante a sociedade em que vivemos, é um pouco a educação que teve. Como não andou na Universidade (foi vendedor de carros usados e "manager de pilotos" desde tenra idade), não se pode esperar muta coisa dele em termos de PC (politicamente correcto). E claro... em muitos casos, quanto menor a educação, maior é a ignorância. Mas também, ele não se deve importar para o que se passa à volta, não é?


Veremos qual vai ser o impacto que esta entrevista terá, nos dias quem vem a seguir.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ao que parece a crise na F-1 deve ter feito estragos irreparáveis a cabeça de Bernie.