segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sobre a polémica Schumacher/Barrichello

Confesso que queria ficar calado por mais tempo, mas os eventos de Domingo - que digo desde já, não assisti em directo - mas no qual tive a oportunidade de ver um ou outro resumo que se providenciou aqui e ali no Youtube e afins (antes que a policia da FOM as surrupiasse...) e claro, todos falam da manobra de Michael Schumacher a Rubens Barrichello no Hungaroring.

Primeiro que tudo: não estou surpreso. Depois de ver vinte anos de carreira do alemão, porque ficaria? Ainda por cima, este é o irónico da situação, estamos a ver os dois veteranos do pelotão, os únicos que correram na actualidade com Alain Prost, Ayrton Senna, Nigel Mansell e Riccardo Patrese, e Barrichello vai disputar (ou já disputou) os 300 Grandes Prémios. Estes dois não deveriam dar o exemplo? Enfim... mesmo que o Schumi venha esta tarde a pedir desculpa pela sua manobra e da FIA o ter penalizado em dez lugares na grelha de partida do GP da Belgica, isso não o fazer passar uma borracha sobre tudo o que passou, ainda mais porque existem muitas pessoas que não o farão esquecer esta e muitas mais manobras do passado.

É certo que os pilotos não estão aqui para fazerem amigos, mas para competir e ganhar. Mas de forma limpa e justa, não fazer manobras a imitar aquela que Ayrton Senna fez a Alain Prost, no GP de Portugal de 1988, é porco. E mesmo eu, que era fã de Senna, sempre odiei esse gesto por parte dele, pois para mim é contra a ética do "fair play".

O mais interessante é que tudo isto foi numa disputa pelo décimo lugar, que a partir deste ano é a nova fronteira da zona pontuável. Mas mais do que ver o que vimos na TV, muitos estão a olhar este caso como mais um dos exemplos de que o seu regresso à Formula 1 fez mais mal do que bem. O risco era esse, e pela terceira vez este ano (as outras duas foram na China e no Canadá), Schumacher passou a corrida a perder lugares do que a ganhar. Os 41 anos não são justificação, o carro não é justificação, e a fase de adaptação já passou, mas as pessoas tem a sensação de que os seus dias de glória foram-se. E em vez de acabar como um Niki Lauda, corre aogra o risco de ter um final de carreira parecido com o de Nigel Mansell...

E não é o homem comum que coloca dúvidas sobre se o regresso de Schumacher faz mais mal do que bem. Até os especialistas, normalmente pessoas ponderadas e reflectidas, sem serem tentadas com as bocas que se mandam nos fóruns de automobilismo, dos "pilotos de sofá", começam a questionar a sua presença, mais do que as suas manobras "à la Dick Dastardly", dos Wacky Races. O ex-piloto Alex Wurz, por exemplo, declarou que "ele sabia perfeitamente o que estava a fazer e fê-lo deliberadamente.", acrescentando que Schumacher "passou os limites de qualquer código de desportivismo." Muitos questionam se ele conhece algum...

Quem não o poupou foi um ex-companheiro seu, Eddie Irvine, que o chamou de "um idiota arrogante". "Foi incrível. Sua manobra foi extremamente idiota e perigosa. Ele não pensou e isso foi pura arrogância dele, que achou que poderia jogar outro piloto para fora", afirmou, em declarações captadas pelo site brasileiro Tazio.

Outra pessoa que gosto muito de ler é o James Allen, que afirma o seguinte: "O incidente reavivou memórias de algumas das suas más atitudes na sua carreira, e poderá simbolizar o regresso de Schumacher à Formula 1, que tem sido bem menos glorioso e competitivo que alguém poderia ter previsto." Pode ser uma maneira dele mostrar que está ali, mas o seu gesto vai ser mal entendido por muita gente. Aliás, mesmo no próprio circuito, houve pessoas que o insultavam à sua passagem pelo paddock. Era disso que tinha saudades?

Quanto ao Rubens, sem pachequismos de qualquer espécie, ele ontem estava rápido, melhor do que o alemão. Aliás, acho que o mau lugar na grelha condicionou o resultado final. Basta ver onde ficou Nico Hulkenberg, que o bateu claramente pela primeira vez este ano. Mesmo com 38 anos e 300 GP's, o Rubens está em forma, para o carro que tem. Definitivamente o melhor dos Cosworth, melhor do que a Sauber e a Toro Rosso, e agora a morder os calcanhares da Force India, é um brasileiro em forma. Só falta um pódio para coroar esta boa época, depois do terceiro lugar no campeonato do ano passado, com a Brawn GP.

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