sábado, 8 de maio de 2010

O herdeiro de Gilles Villeneuve



Quando vejo o estilo agressivo de Lewis Hamilton em pista, lembro-me de dois pilotos em particular: Gilles Villeneuve e Keke Rosberg. O canadiano descobria sempre um lugar para ultrapassar, por mais improvável que existisse. E lutavam ambos por qualquer lugar, fosse ele o primeiro ou o 14º posto. E sabiam defender de forma forte e justa. Nos anos 80, estes dois senhores foram heróis.

Passaram-se trinta e alguns anos. Os seus filhos passaram pela Formula 1, com saldo relativamente positivos. Jacques Villeneuve foi campeão e arrastou-se, Nico Rosberg está a ter a sua primeira grande chance da sua vida e está a aproveitar, mas ainda não venceu corridas, mas nenhum deles tem a agressividade dos seus pais. Quem a tem, agora, é um rapaz que não tem qualquer background automobilistico: Lewis Hamilton.

O piloto inglês é agressivo em pista, e sabe defender-se dos ataques, aproveitando da superioridade da sua máquina para recuperar posições. Muitos perguntarão que é isso que deve fazer, sabendo do potencial dessa máquina. Mas numa era em que as ultrapassagens em pista são comparadas com o preço do petróleo, especialmente nos "tilkódromos" em dias claros, conseguir recuperar posições em pista, sem se preocupar com o estado ou a durabilidade dos pneus, é um feito.

Contudo, nos dias de hoje, aquilo que seria visto no passado como sinal de coragem e elogiado por muitos, é agora fortemente criticavel. Ao ver as imagens desde video, não entendo porquê, pois quer Rosberg Sr., quer Villeneuve Sr., fizeram coisas destas. E não eram criticados tão fortemente como Hamilton é agora. Aliás, que eu saiba, nunca cometeu qualquer golpe baixo como fez Michael Schumacher em duas ocasiões. E hoje em dia, as pessoas dizem bem do heptacampeão alemão...

Tirando o facto de ser mestiço, e aí iriamos entrar num domínio que não desejo entrar (e pessoalmente acho que quem o faz, é por motivos estupidos e baixos), não vejo nada de criticável no seu comportamento em pista. Houve momentos em que as suas defesas foram penalizadas, mas aí sobressaiu o critério largamente duvidoso dos comissários de pista, todos eles autênticos "campeões da playstation", algo que, julgo eu, terem 99,9 por cento daqueles que pedem para que o britânico seja penalizado. Agora que este ano, a FIA e Jean Todt tiveram a boa ideia de convidar ex-pilotos para esse cargo, está reposta uma certa justiça nesse caso.

Mas ando a desviar-me um pouco do meu propósito. Queria homenagear Gilles Villeneuve em mais um aniversário da sua passagem da vida para a História, e reparamos que aquilo que ficou nas nossas memórias foram as suas ultrapassagens, as suas defesas de posições. Dijon-Prenois 1979, Jarama 1981, Imola 1982... tudo isso foram obra de um homem que fez tudo para conseguir estar na frente do seu adversário, feito de forma regulamentar. E Villeneuve, se forem ver no caso da corrida espanhola, aguentou todo um pelotão com um mau carro, indo de um lado para o outro. E foi criticado na altura, tal como tinha sido criticado em Dijon, até pelos seus próprios pares. Se isto acontecesse hoje em dia, provavelmente o canadiano já teria sido banido da Formula 1...

Hoje em dia fala-se de Gilles com reverência, um mito. Do pai de Nico não se fala muito, mas quando vi os filmes dele nas suas corridas com carros atmosféricos, contra os Turbos, em 1982 e 83, tenho de tirar o chapéu. Ganhei uma enorme admiração por Keke Rosberg, por ser tão bom a correr e pelo seu estilo agressivo, disposto a tudo para chegar lá. E é isso que faz Lewis Hamilton, sem as trapaças que Michael Schumacher.

Se querem ver o espirito de Gilles, olhem para o Lewis. E provavelmente terá uma carreira igualzinha ao do canadiano: correrá por uma equipa na sua carreira.

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