sexta-feira, 20 de maio de 2011

Grand Prix 1972: A última visita do ano (II)

(continuação do capitulo anterior)

Desde muito cedo que magotes de pessoas acorriam à zona de Magdalena Mixuca, na zona verde da capital mexicana, para verem naquele 24 de outubro a prova final da temporada de 1971. O campeonato poderia estar acabado há algum tempo e a favor do Ferrari de Patrick van Diemen, mas mesmo assim os adeptos lociais iriam apoiar o piloto local, Teodoro “Teddy” Solana, piloto oficial da BRM e que tinha sido o principal rival de Van Diemen no campeonato. Mas havia também um bom motivo para apoiar o piloto local: largava do primeiro lugar da grelha, na frente do Ferrari de Van Diemen, do Turner-BRM de Brian Hocking, do segundo Ferrari de Andrea Bernardini e dos Apollo de Alexandre Monforte e Philipp de Villiers, os melhores carros com motor V8.

À medida que a manhã avançava, os organizadores começaram a ficar com ar preocupado. Aparentemente, rumores circulavam que algumas pessoas tinham falsificado bilhetes da organização e haviam mais pessoas dentro do circuito do que esperavam, e lentamente começava a não haver espaço suficiente para os acomodar. Tinha sido pedido um reforço policial para a área e as pessoas começavam a espalhar-se pela pista, ocupando lentamente as bermas, as áreas de escape e começavam a atravessar a pista numa cadência cada vez mais frequente.

A corrida estava marcada para começar às duas da tarde, mas por volta do meio dia, o chefe da organização já dava sinais de desespero. No seu walkie-talkie, comunicava aos comissários espalhados pela pista para que conseguissem controlar a situação o melhor que pudessem, pois as coisas começavam a ficar fora de controlo. E para piorar as coisas, ainda havia mais algumas milhares de pessoas a caminho do circuito, usando todos os meios de transporte possíveis.

Os pilotos e restantes membros da equipa tinham visto isso a caminho do circuito. Alguns deles estavam a ser escoltados pela policia, e mesmo assim estes tinham dificuldades em chegar lá a tempo do “warm up” da manhã, e comentavam o assunto.

- Será que vai haver corrida? perguntava Van Diemen.
- As coisas vão se compor, acreditem, tentava tranquilizar Teddy.
- Não sei. Estou a ver o teu diretor de corrida e parece estar com cara de preocupado, respondeu Monforte.
- É o nervosismo, quando formos para os carros, ele se acalmará, retorquiu o mexicano.

Os três pilotos almoçavam juntos com mais algumas pessoas, nomeadamente namoradas e mulheres, alguns mecânicos e diretores de equipa, todos numa área grande semelhante a um refeitório, no “paddock”. Nessa grande mesa, Teresa Lencastre, cada vez mais a namorada de Alexandre, observava quando podia o que se passava à sua volta e comentava as preocupações ao seu companheiro de lado, Pete Aaron:

- Pete, alguma vez viu algo assim?
- No México? Confesso que não nesta dimensão.
- E preocupa-te?
- Não direi isso. Direi mais que só me preocupará se interferir com a corrida. Mas posso te dizer que falta hora e meia para o inicio e vejo este autódromo mais cheio do que o habitual.
- Olha, olha... falando no Diabo.

Um homem engravatado aproxima-se da mesa onde estão e pede para falar com Teddy Solana. Ambos os homens vão para um canto onde Teresa os observa atentamente. Pete também vê, antes dos outros também ergam as suas cabeças para ver o que aquela conversa entre as duas pessoas trará de importante. E viam o semblante preocupado dos dois homens.

- Há problemas - diz Alex Sherwood, o engenheiro – não é preciso saber espanhol para ver as caras deles.
- Isso é verdade, e aposto que tem a ver com a multidão, respondeu Pete.
- Mas resta saber o que disseram, não é? afirmou Teresa.
- E o que dizem?
- Estão com problemas. Grandes problemas.

Acabada a conversa entre os dois homens, Teddy veio lentamente para a mesa, com ar preocupado. Por essa altura, todos tinham parado de comer e estavam atentos ao que ali vinha. Sentou-se com ar pesaroso e disse:

- Há problemas.
- Isso nós sabemos, respondeu Philipp de Villiers, na mesma mesa deles.
- Que tipo de problemas, perguntou Pete.
- Estão duzentas mil pessoas neste circuito. E não há espaço para mais.
- É muito, repondeu Brian Hocking.
- E vem muitos mais pelo caminho. Todos com bilhetes na mão.
- Como assim?
- O diretor suspeita que houve uma fraude com os bilhetes. Alguém conseguiu falsificá-los e andou a lucrar com isso, daí que hajam neste momento uma multidão do qual não consegue controlar.
- Isto é de loucos.
- Bem sei, é por isso que precisam de nós, respondeu Solana.
- Para quê?
- Para que não cancelem a corrida.

O ar torna-se algo pesado. A situação começa a ser preocupante, dado que o circuito mexicano era ainda uma pista onde não há rails de proteção, apenas pneus nas bermas e uma rede que separa a multidão da pista, e isso não existe em toda a extensão da pista, obrigando alguns a sentarem-se… nas bermas da pista. E falta pouco mais de uma hora para o seu começo.

- "Ay caramba", sinto isto vai acabar mal.
- Se é que vai começar, respondeu Pete.
- Daí que nos querem na pista, para ver se conseguimos controlar a multidão.
- Qual é o plano?
- Eu vou para a torre de controlo, onde vou fazer um apelo para que fiquem fora da pista. Vocês vão andar ao longo dela para falar com as pessoas.
- Neste caso, isso cabe a nós - respondeu Monforte - vou falar com o Pedro para que me ajude nisto, ambos sabemos falar espanhol.
- Vou convosco, respondeu Teresa.
- Bem, vamos começar com isto - levantou-se Teddy - se queremos salvar o dia, temos de agir já.

(continua amanhã)

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