quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Grand Prix (numero 68, Brands Hatch - a corrida)

Brands Hatch, 18 de Julho de 1970

Após o amanhecer naquelas paragens do sul de Inglaterra, o paddock de Brands Hatch, cheio de tendas e carros montados fora de algumas delas, estavam a ser revistas uma última vez antes de darem as suas voltas de aquecimento para a corrida, cuja partida estava marcada para as duas da tarde locais. O assunto do dia anterior estava nas mentes das pessoas, e os muitos repórteres na pista procuravam avidamente as declarações dos pilotos e dos directores das equipas. Bruce Jordan e Pete Aaron eram visados, mas ainda mais eram pilotos do calibre de Bob Turner ou Philippe de Beaufort, que nada tinha a ver com o assunto, apenas porque era o lider do campeonato.

A ideia de um boicote era uma nuvem negra a pairar sobre as cabeças de muitos, mas o público em geral começava a apoiar as reivindicações dos pilotos por melhor segurança, algo que nos últimos anos começava a entrar nas mentes das pessoas, quando se descobriram os perigos que um carro comum trazia, desde a pouca protecção em caso de colisão até ao mau estado das estradas um pouco por todo o mundo. A sensação de velocidade tornara-se mortal, e começava-se a falar muito de algo como o cinto de segurança...

O tempo estava nublado, mas não ameaçava chuva. Mas antes da corrida já havia uma baixa: após alguns exames, um raio-x revelou que Bob Bedford tinha sofrido uma lesão no pulso esquerdo, suficientemente impeditivo de correr aquele Grande Prémio, reduzindo o numero de qualificados para 19. Assim, segundo os regulamentos, o primeiro não-qualificado ganhou o direito de correr naquele Domingo, com todos abaixo de Bedford a subirem uma posição e o sortudo do dia a ser Manfed Linzmayer que tinha sido o primeiro dos não-qualificados. A poucos minutos da partida, Pete foi falar com Alexandre, que já estava sentado no seu cockpit, prescrutando aqueles que estavam na sua frente: Reinhardt, Beaufort e Van Diemen.

- Como andas?
- A pensar numa maneira de passar estes três que estão à minha frente...
- Tem calma, precisamos que pontues nesta corrida.
- OK. Mas se a oportunidade aparecer, não vou desperdiçar.
- É a nossa primeira vez depois do que aconteceu ao John. Estamos em máxima força, mas dá jeito que todos nós cheguemos ao fim, Alex.
- Está bem, eu entendi.
- E de resto, como andas?
- Eu e a Teresa decidimos dar um tempo. Fora disso, tudo bem.
- Ah é? Porquê?
- Trabalhamos, Pete. Estamos em mundos diferentes e se formos ver bem, nestas circunstâncias, não resultaria. Mas...
- Mas o quê?
- Nada... isso passa. Quero é ganhar a corrida. Depois falamos.
- Eu quero é que tu chegues ao fim e tenhas calma. Não somos candidatos ao título.
- Eu sei. Quero é mostrar-me.
- A melhor maneira de tu te mostrares é chegar ao fim vivo. Nesta e noutras corridas. Precisamos de ti vivo, porque começo a convencer-me que tu tens potencial para ser campeão do mundo. Mas para o ser, tens de sobreviver.

Pete deu uma palmada no ombro e foi ter com Teddy Solana, um pouco mais abaixo na grelha. Alexandre ficou a pensar naquilo que ele disse, e em todos os eventos daqueles dias. De repente, algo dentro dele fez um "click" e no momento em que se concentrou na corrida, sentiu que a sua concentração ia para além de tudo que tinha experimentado.

O sinal de que faltava um minuto foi mostrado no meio da pista, e os elementos das equipas começaram a sair, limpando-a. Depois todos olhavam para o pódio onde estava o presidente a RAC, com a bandeira britânica na mão, enquanto contavam os segundos. As máquinas rugiam cada vez mais alto, nas rotações máximas até ao momento em que ele deixou cair a bandeira, dando sinal de partida.

Quando largaram, o piloto mais à esquerda na primeira fila, Patrick Van Diemen, largou melhor que Reinhardt e Beaufort e tomou conta da liderança, à medida que os pilotos faziam a Paddock Hill Bend e se dirigiam para a curva Druids. Monforte aproveitou bem a má largada de Reinhardt e passou para o terceiro posto, não tentando passar Beaufort, quando viu que não tinha espaço suficiente para a manobra. Atrás, tudo correra bem, enquanto que Reinhardt tinha caido de primeiro para sexto, ao ser suplantado por Bernardini e Kahola.

Com o passar das primeiras sete voltas, Van Diemen tentava afastar-se de Beaufort, enquanto que Monforte os observava, numa distância suficientemente curta para os ver, mas demasiadamente longa para os atacar. Mais atrás, Bernardini era mais um tampão para Reinhardt e Kahola, que começava a lutar contra um carro que começava a ser datado para os pilotos da frente e era ameaçado por Solana, Carpentier, Hocking, De Villiers, Turner, Revson e o "rookie" Medeiros. Na oitava volta, o Matra de Brasseur, a arrastar-se desde o inicio devido a problemas com o motor Matra V12, encosta à boxe e abandona de vez, e duas voltas mais tarde, era o McLaren de Gurney a sofrer com o mesmo problema. E Van Diemen afastava-se de Beaufort no seu V12 italiano, a cada passagem pela meta.

- Querem ver que temos novo elemento na luta pelo título? perguntava Arthur.
- Van Diemen é mais um elemento do que propriamente um candidato. Os candidatos são Beaufort e Reinardt. Alex, como vão eles?
- 18.3 para Monforte, 18.9 para Teddy, 19.5 para De Villiers. Andam bem, parece que o ele se livrou do Hocking e o Teddy apanhou o finlandês.
- Os Temples, mesmo com novos carros, parecem ser menos rápidos... disse Arthur.
- Não convêm as criaturas baterem o criador... respondeu Pete.

As voltas passavam, e na frente era uma batalha de dois, com um terceiro a ver, cada vez mais afastados de outro grupo, cuja tarefa naquela altura era de passar o Ferrari de Bernardini. Reinhardt conseguiu cedo, mas Kahola tinha dificuldades em passar o italiano, e ainda por cima, era pressionado por Carpentier, Solana e o resto do pelotão. Na abordagem à Curva Druids, o finlandês parecia ter perdido a paciência e tentou uma manobra arriscada... no preciso momento em que Toino Bernardini "fecha a porta". O toque foi inevitável: o carro de Bernardini levanta momentaneamente vôo, e quando aterra, a roda frente direita é arrancada e bate de seguida no guard-rail na saida da curva.

Como a velocidade era baixa, não houve consequências humanas. Quando a Antti Kahola, tentou andar mais alguns metros, mas o eixo estava torcido o suficiente para entender que aquela corrida tinha acabado para ele. No fundo da recta, a descer, o finlandês encostou o seu carro e saiu dela, lamentando que a sua corrida tenha acabado ali, vitima da sua própria impaciência. Estávamos na volta 22.
Atrás deles, ninguém ficou afectado pelo incidente, mas as bandeiras amarelas foram mostradas durante algum tempo, avisando os objecto que estava em pista e da respectiva proibição de fazer qualquer manobra arriscada naquele local. O carro de Bernardini só seria retirado no final da corrida, mas os comissários conseguiram colocá-lo numa posição que não oferecesse perigo.

Mas para a Ferrari, o golpe mais fundo aconteceria na volta 35, quando Van Diemen já tinha conseguido dez segundos de avanço sobre Beaufort. De repente, quando fazia a Stirlings Bend, um fumo cinzento começava a surgir de trás do seu carro e o motor perdia a sua potência, calando-se até. A inércia, pois aquela zona era a descer, fez com que andasse até às boxes e abandonasse ali mesmo, causando sensação nas bancadas e um novo interesse na corrida. E após o aviso nas boxes, o Apollo de Monforte, que nunca esteve mais longe de Beaufort do que dois segundos, aumentou o seu ritmo.

(continua)

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