domingo, 6 de fevereiro de 2011

O homem que adora automobilismo

Hoje sinto-me triste. É um dia triste para esta modalidade que tanto amamos, pois acho que todos os que adoram automobilismo, gostam dos bons pilotos, independemtemente da sua nacionalidade. E para mim, Robert Kubica é um desses mesmo bons, porque pertence a essa classe rara que são os que adoram estar dentro de um carro e sentir a velocidade.

À hora em que escrevo estas linhas, os médicos dizem que conseguiram reconstruir a sua mão direita, gravemente afetada pelo rail que entrou pelo seu Skoda Fábia S2000 adentro. Segundo eles, caso a sua mão sare dos ferimentos, eles dizem que poderá ter um ano de recuperação pela frente, significando que provavelmente, a temporada de 2011 está descartada para o piloto de 26 anos. E não descartam que a mão dele esteja já salva. Compreendo a cautela dos médicos, afirnal é uma operação delicada, que durou sete horas.

Ao longo do dia que passou, comecei a ler as noticias e as reações sobre o seu acidente. Confesso que já estava triste com o que aconteceu, mas isso virou raiva quando comecei a ler certas noticias, de certa imprensa, que já "atiravam" Bruno Senna como o seu substituto natural. Se isso já me tinha posto mal disposto, imaginem como fiquei quando li comentários de pessoas celebrando o feito! Fazem-me lembrar a reação que Michael Schumacher teve no final do Grande Prémio de San Marino de 1994. Esses, que alegam "gostar de Formula 1" francamente, são desprezíveis. Mas infelizmente temos de aturar cretinos desse calibre. Existem um pouco por todo o mundo e são do mesmo tipo que, por exemplo, atacam Lewis Hamilton...

Também já ouvi pessoas que criticaram o fato de Kubica correr em ralis, enquanto tem um contrato numa equipa de Formula 1. Essas pessoas devem ter certamente menos de trinta anos - se calhar menos de vinte - e não se lembram de como eram as coisas até meados dos anos 80. A Formula 1 não era um clube exclusivo, não guiavam vinte corridas por ano e não ganhavam vinte milhões de dólares por ano. Ganhavam muito pouco, nos valores de hoje, e corriam nos mais variados campeonatos. A Endurance, por exemplo, ou os Turismos. Participavam frequentemente em provas como as 12 Hotras de Sebring ou as 24 horas de Le Mans, aliás, quando um piloto assinava pela Ferrari, mesmo sendo piloto de Formula 1, tinha também de ajudar a equipa na Endurance. Foi assim que pilotos como Phil Hill, Jacky Ickx ou Mario Andretti enriqueceram o seu palmarés nos anos 60 e 70.

Somente após os acidentes mortais de Manfred Winkelhock e de Stefan Bellof, bem como os acidentes graves de Jonathan Palmer e Marc Surer, este último num rali de asfalto na Alemanha, e que as equipas começaram a colocar clausulas de exclusividade nos seus pilotos, e que as provas de Formula 1 começaram a coincidir com outras provas importantes no automobilismo como as 24 Horas de Le Mans ou as 500 Milhas de Indianápolis. E agora, 25 anos dpeois disso acontecer, já se começava a relaxar nessa campo. Primeiro, Kimi Raikonnen e agora Robert Kubica.

Nos dias que aí vêm, toda a gente quererá escalpelizar este incidente. Tal como aconteceu em Agosto de 2009, iremos ler pela blogosfera fora muitos histerismos sobre o fato de porque é que a Renault deixou, por exemplo, Kubica a fazer ralis. Só para informar, o fato é que essa clausula existe porque foi ele que a exigiu. Ele adora ralis e ele sempre teve a ideia de que, um dia, quando a sua carreira nas pistas estivesse terminada, desse o salto para o outro lado, como fez Kimi Raikonnen em 2010. Acima de tudo, ele exigiu essa clausula porque adora o automobilismo.

E no caso do finlandês, a cada dia que passa, sinto que ele não tem saudades das pistas. Não acredito, como se calhar alguns pensam agora, que ele vá para a Renault, porque tem a sua vida feita. Acabou de criar a sua própria equipa e tem a sua mente virada para os ralis. E se ainda pensam nisso, então direi que essas pessoas ainda não acreditam ou passam um atestado de menoridade ao próprio Kimi.

Se as pessoas querem "xingar" sobre isso, sugiro também que reclamem sobre o fato de guiarem os seus aviões ou helicópteros privados, que muitos fazem. Há vinte anos, Alessandro Nannini terminou a sua carreira na Formula 1 porque decidiu experimentar o seu helicóptero recém adquirido, e tinha licença para voar. Para não falar de como é que Colin McRae terminou sua existência, em 2007.

No final, só quero dizer que Robert Kubica teve hoje um azar tremendo. Se no embate de hoje, aquele rail não tivesse entrado pelo carro dentro, só lamentaria a chapa partida. A noticia aparecia num canto e a vida continuava. Nestas coisas é uma questão de sorte ou azar, tal como saimos de casa e escoregamos numa casca de banana. Foi também um azar o que aconteceu ano e meio antes, com Felipe Massa. Os esquecidos certamente já varreram isto das suas cabeças, especialmente os mais histéricos, mas nos primeiros momentos se falaram de coisas como "risco de vida" ou "coma profundo" no caso de Felipe Massa, alimentada por uma imprensa apressada. Tudo alarmismos, como acabamos por ver depois. O brasileiro está aí pelas curvas e este ano tem a oportunidade de mostrar que não é um "1C" na Scuderia.

Por mim, digo isto: eu quero agora que este homem volte à Formula 1. De preferência inteiro. Forza Robert!

1 comentário:

Paulo Levi disse...

Concordo totalmente com a sua análise. Além de ser um dos três melhores pilotos da atualidade, Kubica tem um amor pelo esporte difícil de se encontrar na F1 atual. Também concordo que teve muito azar nesse acidente. E acima de tudo, deploro a atitude desses especuladores de plantão. (Aliás, acho que toda essa sofreguidão só irá prejudicar aos pretensos substitutos.)

Dito isso, só me resta fazer coro com vocês e desejar ao bravo Kubica um rápido e completo restabelecimento. Forza, Robert!