quinta-feira, 14 de abril de 2011

5ª Coluna: avisos à navegação, possiveis sinais do futuro

Apesar de irmos apenas para a corrida três do campeonato mundial de 2011, parece que começa a ser altura ideal de falar sobre as equipas que não arrancaram muito bem, pois nada dramático irá ocorrer na performance delas, pelo menos antes destas começarem a correr na Europa. Falo da Ferrari e da Mercedes, que estão a ter performances muito abaixo do esperado.

Esperava-se que a Ferrari estivesse pelo menos no segundo lugar em termos de performances, atrás da Red Bull. Contudo, a McLaren foi superiora à Ferrari de forma que surpreendeu toda a gente, o que fez uns a pensar que eles esconderam muito bem o jogo, ou então conseguiram detetar os problemas e corrigi-los a tempo da primeira prova do ano, em Melbourne. O fato de eles terem incomodado a Red Bull ao ponto destes usarem o KERS para conseguir superar a ameaça Hamilton/Button na Malásia, demonstra que por aqui, a equipa de Woking será a grande rival dos energéticos de Salzburgo.

Mas se a McLaren será a equipa que tentará bater a Red Bull, o que faz a Ferrari? Pois bem, a imprensa especializada fala das campainhas de alarme que já se tocam há muito em Maranello, e as várias reuniões em que os responsáveis da Scuderia estão a ter para resolver a diferença que tem para a Red Bull, McLaren e imagine-se: Renault. Viu-se na Malásia que a Ferrari ainda não subiu ao pódio, e a marca cuja propriedade é de todos conhecida e as suas dificuldades em arranjar financiamento são públicas, já conseguiu dar um pódio a cada um dos seus pilotos...

Aparentemente, tentam-se diagnosticar os problemas que eles andam a ter neste inicio de temporada, mas se as performances dos pilotos poderão disfarçar o problema (umas vezes para o melhor, outras para o pior), parece que o chassis poderá ser o grande problema da Scuderia, mais do que os erros dos pilotos, o desgaste dos pneus ou o mau funcionamento dos componentes novos, como o KERS. Todos estão concentrados nisso, e funciona-se a todo o vapor para que isso seja resolvido, mas o maior temor é que isto tudo seja mais profundo, vindo do próprio chassis. E a ideia de se ver toda uma temporada perdida é o pior pesadelo que se pode ter por aquelas bandas, porque no final, num pais tão volátil como a Itália, muitos exigirão algumas cabeças cortadas...

A corrida malaia também demonstrou outra equipa em apuros. Quem viu a luta entre Kamui Kobayashi e Michael Schumacher reparou que, mais do que uma luta de gerações, era uma luta entre um construtor e um "garagista" para ver quem era melhor. Eu francamente simpatizo com os garagistas porque eles sabem fazer milagres com o que tem. E conseguem ser muito mais eficazes no momento em que desenham os seus chassis do que uma construtora, que tem imenso dinheiro para gastar, mas não tem paciência para reconhecer que erraram. E o chassis W02 da Mercedes está mal construido e a cada corrida que passa, vê-los a serem superados por Renault, Sauber e se calhar Toro Rosso, começa a dar pena. Parece que depois dos desastres da década passada como Jaguar, Honda, Toyota ou num passado mais distante, como a Alfa Romeo, esse capitulo não está totalmente encerrado.

Na edição desta semana do Autosport português, o jornalista Luis Vasconcelos faz um retrato cruel do W02 e da incapacidade de Ross Brawn admitir que errou. Ali, em resposta a um internauta sobre se eles iriam virar uma segunda Toyota, afirma: "O mais alarmante no caso da Mercedes é a incapacidade de reconhecer que o MGP W02 é um chassis mal nascido, com um conceito errado, sobretudo a nivel aerodinâmico. Brawn continua a acreditar que é o acerto, ou a estratégia, o KERS ou o DRS (a asa móvel) que não estão a funcionar, mas a verdade nua e crua é que falta carga aerodinâmica no chassis, o desgaste dos pneus é enorme e falta direção de projeto para melhorar a situação. Resta ver até quando Estugarda vai aguentar esta situação, porque os alemães são menos pacientes que os japoneses".

A ser tudo isto verdade, parece que há uma equipa que já tem a temporada perdida. E como em Maranello, em Estugarda também há vozes a exigir algumas cabeças em cima da mesa... e se quiserem ler um pouco mais sobre isso, recomendo a leitura do post de hoje do blog Formula Portugal, que disseca as razões do fracasso que está a ser o projeto Mercedes.

Entretanto, existe uma terceira sombra no horizonte. Ontem, o Joe Saward falou ontem no seu blog que Bernie Ecclestone está disposto a sabotar as intenções da FOTA e da FIA em ficar com uma fatia maior das suas receitas, bem como a renegociação do contrato leoninamente centenário que a FOM tem para lidar com os direitos televisivos. E como iria fazer? Dar aquilo que as equipas querem... à unica equipa que não faz parte da FOTA: Hispania.

De um modo simples e direto: Joe diz que Bernie Ecclestone, sabendo das dificuldades que a equipa de José Ramon Carabante e Colin Kolles tem para arranjar dinheiro, arranjou um contrato de 35 milhões de dólares por ano para cobrir as despesas. É três vezes e meia superior a aquilo que está a receber agora, e é um valor que para as equipas mais pequenas, serve para grande parte do ano. Exemplos? A Virgin tem um orçamento de 45 milhões de dólares anuais e a Team Lotus anda à volta dos 55 a 60 milhões. E sabendo ele, por exemplo, que algumas equipas necessitam desesperadamente de dinheiro para garantir a sua sobrevivência - a Renault-Genii-Proton é a candidata numero um - dar uma cenoura bastante suculenta poderá dar cabo da unidade dentro da FOTA. Mas como esta semana as equipas deram o cargo da vice-presidência a Eric Boullier, parece que tal coisa parece ser improvável...

Em suma, é a expressão "dividir para conquistar" no seu melhor. Bernie pode estar velho, mas ainda mexe o suficiente para evitar com que se apropriem da sua galinha dos ovos de ouro. E está a provar, todos os dias, que só largará o negócio bem depois de morto. Mas como disse atrás, é um jogo perigoso, e o risco desta jogada sair pela culatra é bem real... veremos os próximos capítulos desta e das outras novelas.

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