segunda-feira, 5 de abril de 2010

O piloto do dia - Ronnie Bucknum

Quando o seu nome foi anunciado, todos os que sabiam sobre automobilismo fora da sua Califórnia natal se interrogaram quem era este piloto, pois nunca ouviram falar dele. E ainda por cima se interrogaram porque é que a Honda, que em meados de 1964 iniciaria a sua aventura na Formula 1, escolheria um piloto absolutamente desconhecido. Anos depois, descobriu-se que a razão era não só estratégica, de fazer vender motos e carros da marca no enorme mercado americano, como também era para ter um nome desconhecido para desenvolver um carro que tinha todos os defeitos de juventude que poderiam ser imaginados.

Para Ronnie Bucknum, foi a sua primeira, e única oportunidade de correr na categoria máxima do automobilismo, e isso foi o suficiente para o resto da sua carreira, que passou pela Endurance, onde foi terceiro classificado nas 24 Horas de Le Mans, a bordo de um dos míticos Ford GT40, até à USAC, onde conseguiu uma vitória em 1968. Hoje em dia o seu legado continua através do seu filho Jeff Bucknum, que corre na American Le Mans Series. No dia em que comemoraria o seu 74º aniversário natalício, eis a sua biografia.

Nascido a 5 de Abril de 1936 em Alhambra, na Califórnia, cedo começou a competir num mundo onde tinha dado a conhecer pilotos como Phil Hill e Dan Gurney, e a partir dos 20 anos, em 1956, começou a competir em eventos sancionados pela SCCA (Sports Car Club of América). Começando em máquinas como Porsche Speedster, e depois num Austin Healey 3000 e num MGB, tornou-se num dos melhores pilotos da Costa Oeste na sua categoria. Entre 1959 e 1964, participou em 48 corridas, das quais venceu 44, o que é um número impressionante.

Em 1964, Bucknum participou nas 12 horas de Sebring, ao volante de um Porsche 904, e o seu estilo de condução despertou o interesse de uma marca que estava a ganhar fama no motociclismo: a Honda. Pouco depois, os responsáveis abordaram-no para perguntar se queria… correr para eles na sua aventura na Formula 1. Provavelmente foi o convite mais estranho da sua vida, e que o iria arrancar da obscuridade.

A Honda era uma marca fundada em 1946 por Soichiro Honda, um homem com profundos conhecimentos de mecânica. Inicialmente construía motos, mas no inicio dos anos 60, Honda queria dar o passo seguinte, ao construir automóveis. O seu primeiro modelo seria o desportivo S800, em 1963, mas esta incursão no mundo dos automóveis iria ser em grande, pois Honda, que no final da década anterior tinha entrado na competição motociclistica com excelentes resultados, queria dar o passo seguinte: a Formula 1.

O projecto tinha sido iniciado em 1962 com a construção de um motor V12 de 1.5 Litros, colocado de modo transversal e capaz de desenvolver cerca de 230 cavalos. Depois foi construído um chassis, que ficou conhecido como o RA271, e estabeleceram uma base na Holanda, para poderem usar o circuito de Zandvoort para testes. Como pilotos, a Honda só queria pilotos americanos, e escolheram quatro nomes, dois consagrados e duas promessas. Inicialmente, eles queriam Phil Hill, que tinha saído da experiência falhada da ATS, no final de 1963, mas eles estavam um pouco receosos para assinarem com ele. Quando este aceitou correr pela Cooper em 1964, viraram-se para Bucknum como segunda escolha.

Quando o nome de Bucknum foi anunciado, toda a média especializada mandou um sonoro e unânime “quem?”, e o interrogou para saber das razões pelo qual decidiram por tal escolha. Ele respondeu da seguinte forma:

"Em primeiro lugar, o Japão nunca teve um Grande Prémio, logo eles não tem muitos pilotos. Em segundo lugar, os Estados Unidos não têm neste momento um carro de Grande Prémio, de modo que a contratação de um americano pela Honda seria bem vista. Agora entendo, pois existem boas razões para que a empresa ter escolhido um piloto americano - vender um lote de motos nos Estados Unidos", afirmou.

Contudo, a escolha de Bucknum tem de ser vista como um gesto de prudência. Na altura, a Honda palmilhava território desconhecido e apesar do projecto ser liderado pelo melhor homem de confiança de Honda-san, Yoshio Nakamura, não se sabia se iria ser algo parecido com o que acontecer noutros projectos como a Automobili Turismo & Sport, feito por engenheiros experientes vindos da Ferrari, e que se saldara num tremendo fracasso. O que se sabia era que a Honda queria aprender e evoluir na Formula 1.

No seu primeiro teste no carro, Bucknum sentiu a máquina e disse: “Foi a experiência mais assustadora que já tive, e pessoalmente, acho que fui muito mal." Mesmo assim, a Honda seguiu em frente e assinou com ele por quatro corridas na temporada de 1964. E a sua estreia foi no GP da Alemanha, no traçado de Nurburgring Nordschleife, com uns assustadores 22 quilómetros de extensão. De tempo incerto, muitas das vezes reclamava a vida de pilotos. E essa estreia tinha sido ensombrada com o acidente mortal do holandês Carel Godin de Beaufort, no seu Porsche privado…

Largando do 22º e último lugar, manteve-se firma na pista até que à 11ª volta, problemas de direcção o impediram de continuar. Não correram na Áustria, no sentido de melhorar as suas performances, e quando voltaram para correr o GP de Itália, em Monza, Bucknum conseguiu melhor, ao largar do décimo posto e a andar num sólido quinto lugar até à volta 13, quando o motor sobreaqueceu. Em Watkins Glen, os mesmos problemas o colocaram fora de prova por volta da metade da corrida.

Estes resultados foram encorajantes para a Honda, que no inicio de 1965 contratou o seu compatriota Richie Ginther, vindo da BRM e um piloto bem mais experiente que Bucknum. Nesse ano, a Honda correu com dois carros, e consegue o seu primeiro ponto no GP da Holanda, quando Ginther chega no sexto posto. Entretanto, Bucknum continuava a não chegar ao fim em qualquer Grande Prémio, mas o carro evolui constantemente e a partir do final do ano, o carro já é mais fiável. E na última prova do ano, na cidade do México, é o momento da Honda brilhar, com Ginther a vencer a corrida, que seria a última com motores de 1.5 litros, e Bucknum a completar no quinto lugar, conseguindo os seus primeiros (e únicos) pontos da carreira, terminando no 14º posto do campeonato.

Em 1966, ano de adaptação à nova formula de 3 litros, a Honda decide faltar grande parte do ano para desenvolver o novo motor V12, e somente aparece no GP de Itália, perto do final do ano, com Ginther e Bucknum ao volante. Ainda vão a tempo de conseguir pontos no México, mas Bucknum consegue somente um oitavo lugar. No inicio de 1967, A Honda contratou o britânico John Surtees e decidiu que iria correr só com um carro, dispensando os serviços de Bucknum. A sua aventura na Formula 1 tinha acabado ali

O seu palmarés: 11 Grandes Prémios, em três temporadas (1964-66), dois pontos.

Enquanto não corria na Formula 1 em 1966, recebeu um convite para participar nas 24 Horas de Le Mans, ao volante de um dos Ford GT40 da Holman & Moody, famosos na NASCAR Series. Aliás, partilhou o volante com Dick Hutcherson, um dos pilotos do momento na série. Ambos acabaram a corrida na terceira posição, a doze voltas do vencedor.

Para além das 24 Horas de Le Mans, Bucknum tentou a sua sorte nas 500 Milhas de Indianápolis, num Lola-Chevrolet, mas não conseguiu qualificar-se. A partir de 1967, correu na USAC Series, predecessora da CART e da IRL, conseguindo alguns bons resultados e uma vitória em 1968, em Brooklyn. Essa era apenas a sua segunda corrida em oval, um recorde que foi mais tarde igualado por outros dois pilotos com passagem pela Formula 1: Nigel Mansell e Juan Pablo Montoya. Continuou a tentar a sua sorte nas 500 Milhas de Indianápolis, e o seu melhor tinha sido em 1970, num Cecil-Ford, ao acabar na 15ª posição.

Nos anos 70, Bucknum passou para a Transam, onde correu na equipa de Roger Penske e tendo como um dos seus companheiros o compatriota Sam Posey, e no final da carreira correu com a NART, a equipa americana da Ferrari.

Infelizmente, a sua carreira fora encurtada devido aos seus problemas de saúde. Era diabético, e a doença fez encurtar a sua esperança de vida e morreu a 16 de Março de 1992 na sua casa de San Luis Obispo, na sua Califórnia natal, aos 56 anos.

Hoje em dia, o seu apelido continua vivo graças ao seu filho Jeff Bucknum. Actualmente com 43 anos, correu na Indy Racing League e actualmente está na American Le Mans Series, mantendo o legado vivo nas pistas americanas.

Fontes:

http://jeffbucknum.com/driver/RonnieBucknumHistory.php
http://en.wikipedia.org/wiki/Ronnie_Bucknum
http://www.grandprix.com/gpe/drv-bucron.html
http://www.forix.com/8w/bucknum.html
http://f1database.blogspot.com/2009/09/uma-historia-ronnie-bucknum-na-honda.html

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