quarta-feira, 25 de maio de 2011

Grand Prix 1972: A última visita do ano (IV)

(continuação do capitulo anterior)

Teresa olhava por todo o lado para procurar por Débora, a mulher de Teddy. Sabia que estava ali a observar o seu marido, e queria ver qual era o seu estado de espírito. Depois viu o diretor da corrida a caminhar para a boxe da BRM para falar com o diretor da equipa, com Bob Turner e com Debby, como a chamavam. O estado de espírito era sombrio, pois falaram durante longos minutos, enquanto que nada se sabia, não havia qualquer informação. E o ambiente no circuito parecia piorar, pois as se não havia noticias, havia rumores. E cedo chegaram às boxes.

- Pelo que me dizem, há mortos
- E o piloto é um deles.
- O carro ardeu todo. E há crianças entre os mortos.
- São quatro.
- Parece que há sete mortos e muitos feridos.
- Falam em outro carro…
- Parece que de súbito perdeu o controle, parece que partiu qualquer coisa no carro…
- Pensa-se que atropelou um cão. Havia cães na borda da pista.

Passaram-se minutos até que se soubesse o que tinha realmente acontecido. O BRM de Teddy Solana passava pela zona onde começava os Esses quando de repente, algo se parte no carro e guina violentamente rumo a uma zona de espectadores, cuja única proteção eram os pneus enterrados na zona. Os espectadores fugiram para todos os lados, para evitar o carro descontrolado, mas atingiu em cheio pelo menos cinco pessoas, seguiu em frente, colidiu contra a bancada e incendiou-se. Alguns espectadores foram para a pista e por pouco que os pilotos que seuiam atrás os atropelavam. Estes começaram a parar na zona e um dos comissários começou a agitar freneticamente a bandeira vermelha, seguido de um outro, sem que alguma ordem tivesse sido dada pelo diretor de corrida. Este, ao ver as bandeiras, ficou inicialmente zangado, mas depois viu a coluna de fumo e os espectadores em pânico, a andar pela pista. As coisas ameaçavam descontrolar-se a qualquer momento.

Desceu da sua torre e foi ter com os pilotos e donos de equipa para conferenciar:

- Até que ponto está mau? perguntou.

Pete Aaron respondeu-lhe:

- Os meus pilotos foram obrigados a abandonar porque pela primeira vez nas suas vidas tiveram medo de correr aqui. Porque temeram aquilo que aconteceu ao Teddy.
- O que aconteceu?
- Pelos vistos algum maluco atravessou à frente dele, guinou e foi parar aos espectadores, não acha?
- Não é isso que me contam…
- O que quer que lhe contam, não sei, mas digo-lhe que agora estou arrependido de ter deixado que esta corrida começasse - disse Forgheri – isto é uma confusão, e acho que foi longe demais.
- Mas vocês sabem dos riscos que correm…
- Nós sabemos dos riscos que corremos, mas isto é loucura - retorquiu Bob Turner, com uma voz firme, mas tranquila. Se quiser continuar, é consigo, mas a partir deste momento não coloco mais o meu carro. E pelos vistos, os BRM também não vão continuar, concluiu.
- Por favor, meus senhores, tenham calma… vou ver se há condições para continuarmos.
- Acho que nesta altura, nem a Comission Sportive Internationale vai deixar que esta corrida prossiga - retorquiu Pete Aaron – demasiada gente e um acidente provavelmente mortal, francamente, se continuar, vai ser chamado de “assassino insensível”. E reze para que nada tenha acontecido ao Teddy…

A conversa continuaria por mais de meia hora, enquanto que as ambulâncias acorriam para levar os restantes feridos para os hospitais mais próximos. Durante esse tempo, nada se sabia sobre quantos e em que estado estava, bem como a sorte de Teddy Solana. Debby, a sua mulher, tinha rumado ao hospital para saber a sua situação, e a tensão tinha começado a baixar, à medida que muitos abandonavam o local e a pista.

Quando o relógio andava perto das 16 horas, os pilotos que restavam alinharam para tentar cumprir as restantes 45 voltas à pista. A BRM tinha se retirado, enquanto que apenas Ferrari, Matra, Jordan, McLaren, e pouco mais tentavam acabar esta atribulada corrida. Quando partiu, não houve mais incidentes de maior, aparte dois furos, um no Matra de Carpentier e no Temple-Jordan de Bob Bedford. No final, Philipp de Villiers era de novo o vencedor, seguido pelo McLaren de Peter Revson e pelo Jordan de Pedro Medeiros. O segundo Ferrari de Andrea Bernardini, o Matra de Pierre Brasseur e o segundo McLaren de Jack Thompson, a três voltas do vencedor.

Quando acabou a cerimónia do pódio, já se sabia de uma certa forma os estragos causados pelo acidente de Teddy Solana. O carro tinha atingido cinco pessoas, e três delas tiveram morte imediata, uma delas sendo uma rapariga de quinze anos. Mais cinco pessoas tinham ficado feridas gravamente pelos destroços que voaram para todos os lados, e o BRM ficou de cabeça para baixo, incendiando-se de imediato. No meio deste cenário dantesco, houve quem tentasse chegar ao pé do carro de Solana, mas as chamas eram grandes. Houve comissários que chegaram lá com os seus extintores e tentaram apagar o fogo, enquanto que alguns tentaram virar o carro e tirá-lo dali. Conseguiram-no, ao fim de alguns minutos, mas o estado do piloto já era muito grave.

Quando chegou ao hospital, tinha fraturas na cabeça, algumas queimaduras em segundo grau nas costas e sinais de inalação por monóxido de carbono nos pulmões. Uma situação vista como desesperante, mas de alguma maneira, conseguiram encontrar sinal de vida. Mas quando Debby chegou ao hospital, eles disseram logo que “señora, não temos grandes esperanças que o seu marido sobreviva. O seu estado é grave”.

Teddy lutou pela vida durante dois dias. Por esta altura, o México e o resto do mundo já sabia dos eventos daquele domingo e alguns jornais perguntavam a razão pelo qual o diretor de prova ordenou o começo da corrida, com o autódromo demasiado cheio para tal. Outros jornais começavam a falar de bilhetes falsos, ou vendidos em excesso pelo organizador para ter muito dinheiro da bilheteira, e ainda outros questionavam se valia a pena continuar a competição, com tantas mortes que já tinha havido num passado recente. Mas nesse ano até tinha estado calmo, sem mortes na pista até então.

Os amigos mantinham-se em vigília por esses dias, torcendo e rezando pela sorte do seu amigo. Mas na madrugada de quarta-feira, a atividade cerebral de Teddy ficou nula, e logo depois deixou de respirar. Quando se soube da noticia, pelas dez da manhã, a multidão que fazia viligia no hospital reagiu entre choros e alguns gritos à morte do seu piloto local. E a pequena comunidade automobilística fazia mais uma vez o seu luto, num final de ano triste.

(continua)

Sem comentários: