terça-feira, 23 de novembro de 2010

Valência ou o uso de dinheiro público no automobilismo

Sabe-se que Valencia não é um circuito interessante. Para mim é só paisagem e pouco mais. E ainda por cima nunca compreendi a razão para ter um circuito de rua numa cidade que tem um circuito como o Riacrdo Tormo... se calhar é uma excentricidade. Contudo, fala-se desde há algum tempo de que o acordo com a FOM pode ter envolvido um esquema de corrupção dentro da Generalitat valenciana, nunca foi devidamente provado. E hoje surgem noticias de que o governo regional pode ter dito "basta" à FOM e Bernie Ecclestone e que não procurará renovar o contrato depois de 2013.

Segundo o site francês Tommorow News, o governo regional achou que os números que Ecclestone pede são demasiado exorbitantes numa era de crise (18 milhões de euros por ano, no total de 30 milhões que a Generalitat gasta para organizar o Grande Prémio). E desses 30 milhões, as receitas directas andam à volta dos dez milhões, já que não atrai muita gente ao circuito... Joe Saward acrescenta hoje no seu blog que existem rumores de que a própria Generalitat anda a falhar nos pagamentos, dando ideia de que, ou tem problemas de tesouraria, ou que começa a ver que isto é uma dor de cabeça maior do que esperavam.

Mas isto pode ser visto como uma manobra politica por parte da oposição local. Em Valencia está no poder o Partido Popular, conservadora, e Francisco Camps, o seu presidente, usou o GP valenciano como trunfo eleitoral para manter-se no poder. Se for a noticia foi colocada dessa maneira, então posso compreender essa coisa usando uma comparação nacional: o circuito da Boavista, no Porto.

Nesta altura, a câmara municipal é ocupada por Rui Rio, do Partido Social Democrata, de centro-direita, e amante de automóveis. Foi ele que reavivou o circuito em 2005, depois de anos inactivo, para além de ter trazido para Portugal a Red Bull Air Race. E a oposição de esquerda afirma que isso foi à custa da cortes na Cultura, por exemplo, e que muito provavelmente acabaria com o circuito, caso chegassem ao poder. E não falamos de tostões: quatro milhões de euros, para ser mais preciso. Mas ao contrário de Valencia, Boavista é organizada a cada dois anos...

Em suma, mais do que uma questão financeira, falamos de uma questão politica e da questão do uso dos dinheiros públicos. E é verdade: grande parte - senão todos os Grandes Prémios - são financiados pelo Estado, e numa era de crise financeira, este tipo de gastos públicos são altamente escrutinados, ainda mais que este fim de semana tivemos a intervenção do FMI na Irlanda para endireitar as desequilibradas contas públicas do ex-"tigre celta"...

Já agora, para finalizar, as noticias falam que a FOM pensa em alternativas, entre o novo circuito de Alcainz e o Autódromo de Portimão, no Algarve. Quererão eles entrar no jogo de Bernie Ecclestone e pagar 30 milhões por ano para ter a categoria máxima do automobilismo?

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