sexta-feira, 25 de junho de 2010

Grand Prix (numero 26, o dia da apresentação)

22 de Janeiro de 1970. Nove da manhã, Silverstone, centro de Inglaterra.

Dezenas de jornalistas e fotógrafos estavam à entrada da sede para ver aquilo que a Apollo, a nova equipa de Pete Aaron, John O'Hara e Michael Delaney tinham para apresentar ao mundo. A apresentação iria ser simples, à frente da fachada do edifício, uma casa de tijolo castanho, com uma placa em fundo verde com letras brancas a dizer "Apollo Racing". Rádio, imprensa, especializada e geral, bem como a televisão estavam presentes no local. A BBC estaria, certamente, bem como alguma TV americana, dado que isto iria ter repercussão no outro lado do Atlântico.

Com o passar dos minutos, os jornalistas iriam ficando impacientes, mas a espera tinha um bom motivo: nem toda a gente lá estava. Pete tinha dormido pouco ou nada na véspera, ansioso por tudo isto, por ter chegado aquele momento. É certo que tinha respirado fundo quando a Goodyear finalmente decidiu que iria assinar o contrato com eles, pois era uma salvaguarda para não ficar tão dependente do dinheiro do whisky O'Hara. Mas para além disso e da noite mal dormida, faltava um grupo de pessoas importantes.

- Eles sabem que horas são?
- Sabem, que vem já a caminho, respondeu Pat, a sua mulher.
- Telefonaste para ele?
- Não, a Sinead ligou-me antes de sairem. Podem ter apanhado transito pelo caminho...
- Diabos, deveria ter feito isto em Londres...
- Deixa estar, o que está feito, está feito, respondeu Michael. É uma questão de minutos.
- Espero que sim, meu caro.

Virou-se para trás e viu uma cara conhecida:

- Então, Dan. Já viste a máquina?
- Vi, e temo que seja revolucionário... se funcionar. O que é aquilo de lado?
- São os depósitos de gasolina. Um pouco maiores que o normal, mas acho que vão nos ser úteis. E confio no nosso projectista, que me fala que tem outra função, aerodinâmica.
- E funciona?
- Funciona. Estivemos a experimentar no túnel de vento do Imperial College. Ganhamos maior aderência à pista, e pelo que diz o meu pequeno "génio", pode ser excelente em curva.
- Já o experimentaram?
- Só ontem, mas foi um "shakedown" para ver se tudo estava em ordem. Hoje faremos outro, e se não houver chatices, teremos dois prontos para Kyalami.
- Espero bem que sim. Desejo-te sorte.
- Obrigado, Dan.

Num canto da fábrica, fumando o seu cigarro, Andrew Bond também estava nervoso, mas algo confiante. Sabia que agora iria ver se todos os cálculos, as noites mal dormidas, o sonho de estar na categoria máxima do automobilismo, aproveitando o novo mundo que a aerodinâmica lhe tinha proporcionado, não lhe iria dar em troca algo cruel. Uma personagem se aproxima, sorridente e com as mãos atrás das costas. Era Dan Gurney.

- Bom dia.
- Bom dia, Mr. Gurney. Sou um grande admirador seu, respondeu algo nervoso.
- Gosto de apreciar os trabalhos dos outros, rapaz.
- Muito obrigado. Gostou do que viu?
- Se aquilo funcionar, é fabuloso. Diz uma coisa, para quê servem aquelas saliências nos lados?
- São os depósitos de gasolina, mas descobri que podem servir para agarrar o carro nas curvas. Acho que é um campo que merece ser explorado, Sr. Gurney.
- Chama-me Dan. Não sou assim tão velho.
- Desculpe... Dan.
- Se a coisa funcionar, poderá dar para vencer corridas?
- Acho que daria um bom carro.
- Hmmm... quero ver isso. Pode ser que exporte a coisa para os Estados Unidos.
- Teria prazer em ajudá-lo, Dan.

Entretanto, nas traseiras da fábrica, surgiam as três pessoas que Pete mais ansiava. Tinham estacionado o seu Jaguar verde nas traseiras da fábrica, evitando os jornalistas que estavam acumulados no outro lado. John, Sinead e Teddy Solana tinham finalmente chegado ao destino, atrasados em relação à hora.

- Lamento o atraso. Apanhamos demasiado trânsito, afirmou John.
- Caramba, eram apenas 25 km, respondeu Pete.
- Que horas são?
- Passa das 9 e meia, respondeu.
- Pelos vistos, estás nervoso... afirmou Teddy.
- Podes crer, delcarou Pete. Trouxeste o fato?
- Claro, está na mala.
- Optimo, vais ser tu a conduzir o carro. Estão lá os mecânicos à tua espera para que tu sentes dentro dele e dês uma volta.
- Eu?
- Sim, para todos os efeitos, ninguém sabe que tu serás nosso piloto.
- OK, sempre vou ver que carro é este.
- Ahhh... e tenta não o estragar, afirmou Aaron à medida em que Solana se afastava rumo ao destino.

Teddy rumou para fora, onde todos esperavam por ele. Ao ver a sua cara ansiosa, perguntou:

- Queres que os avise?
- Sim, diz que vamos começar dentro de cinco minutos.

Sinead rumou para fora do edificio e disse aos presentes que a apresentação seria dentro em breve, e iria ser feito pelo próprio. John pegou na mala que tinha consigo e disse:

- Se tu não te importas, eu também vou vestir o meu fato.
- OK, não há problema, mas despacha-te.
- Não te inquietes, respondeu com um sorriso confiante. Vai tudo correr bem.

Logo a seguir, o grupo rumou para a frente da fábrica. O dia estava claro, sem núvens mas com muito frio. A temperatura rasava os dois graus. Pete e a sua mulher, Dan Gurney e Michael Delaney, Sinead e John O'Hara, este vestido com o seu fato de competição, e o projectista do Apollo AP101, de motor Cosworth V8 de 3 litros.

O dia não fora escolhido ao acaso, pois existiam rumores de que a Jordan aprontava um novo chassis, e este poderia ser algo radical em relação à concorrência de Matra, Ferrari e McLaren, e que pudesse correr já em Kyalami. Ao saberem disto, Pete tentou apressar a conclusão do projecto e acelerou a construção do chassis, para que tivesse as atenções sobre ele, antes de Jordan Jr. mostrar o seu novo carro para 1970. A nova vida de Pete Aaron começava ali e agora, e tudo tinha de correr bem.

Pete deu um passo em frente, para que alguns microfones o pudessem gravar as suas palavras. Pigarreando, começou por discursar:

- Senhoras e senhores, caros amigos. Hoje apresento-vos o nosso novo projecto da Apollo, o primeiro carro feito de raíz da nossa companhia. Esperamos que seja o começo de uma história de sucesso, e que o sucesso que obtivemos inesperadamente na última corrida do ano na Cidade do México tenha sido o primeiro de muitas vitórias da nossa parte. Posso anunciar que eu e os meus associados Michael Delaney e John O'Hara, temos muito orgulho na aventura que começamos agora e que neste ano em que temos por fim o nosso próprio chassis, seja de sucesso.

Depois de um momento de pausa, continuou:

- Este ano, a nossa equipa será constituída por dois elementos. O primeiro é o nosso amigo John O'Hara, enquanto que o segundo piloto, que até agora nada revelamos, vai ser apresentado em conjunto com o novo carro. E isso acontecerá... neste preciso momento.

Pete olha para o relógio e vira-se para trás dando um sinal para dentro da fábrica. Lá dentro, um mecânico dá outro sinal para que na garagem, um dos mecânicos abra a porta da garagem, situada na parte lateral, e outros dois liguem o carro, guiado por Teddy. O moto pegou à primeira, e lentamente, este percorreu os poucos metros em direcção da frente, parando do lado esquerdo para quem estava no enxame de jornalistas, fotógrafos, operadores de câmara e engenheiros de som lá presentes. Quando parou, todos eles vieram ter com ele, tirando o melhor "boneco" possivel. E muitos estavam admirados com a beleza da máquina.

Pete chegou-se e declarou:

- Meus senhores, apresento-vos o Apollo 101, o carro da nossa equipa para 1970. Será dirigido por John O'Hara e pelo nosso segundo piloto, o mexicano Teodoro "Teddy" Solana, que veio da BRM.

Entre si, os jornalistas murmuravam o seu espanto perante uma máquina diferente daquele que normalmente vêm, especialmente aqueles pontões laterais, tão incomuns num carro de Formula 1, e que afirmavam servir como depósito de gasolina, maiores e mais protegidos contra colisões laterais, uma medida extra de segurança, esperavam eles. Os especialistas estavam de boca aberta. E ao observar essas reacções, Andrew Bond simplesmente sorria. Tinha conseguido o primeiro objectivo. O segundo era mais dificil, e estaria à prova a partir do dia 1º de Março, na Africa do Sul.

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