quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Recordando Jean Behra

Se estivesse vivo, estaria a fazer agora 90 anos. Era baixo, moreno e de temperamento rude. Combativo na pista, tinha os seus dias de génio e de louco. Era assim Jean Behra.

Já fiz uma biografia dele, em 2008. Teve de esperar pelo final da II Guerra Mundial para começar a correr e andou pelas motos antes de experimentar os automóveis. Na Formula 1 correu pela Gordini, Maserati, BRM e Ferrari. Teve até um bom começo, subindo ao pódio no GP da Suiça de 1952, mas oficialmente só teve mais oito pódios, nunca ganhando qualquer corrida.

Na altura em que a fiz, desconhecia a existência de uma fotografia que me impressionou bastante. Vi pela primeira vez no sitio do Daniel Médici, o sempre exclente Cadernos do Automobilismo. Deveria ser de fins de 1957, inicios de 1958, e mostra uma foto dele com todas as suas cicatrizes. E eram imensas. A lista ia em 22 cicatrizes, todas em ocasiões diferentes entre 1952 e 57. Carrera Panamericana, Tourist Trophy, Mille Miglia, GP de Caracas... corridas de Sport e de longa distância do qual escapou uma e outra vez da morte, mas penou para recuperar a sua forma e entrar de novo dentro de um carro.

Uma ironia que Behra detêm é que sendo um piloto regular, nunca ganhou. Sendo um dos poucos franceses competitivos, fica-se espantado por saber que tenha sido Maurice Trintignant, mais velho do que ele, sido o primeiro vencedor francês. E no Mónaco, ainda por cima. Não sei se foi essa frustração, entre outros, que levou a que se zangasse fortemente com Romolo Tavoni, o diretor desportivo da Ferrari, após a sua desistência do GP de França. Sabendo-se que Ferrari pressionava toda a gente até ao limite, quer a pilotos, quer a engenheiros e demais pessoal, de uma certa maneira, perdeu a paciência e socou-o. Como socar Tavoni foi o mesmo que socar Enzo Ferrari, foi sumariamente despedido.

Claro, não ficou parado. Decidiu até criar a sua própria equipa, o seu próprio chassis. Graças à sua amizade com Valerio Colotti, fez um chassis e colocou um motor Porsche. A sua primeira corrida deveria ser no ultra-veloz circuito de Avus, que naquele ano iria receber o GP da Alemanha. Contudo, Behra nunca o experimentou nessa corrida: participando numa prova de Sport, perdeu o controle do seu carro numa das curvas e ali, a sua sorte acabou no momento em que bateu a cabeça num poste.

No seu funeral, em Marselha, Maurice Trintignant fez um apelo aos jovens franceses para que "defendessem as cores francesas no automobilismo internacional". Vinte anos depois, esses jovens franceses tinham ouvido o apelo e estavam em peso nas grelhas de partida um pouco por todas as categorias de automobilismo.

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