sexta-feira, 4 de março de 2011

O meu tributo a Jim Clark

Dear Jim Clark:

Eu hoje já deveria ter colocado uma biografia tua no site onde costumo escrever, mas o servidor esteve em baixo durante grande parte da noite, e só mais logo é que te farei a devida homenagem aos teus feitos e à tua carreira. Mas até lá, acho que te devo escrever isto para dizer o que sinto por ti, agora que li tanta coisa sobre ti, pois nasci depois de tu morreres, logo, nunca te vi correr ao vivo. E se estivesses na mesma dimensão do que eu, comemorarias um numero redondo: 75 anos!

Pelo que todos me contam, eras um piloto que simplesmente sabias ser constante. Os teus limites estavam um pouco mais acima dos outros e era por isso que acabavas por dominar as corridas. Os teus pares admiravam-te e respeitavam-te, num tempo em que qualquer erro era fatal. Nâo os cometias, e sempre que tinhas um acidente, a culpa era da máquina. Aliás, foi isso que aconteceu quando tu morreste: o pneu furou a alta velocidade e tu tentaste controlá-lo o mais que pudeste até que bateste contra uma árvore. Terias sobrevivido se existissem rails de proteção nessa área...

O que tu querias era correr. Eras feliz a fazer isso. Tinhas um dom para pegar num carro e acelerar, afinavas o carro ao ponto de tirar o melhor dele e bateres os adversários. Tinhas uma confiança cega em Colin Chapman, o homem que desenhava e construia os teus carros, e tu simplesmente melhoravas esses teus carros ao ponto deles terem o seu devido lugar na história.

Não gostavas do estrelato. Para ti o que importava era correr e fazer bem o teu trabalho. Depois voltavas à tua Duns natal e ias cuidar da quinta dos teus pais e descansavas lá nos Invernos. Mais tarde, quando começaste a ganhar dinheiro com o automobilismo e quando o governo britânico queria ficar com boa parte do teu salário, decidiste ir viver para Paris e gozar um pouco a tua vida, regressando ao outro lado do Canal somente para correr e testar, bem como passar uns dias com a tua familia. Aliás, em vez de teres ido parar a Hockenheim, deverias estar naquele dia fatal de abril em Brands Hatch a correr uma prova de GT...

Ficavas incomodado se alguém te criticasse. Eras perfeccionista e consideravas as criticas como ataques ao teu carácter. Ficaste ressentido durante muito tempo quando te culparam pelo acidente que matou Wolfgang Von Trips e mais catorze pessoas no GP de Itália de 1961. Tu sempre defendeste aquilo como um infeliz acidente de corrida e foi isso que depois foi visto: apenas um mero contato entre vocês dois, do qual o alemão perdeu o controlo do seu Ferrari e foi direito aos espetadores. Tu não mataste ninguém, apenas foi um mau dia. O assédio que te fizeram sobre essa corrida fez-te modificar o teu caráter e a ver que nem tudo era idilico e perfeito.

Mas depois provaste pelas corridas e pelas vitórias aquilo que eras. E ainda foste à América e ajudar a mostrar aos locais que ter um motor atrás é melhor do que os ter à frente. Indianápolis tinha o melhor "prize-money" do mundo e tu ajudaste Chapman a agarrá-la, ajudando também a modificar para sempre a mentalidade dos locais. Nunca um estrangeiro marcou tanto como tu e ganhaste o respeito de todos na USAC. Teve de se esperar mais trinta anos para ver outro estrangeiro a marcar as competições e era como tu: outro ex-campeão de Formula 1 e também passou pela Lotus.

Não sei se tiveste tempo de o entender, mas o teu fim fisico simbolizou o final de uma era na Formula 1. A força mecânica passou para a força aerodinâmica e chegaste a ver esses primeiros passos. Foste o primeiro a experimentar uma asa no teu carro, ainda correste com patrocinadores no teu carro, um grande negócio que o Colin Chapman arranjou logo que soube da liberalização das cores nas carenagens, mas não chegaste a ver o resto: caso tivesses vivido mais uns cinco anos, não terias reconhecido os carros do pelotão, cheios de asas e enormes entradas de ar. E depois tornaram-se mais rápidos em curva, travaram mais tarde, ficaram mais fortes e seguros. É, caro Jim, foste embora logo no momento em que isto ia dar uma grande volta... mais conseguiste ver alguns desses sinais de mudança.

Hoje em dia isto está tudo mudado. Não irias reconhecer estes carros, não irias reconhecer este automobilismo. Digo-te já, sentirias-te deslocado. Tu, que eras um agricultor que gostava de correr aos fins de semana, conseguiste ter uma grande vida. Curta, mas grande. E granjeaste admiradores que, geração após geração, vão te conhecendo e vão te admirando pelos teus feitos em pista. Afinal de contas, não conhecem muita gente que tenha conseguido recuperar uma volta inteira e ficar na liderança como aquele GP de Itália de 1967, não é?...

Onde quer que estejas, mando-te um abraço. Cheers, Jim!

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