quarta-feira, 28 de abril de 2010

Grand Prix (numero cinco)

(continuação do capitulo anterior)

Na segunda-feira, no salão principal daquele Hospital nova-iorquino, uma multidão de jornalistas, de rádio, TV e jornais, esperavam pela aparição de Pete Aaron naquela sala. Desde o momento do seu acidente, a imprensa acompanhou a evolução do estado de saúde de Peter, especialmente nos dois primeiros dias, pois sabia-se da gravidade do seu estado, só não se sabia como iria ficar após as operações que tinha sido sujeito.

Depois disso tudo, era público que a reabilitação dele iria demorar cerca de nove meses. As fracturas tinham sido muitas, apesar de ter acontecido abaixo do joelho. O tornozelo esquerdo tinha sido afectado, mas em um mês iria tirar o gesso à volta dessa zona, e dali a algum tempo, quando a fractura tivesse sido curada, iria retirar o parafuso que lhe foi colocado naquela zona. A perna direita era a que iria ter maiores cuidados, pois tinha uma placa que serviu para unir as três fraturas que tinha tido, só na tibia. O perónio também tinha sido fracturado, mas o processo de cura seria mais rápido.

Em suma: para 1969, não se podia contar com Pete. E claro, os rumores sobre a sua retirada de competição começaram a surgir. E como ele, nem outras pessoas não queriam responder a essa pergunta, o barulho aumentou. E naquele dia, toda a gente tinha esse pensamento na cabeça.

Quando Pete apareceu, amparado pela sua mulher e por dois elementos da sua equipa média, os "flashes" dispraram desordenadamente, e as câmeras de televisão, que estavam no outro lado da sala, começaram a gravar. Em cima da mesa, diversos microfones, de todos os tamanhos e feitios, estavam ligados para ouvir aquilo que tinha a dizer.

O primeiro a falar foi o próprio Pete. Tirou um papel do bolso da sua camisa e passou a ler a seguinte declaração.


- Caros jornalistas, senhoras e senhores, bom dia. Vou ler um comunicado para vocês que diz o seguinte:

Pete fez com compasso de espera. Depois, suspirou baixo e prosseguiu:

- Quero primeiro de tudo, agradecer aos médicos ortopedistas deste Hospital por terem salvo a minha perna, depois do meu acidente horrivel em Watkins Glen, há cerca de duas semanas. Fizeram com que este acidente, que poderia ser fatal, em algo que um dia posso contar às pessoas à frente da lareira, entre um "burbon" e outro, afirmou, entre alguns risos.

- Quero também dar os parabéns ao Bob e ao seu chefe de equipa pelo título alcançado ontem no México. Sei que aconteceu de modo justo, pois ele foi o melhor em pista. E bem o mereceram, numa temporada onde passaram por inumeros desafios, como a morte do Scott Stoddard e do seu fundador, Jeff Jordan. Espero que o seu filho continue com o legado do seu pai e que continuem na senda do seu sucesso.

Novo momento de pausa. Respirou fundo entre flashes e prosseguiu.

- Após estes dois momentos introdutórios, quero afirmar o seguinte. Como é sabido, a extensão dos meus ferimentos significa que a temporada de 1969 está largamente comprometida para mim em termos de competição. Isso não me importa muito, o que me interessa é que esteja bem como pessoa, poder voltar a andar. Mas este acidente também me fez refletir sobre a minha idade e a minha carreira. Tenho 41 anos neste momento, e dois títulos mundiais no meu bolso e depois do que me sucedeu, descobri que, mais importante do que os títulos alcançados, é muito bom estar vivo para disfrutá-los. Sendo assim, declaro hoje a minha retirada da competição.

Pete pausou. A sala agitou-se por alguns momentos, enquanto que mais flashes disparavam na sala e alguns jornalistas começavam a fazer perguntas. Sem olhar para eles, prosseguiu:

- O facto de afirmar hoje que não irei competir mais enquanto piloto não significa que abandonei a competição. Não. Por agora vou estar concentrado em curar-me, voltar a andar, espero eu, sem sequelas. Quando essa parte acabar, pretendo voltar á competição de outra forma que não como corredor. Já consegui o que que queria e já sofri por este desporto que tanto amo, desde que o comecei a praticar há mais de vinte anos, na minha California natal, com amigos meus como o Tim Randolph ou o Dan Gurney. Agora é tempo de recuperar fisicamente para prosseguir a minha vida, espero eu, na competição. Obrigado a todos, concluiu.

A sala voltou a agitar-se. Alguns reportéres perguntaram:

- Depois de se recuperar, vai fazer o quê?
- Não tenho quaisquer planos no momento. Mas correr, não corro.
- Vai formar a sua própria equipa?
- Não sei. Talvez, talvez não.
- Fica nos Estados Unidos ou volta para a Europa?
- Talvez volte para a California. É algo que posso considerar. Já respondi às vossas perguntas, meus caros senhores, muito obrigado, agora dou a palavra aos senhores que me salvaram a vida.

A sala voltou a agitar-se.


(continua)

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