domingo, 31 de janeiro de 2010

Nas entrelinhas das apresentações

Passadas as emoções do dia, é altura de ler o que os outros dizem. E no mar de apresentações, ler alguns dos mais importantes da nossa blogosfera automobilistica para ver o que dizem, e descortinar as "meias palavras" deles, é um excelente exercício para olhos treinados, no sentido de descortinar o futuro próximo esta Formula 1 em 2010, no meio de uma crise sem precedentes na nossa economia mundial. O desabafo de ontem teve hoje algumas respostas, mas claro, não todas. E muito desse desabafo terá a sua conclusão amanhã.

Se repararam nas apresentações de hoje, viu-se que os flancos dos carros andam virgens de patrocínios. A Renault, tirando a Total e pouco mais, nada tem nos seus flancos. Para não falar na Sauber, que se apresentou ao mundo de forma imaculada. Em ambos os casos, são sinais de que a crise atingiu bem feio no seio da Formula 1. Duro e feio, muito feio.

Se as equipas da frente nada temem (a Ferrari afirma que vai gastar cerca de 300 milhões de euros), hoje vimos as apresentações de duas equipas ditas... do meio do pelotão. Claro, vão correr sem problemas a temporada de 2010, mas o facto de, por exemplo, a Renault ter vendido grande parte do capital e ficar-se como fornecedora de motores, para além de ter contratado um piloto com uma mala cheia de rublos (apesar de ter algum talento) é um sintoma da crise. Para além dos flancos e asas sem patrocínio...

O caso da Sauber também preocupa. Apesar de Peter Sauber ter dito que tem tudo garantido em 2010, e de Pedro de la Rosa ter apoios a rondar os dez milhões de euros para conseguir o seu lugar, aquele branco virginal parece ser preocupante. E claro, apesar da confiança, Sauber não deixou de dizer que precisa de dinheiro para garantir os anos seguintes. E quem viu o carro da Williams, no “shakedown” de Silverstone, reparará que também existem espaços por preencher. E como nos outros dois, é uma equipa do meio do pelotão, lutando por pódios.

E claro, se falo assim das equipas do meio do pelotão… imaginem as novatas.

Na semana que vai começar, haverá uma reunião da comissão da Formula 1, entre FIA, FOTA e o Bernie Ecclestone para discutir a situação das novas equipas, aceites no inicio do ano passado pelo então presidente, Max Mosley. Como sabem, essas decisões foram controversas, dado que a escolha delas foi baseada em critérios políticos do que na estrutura das várias candidaturas. A USF1 criou a sua estrutura no início desse ano e a Campos Meta, só depois da sua candidatura ser aceite é que construiu a sua. Tanto assim que o chassis, como vocês sabem, está a ser construído pela Dallara.

E das quatro, mesmo a Virgin tem problemas. O facto de ser apoiada por Richard Branson implicou não a angariação de mais patrocínios, mas sim o seu afastamento. E o facto de Alex Tai, um dos directores nomeados pela empresa, ter sido rapidamente afastado pela sua manifesta incapacidade de lidar com a equipa (substituído por John Booth, o homem forte da Manor), demonstrou também que ali existe alguma desorganização. E claro, não se pode esquecer que a equipa vai correr com um orçamento de tostões: 45 milhões de euros.

Parece que a única que navega em águas calmas é a Lotus. Que entrou como “extra”, alguns meses depois das outras três, para na altura substituir a BMW Sauber. Quem diria? Parece que vão ser os últimos a rir…

Nesta “avaliação da situação” surgiu uma possibilidade, aventada esta tarde pelo Luiz Fernando Ramos, o Ico: a FIA pode considerar que as novas equipas podem falhar três corridas em 2010, no sentido de se prepararem melhor para a sua temporada de estreia. Como sabem, das quatro novas, somente Virgin e Lotus as datas de apresentação devidamente marcadas no calendário: 3 de Fevereiro para a Virgin, 12 de Fevereiro para a Lotus. Da Campos e da USF1… nada. E como diz o Ico: “Para Bernie permitir isso, é porque a situação está muito feia”.

Mas não devo acreditar muito nisso porque… a ser realidade, o mais lógico seria deitar fora as corridas fora da Europa e estrear-se em Barcelona, por exemplo. Só que Espanha é a quinta prova do ano, depois de Bahrein, Austrália, Malásia e China. Como as novatas não tem o dinheiro das transmissões televisivas (é por isso que Peter Sauber deixou ficar a incrível denominação BMW-Ferrari no seu Sauber), perguntar-me-ia como é que eles vão arranjar dinheiro para levar os seus chassis para as outras paragens fora da Europa?

E ainda outro factor a ter em conta: a Stefan GP. Ninguém ouviu falar de Zoran Stefanovic antes do final do ano passado, quando este avançou para comprar os activos da Toyota: a fábrica de Colónia, os motores, o chassis TF110, e pelo menos 150 dos trabalhadores que a empresa tinha. E parece que também terá Kazuki Nakajima na equipa. Bernie Ecclestone quer “correr” com a Campos Meta, que aparentemente foi comprada este fim-de-semana pelo nosso conhecido Tony Teixeira, o "coveiro" da A1GP. Como expliquei ontem, Teixeira e Campos tem de explicar ao grupo da Formula 1 que tem pernas para andar. Caso contrário, a equipa pelo qual Bruno Senna espera estrear-se na Formula 1 corre o risco de ser uma nado-morta. E a Stefan GP entrar no seu lugar, se Ecclestone convencer o resto do pessoal de que eles têm pernas para andar…

Em suma: a Formula 1 mostra-se no meio de um emaranhado, com um enredo digno de telenovela mexicana. E a sofrer os efeitos da crise...

1 comentário:

Unknown disse...

novela mexicana mesmo!

e nada garante que a Stefan GP seja uma Campos da vida, pode estar tão falta de patrocinio quanto as outras.

imagino que se Bernie dá 3 GP's de prazo as equipes vão usá-las. e as outras, entre elas Peter Sauber e o infaltável Frank Williams, vão protestar: mais novela pela frente