sábado, 17 de julho de 2010

A última batalha de Juan Manuel Fangio

No inicio da década de 90,o governo local decidiu aprovar uma lei que establecia o limite dos oitenta anos às pessoas para ficarem com a carta de condução, findas as quais seria retirada a devida licença. Nem toda a gente aceitava tal coisa, especialmente um argentino ilustre: Juan Manuel Fangio, "El Chueco" (que curiosamente, recebeu esse nome... no futebol, por ter as pernas arqueadas)

O seu 80º aniversário, em 1991, foi celebrado um pouco por todo o mundo e reavivou no resto do mundo a existência do lendário piloto argentino. Era frequentemente convidado para aparecer no estrangeiro, especialmente na Alemanha e no Brasil, onde tinha a oportunidade de conduzir os Mercedes no qual tinha ganho os títulos mundiais de 1954 e 55, em diversas voltas de demonstração. Sempre em forma, sempre sorridente e com o pé pesado no acelerador.

Contudo, na Argentina, normalmente se renova a carta de condução a cada dez anos, e a partir de uma idade avançada, se renova a cada ano. Quando a Direcção Geral de Viação decidiu não renovar a sua carta, decidiu protestar da unca maneira que sabia: conduzindo. Assim, sempre que podia, ia de Buenos Aires a Mar del Plata, um percurso de 400 quilómetros, em cerca de duas horas. E às vezes até menos do que isso... sempre de pedal a fundo, a bordo de um dos seus Mercedes, já que era o representante da marca alemã no seu país.

Após alguns desafios à policia, esta, para evitar embaraços maiores, decidiu renovar, a título excepcional, a sua licença de condução por mais de dez anos, pois se via que estava decisivamente em forma, apesar da sua idade avançada. E enquanto teve saúde, conduzia sempre o seu carro.

Esta foi de facto a última batalha que ele teve na sua vida. Os seus últimos anos foram penosos para ele, dado que sofria de problemas renais, pelo menos desde 1989. Já tinha visto, na sua Balcarce natal, a construção de um museu e de uma pista de corridas com o seu nome, ambos inaugurados em 1986, e tinha sobrevivido à maioria dos seus companheiros de equipa de então, muitos deles autenticos "gentleman drivers" que corriam sabendo dos riscos que tomavam, mas cuja paixão pela velocidade era mais forte. E sendo sensato, nunca pisou o risco o suficiente para acabar como eles, apesar de ter tido acidentes muitos fortes, como o que teve em Monza, em 1952.

Lembro do dia em que foi anunciada a sua morte, faz hoje 15 anos. Os jornais deram destaque, e sabendo eu que ele era uma pessoa doente havia muito tempo. Lembro-me que quando a Formula 1 voltou à Argentina, ele estava tão doente que se temia a sua morte nessa altura e que levasse ao cancelamento da corrida. Felizmente, ele viveu mais quatro meses depois do regresso da Formula 1 ao seu pais natal. Lembro-me também no seu funeral vieram todos os seus amigos e admiradores: Moss, Stewart, Prost, Gonzalez, entre outros.

O legado de Fangio está aí: no Monaco, em Barcelona, no Nurburgring, em Monza e na sede da Mercedes, em Estugarda, todos eles tem uma estátua de "El Chueco", que se tornou em "El Maestro". Y el Maestro vive!

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