segunda-feira, 30 de maio de 2011

Extra-Campeonato: o escândalo de corrupção da FIFA, em câmara lenta

O grande assunto do momento são as noticias sobre o escândalo de subornos na FIFA, e a corrida à presidência do organismo, do qual Sepp Blatter está agora a tentar ficar lá por mais um mandato, agora com a concorrência do qatari Mohammed Bin Hamman, o presidente da confederação asiática de futebol. O passado fim de semana foi marcado por crescentes noticias sobre casos de corrupção no seio do Comité Executivo, que afetam principalmente um homem: o tobaguenho Jack Warner, um dos vice-presidentes da FIFA e o todo poderoso chefe da CONCACAF, o organismo continental da América do Norte, Central e Caraíbas.

Vou ser honesto: não é nada que me surpreenda. Aliás, tenho a certeza que isto vem na sequência do processo de atribuição das candidaturas ao Mundial de 2018 e 2022, que no final do ano passado, foram atribuidas à Russia e mais surpredendentemente, ao Qatar. Ambas as candidaturas bateram outras como a Inglaterra, a candidatura conjunta entre Portugal e Espanha e Austrália, entre outros. Na altura em que essas candidaturas foram atribuidas, suspeitei fortemente - tal como muita gente - que essas escolhas foram feitas mais por causa dos camiões de dólares que trouxeram do que propriamente outros critérios, sejam dos estádios, sejam de outras instalações. O Qatar nega que comprou a candidatura, mas toda a gente suspeita disso, e provavelmente com muita razão.

Durante estes dois dias, enquanto o escândalo explodia em câmara lenta, via um documentário muito bom da BBC, emitido no progama "Panorama", um dos melhores que há na televisão. Nele, expunha-se que se qualquer candidatura quisesse ganhar a organização do mundial, tinha de pagar um preço. Um preço bem grande, na ordem dos milhões. Jack Warner era dos mais "sujos", e já tinha um passado bem manchado, desde a atribuição de bilhetes no Mundial de 2006, do qual recebeu uma comissão bem choruda, até agora ao caso destes últimos mundiais, do qual pediu alguns milhões de dólares para aquilo que chamou de "o seu legado".

No programa, outros nomes eram falados como fazendo parte neste esquema: o paraguaio Nicholas Leoz, o camaronês Issa Hayatou, presidente da CAF, a confederação africana de futebol, e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, entre outros. E o programa falava de escândalos mais antigos, com o da agora falida ISL, uma empresa com direitos televisivos, que pagou luvas a muita gente, desde João Havelange, o então presidente da FIFA, - e ex-sogro de Ricardo Teixeira - até a Sepp Blatter, passando obviamente pelos nomes acima referidos.

Entretanto, os membros da falhada candidatura britânica depuseram ao longo destes meses numa comissão de inquérito do parlamento britânico, onde explicaram algumas das falcatruas que souberam ao longo do processo, e que disseram que a decisão da não atribuição do Mundial de 2018 à Inglaterra foi mais politica do que técnica. É que o escândalo dos dois membros do Comité Executivo da FIFA afastados devido a terem aceites subornos, um taitiano e um nigeriano, denunciados pelo jornal Sunday Times e pela BBC, fizeram encolerizar a FIFA, que assim aplicou tal castigo. Mas parece que ao retardador, esse feitiço poderá ter virado contra o feiticeiro. E que agora, Warner, caído em desgraça, decidiu vingar-se, usando aquela expressão clássica: "se eu cair, vou-vos arrastar comigo".

Confesso que não sei como isto vai acabar, mas os eventos dos últimos dias só me deram certezas sobre uma organização como a FIFA: é corrupta, cheia de carreiristas que subiram na vida à custa da troca de favores. Pertencendo a uma elite e ganhando poder de decisão no futebol, ao longo dos anos elaboraram uma teia de amizades onde fizeram grandes negócios que beneficiaram imensamente o futebol, expandindo para lugares inimagináveis, mas cujo preço a pagar, embora pouco em termos de valor, poderá ter dado cabo da reputação deste organismo.

E agora, se as suspeitas eram grandes, podemos dizer com toda a certeza que este processo de atribuição do Mundial foi dos mais sujos de sempre. Bin Hamman decidiu retirar a sua candidatura, mas isto a procissão está no adro. E as consequências são ainda inimagináveis.

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