sexta-feira, 29 de abril de 2011

Bahrein, a todo o custo

Sabemos que Bernie Ecclestone é um homem que não desiste, especialmente quando está em jogo uma mala cheia de notas de dólar. Não se importa se os regimes estabelecidos sejam democracias ou ditaduras - aliás, tem um fraquinho pelas últimas - mas aparentemente o anãozinho tenebroso que lida com a Formula 1 como se fosse sua parece que está disposto a tudo para ter o GP do Bahrein em 2011, dê por onde der. Digo isto porque esta quinta-feira surgiram noticias de que Ecclestone pretende prolongar o prazo para que o GP do Bahrein volte ao calendário depois de ter sido cancelado devido aos protestos de rua no inicio do ano, violentamente reprimidos pelo governo local.

Tal intenção caiu mal no seio das equipas, pois é uma decisão impopular ir para um local onde a opinião pública tem agora uma má impressão. Contudo, como em tudo que Bernie diz ou tenciona dizer, há sempre uma segunda leitura nisto. E a mais óbvia tem a ver com a guerra surda entre Ecclestone e Jean Todt, o patrão da FIA, que tem sempre a palavra final no calendário, apesar de quem o elaborar seja o anãozinho octogenário. Ao dizer que aceita um prolongamento, está a desautorizar Jean Todt nas decisões que ele tomar a esse respeito. Até agora, Todt anda "low profile", fazendo o seu trabalho e cedendo os holofotes a ele. Mas por trás, apoia as pretensões da FOTA em tirar-lhe uma percentagem do atual bolo da Formula 1, algo que o Tio Bernie quer evitar a todo o custo, desde "mimar" Luca di Montezemolo até à possibilidade de assinar um contrato chorudo com a única equipa que neste momento está fora da FOTA: a Hispania.

É certo que só em 2011 é que veremos a briga no seu auge, mas desde há algum tempo que vemos Ecclestone a abrir a boca sobre este caso e a mandar as suas larachas. Com os campos a establecerem-se, iremos ver quais são os próximos capítulos desta história. Não ficaria admirado se o calendário de 2012 fosse um dos focos desta guerra surda...

Para finalizar: segundo diz o Luis Fernando Ramos, o Ico, a possibilidade de regresso ao Bahrein está colocada de parte, não só em 2011 como nos anos seguintes. Segundo ele, a corrente reformista dentro da familia real - sunita - foi colocada de lado pelos "duros" que estão dispostos a reprimir a maioria xiita no pais, e mais discriminada de todas. Uma das noticias destes dias é o da condenação à morte de quatro manifestantes pelo homicidio de policias nas manifestações de fevereiro.

Mesmo que as coisas acabem para o mal, o Bahrein já causou demasiada publicidade negativa para um regresso do automobilismo por essas bandas. Já bastou a Formula 1 correr na Africa do Sul nos tempos do "apartheid" até ao meio da década de 80, quando todos os demais orgãos desportivos - FIFA (futebol), IRB (Rugby) ou COI (Jogos Olimpicos) tinham expulsado a Africa do Sul dos seus orgãos devido à sua politica de descriminação racial...

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