terça-feira, 26 de outubro de 2010

Grand Prix (numero 94 - Watkins Glen IV)

(continuação do capitulo anterior)

Nos primeiros metros, via-se que a pista estava ainda húmida, e em algumas partes, ainda se via algumas poças de água. Os Apollo, Ferrari e Matra arrancavam com pneus para seco, mas haviam duas pessoas que queriam aproveitar a situação: o BRM do sueco Anders Gustafsson e o Jordan de Pieter Reinhardt. Nos primeiros metros, Reinhardt fez a curva no quarto posto, atrás do Ferrari de Van Diemen e dos Apollo, e nas duas curvas seguintes, ele conseguiu ultrapassar os restantes pilotos, ficando na liderança. Ainda mais atrás, o mesmo se passava com Gustafsson, que decidiu arriscar, ao contrário do veterano Bob Turner, que decidiu ir com os secos, pois não tinha intenção de parar. Assim, Gustafsson teve um arranque canhão, ficando atrás de Reinhardt e começou a segui-lo, acabando a primeira volta atrás do piloto alemão, enquanto que ambos começavam a cavar uma grande diferença. No inicio da segunda volta, o sueco usou a maior potência do seu motor e passou Reinhardt, para assumir a liderança, e tentou acelerar o mais que podia para se livrar do piloto alemão.

Mas a largada teve um momento arrepiante: Pedro Medeiros, que largava com os secos, escorregou demasiado ao carregar o pé no acelerador e atravessou-se. Muitos tentaram evitá-lo, mas não o Temple-Jordan de Brian Hocking, o McLaren de e o Levesque-Jordan de Stefan Levesque. As colisões foram a baixa velocidade, e tirando o Jordan de Medeiros, que ficou no muro das boxes, todos ficaram fora da pista. Os comissários tiveram trabalho para recolher o máximo de destroços possível, antes que os carros passassem de novo pela meta. Os três correram para as boxes, esperando por bandeiras vermelhas, mas o director de prova, estranhamente, não a mostrou, apenas colocou bandeiras amarelas na zona. Ninguém entendia esta decisão, e alguns directores reclamavam.

- Mas que raio... o carro do Medeiros está ali, encostado à parede. É um perigo! disse Pete.
- Confesso não entender muito bem, respondeu Alex Sherwood. A trajectória está limpa, mas ter aquilo ali é um perigo, nestas condições. Supomos que um dos carros se despista?
- Convence-o a parar a prova, disse Alex.
- Já estão outros a fazê-lo, respondeu Pete, virando os olhos para o pódio.

De facto, era assim. Bruce Jordan e Mauro Forgheri discutiam com o director de prova para que colocasse uma bandeira vermelha para interromper a corrida, alegando a presença de objectos na pista e o estado do asfalto. Ele retorquia que o asfalto estava praticamente seco e que havia uma trajectória que permitia a passagem dos carros, e só mostraria tal coisa se isso não acontecesse. Daí ter pedido que agitassem as bandeiras amarelas, para impedir as ultrapassagens naquela zona.

Entretanto, nas oito voltas seguintes, a diferença de Gustafsson para o resto do pelotão era de dois segundos por volta. Ele voava naquela pista ainda molhada, mas começava a ver que os outros pilotos já abriam um corredor seco, uma trajectória que eles aproveitavam. Gustafsson começava a sentir dificuldades, e já ia às partes molhadas para arrefecer os pneus. A sua diferença tinha chegado aos doze segundos ao final da oitava volta, mas já tinha estabilizado e começava a ficar em perda ao final da décima passagem pela meta, quando Reinhardt, que estava atrás, mas apenas a quatro segundos de De Villiers. Assim, o alemão foi às boxes, substituir os pneus.

Ao ver a movimentação nas boxes, Pete e Alex diziam:

- Aparentemente, não compensou.
- Se não chover mais, sim. Ele vai perder muito tempo e muitos segundos, digo eu.

A mudança de pneus para seco por parte de Pieter Reinhardt durou quase 30 segundos, e assim o seu segundo lugar estava mais do que perdido. Quando ele disparou em direcção à pista, restava saber em que lugar estava em relação aos outros. Muitos apostavam que deveria estar para além do décimo posto... e não falharam.

À passagem da décima volta, dois carros lutavam por uma posição na entrada da recta da meta. Eram o Matra de Pierre Brasseur e o Jordan de Pieter Reinhardt, que tentava fazer uma corrida de recuperação. Com o novato francês na frente, sentia a pressão do alemão e estava sujeito a um erro, dadas as armadilhas que a pista ainda tinha, por causa das zonas molhadas. Quando Brasseur acelerou para a meta, carregou demais e entrou em despiste, mesmo à frente de Reinhardt... e a colisão foi inevitável. E desta vez, os dois carros estavam no meio da pista, e esta tinha virado um "slalom" digno de um rali. O director colocou imediatamente a bandeira vermelha, para alivio de todos.

- Já não era sem tempo, disse Michael Delaney.
- Pois, mas foi à custa de novo acidente, respondeu Alex Sherwood.

Os carros abrandaram no inicio da meta, para depois pararem por comleto. Para Gustafsson, esta tinha sido uma benção dos céus, pois já teria de ir às boxes mais cedo ou mais tarde para colocar pneus para seco, pois estes já perdiam a sua eficacia, e a sua vantagem, que tinha sido de doze segundos, naquela altura tinha diminuido para metade, com os dois Apollo e o Ferrari de Van Diemen logo atrás. Depois vinham Turner, Guarini, Carpentier, Bernardini, Kalhola e Revson.

Durante quase meia hora, os comissários limparam os destroços, tiraram os carros acidentados da pista e no caso de Brasseur e Reinhardt, tentaram repará-los para os colocar de novo em prova, mas cedo viram que não podiam fazê-lo naquele tempo concedido, pois tinha havido elementos da suspensão arrancados em ambos os carros. Assim, os dois pilotos iriam ver o resto da corrida nas boxes.

A BRM meteu pneus novos, de piso seco, para Anders Gustafsson, mas ele agora tinha uma dificuldade: a sua equipa tinha Dunlap, e ele não tinha os novos "slicks" que Ferrari e Apollo tinham, logo, tinha de confiar na potência do seu carro para tentar manter o primeiro posto. Uma operação complicada para ele...

Passada meia hora, o comissário ergueu a bandeira verde e reiniciou a corrida. Os esforços de Gustafsson para aguentar os outros pilotos compensaram, pois com pneus frescos e a sua potência, conseguiu manter-se no comando ao final da primeira volta da segunda partida, a 11ª da corrida. A segunda largada não aconteceu sem incidentes, pois quando Bernardini meteu a terceira velocidade na sua caixa de velocidaes, esta se espalou no circuito... duas voltas depois, cansou-se de lutar contra ela e encostava às boxes de vez.

Enquanto isso se sucedia, na frente, Monforte aproveitou bem a partida para passar de Villiers e partir em perseguição a Gustafsson. Os carros de Pete Aaron controlavam a situação, com o novato sul-africano a controlar o belga, enquanto que Monforte partia em perseguição do sueco, começando uma luta para fazer cair paulatinamente a volta mais rápida. Gustafsson, por muito que tentasse, não conseguia afastar o suficiente para se livrar de Monforte, que via ao seu espelho que De Viliers e Van Diemen não estavam muito longe. Era uma batalha a quatro, e atrás deles estavam o BRM de Turner, o Ferrari de Guarini, o Apollo de Solana - que partira mal e perdera algumas posições - o Matra de Carpentier, o Jordan de Kalhola e o terceiro BRM de Molina.

- Bolas, não deu jeito o Solana ter perdido tempo na partida. Afastou-se de Van Diemen e agora tem o Guarini mesmo atrás dele.
- Ainda temos dois carros na frente, Pete, disse Alex Sherwood.
- Isso e verdade, mas dava jeito ele estar pelo menos em cima do belga.

À medida que as voltas passavam, a pista já estava totalmente seca. Mas agora o tempo tinha-se fechado e as nuvens cobriam o céu, ameaçando chuva. Até à volta 25, não tinha havido nada de interessante na corrida, a não ser tentativas de ultrapassagens e um fumo branco a sair da traseira do BRM de Molina, devido a um motor rebentado, na volta 23. E duas voltas depois, o mesmo se passava com Bob Turner, que mal viu fumo no espelho, encostou o carro à berma e caminhou a pé para as boxes.

Na volta 27, Solana consegue passar Guarini e sobe para o quinto posto, partindo ao ataque de Van Diemen, mas três voltas mais tarde, sai largo de uma curva e entra em pião, indo de um lado para o outro. Mas miraculosamente, não bate em Guarini nem toca nos rails de protecção. Volta o carro para a posição normal, mas tinha perdido segundos preciosos, e tinha de voltar de novo a atacar Guarini e Carpentier, que o tinham passado.

Quando ouviu o que se passava, Pete não gostou do que ouvira, especialmente porque vira os BRM a explodir e temia que com o ritmo imposto, eles poderiam não aguentar.

- Bolas, o Teddy não pode ficar atras destes dois. Tem de aumentar o ritmo.
- Temos de ver como ficaram os pneus depois disto.
- É verdade, é verdade... podem ser mais frágeis.
- Não sei responder a essa pergunta, respondeu o responsável da Greatyear, que também estava no muro. Quero acreditar que tudo correrá bem.

Infelizmente, não foi assim. Solana perdera aderência quando acelerou na volta à pista e estes ficaram mais frágeis. E na volta 38, um dos pneus traseiros furou, loge das boxes, e ele tentou arrastar o carro até lá. Conseguira, mas a suspensão afetada ficou demasiado dobrada para poder correr. Após uma volta na pista, Teddy verificou que o carro tinha perdido o seu equilibrio anterior e encostou de vez nas boxes. A corrida do mexicano chegara ao seu fim.

Na frente, eram os quatro do costume: Gustafsson, Monforte, De Villiers e Van Diemen. Nâo estavam afastados em mais de oito segundos, mas esses quatro já tinham dado quase vinte a Guarini e Carpentier. O ritmo continuava elevado e nenhum dava sinais de abrandamento, quando foi mostrada a placa da volta 42. E então... tudo acontece. Primeiro, Monforte aproxima-se o suficiente para fazer uma ultrapassagem a Gustafsson, próximo da meta. O sildavo a faz na travagem, quando ambos os carros ficam lado a lado e ele faz a manobra de forma limpa. O pessoal das boxes viu a manobra ao vivo e celebraram efusivamente.

- Boa, boa! exultou Pete.
- Deste já se livrou, respondeu Alex Sherwood.
- Agora falta o resto, dava jeito o carro do Van Diemen quebrar agora, segredou Pete.

E falando no Diabo... de repente, um dos cilindros do Ferrari deixa de funcionar, e uma sequência de eventos em cadeia acontecem. O motor começa a funcionar mal e os componentes começam a quebrar, um a um. Em poucos segundos, o motor entrega a sua alma ao Criador, sem fumos nem espectáculo, apenas os fluídos a espalharem-se no chão e este a fazer um último ruído antes de se calar para sempre. A bordo de um carro sem controlo, Van Diemen sente que está tudo perdido, quando fica dependente da gravidade. Vê os carros a passarem ao seu lado, encosta à berma e para. Suspira bem fundo, desaperta os cintos e vai-se embora de vez. O título... já era. Deixara de ser seu e passava para as mãos de um fantasma.

Aquele momento tinha visto o Commendatore na sua sala de jantar, já era noite dentro em Itália. Com um candeeiro solitário a fazer-lhe companhia, estava sozinho a ver na sua TV a cores o GP dos Estados Unidos, que era provavelmente a única coisa que via dessa forma. Quando as câmaras mostraram o seu carro parado na berma, largou um suspiro, disse entre dentes um "perduto quest'anno". A seguir, levantou-se, desligou a televisão e foi dormir.

(continua)

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