segunda-feira, 27 de junho de 2011

Extra-Campeonato: algumas linhas sobre o acidente do Angélico Vieira

Não consigo deixar de ficar indiferente com o que aconteceu ao Angélico na madrugada deste sábado, especialmente acerca das circunstâncias do acidente. E como este blog tem a ver com automóveis e automobilismo, a segurança também faz parte disso. E vou fazer apenas este post e direi as verdades, doa a o que doer, porque no final, quem está a sofrer fortemente são os seus pais e amigos.

Para quem esteve ausente no final de semana, não lê os jornais, ou então os muitos amigos estrangeiros que passam por aqui, eis o que aconteceu: o Angélico Vieira, de 28 anos, cantor, ator e modelo, vinha do Porto para Lisboa na A1, a principal auto-estrada do pais, num BMW Série 6 Cabrio - emprestado a ele por um amigo que tem um stand de automóveis, logo, sem seguro - quando rebentou um pneu na zona de Estarreja, em Aveiro, pelas três e meia da madrugada. No acidente, um dos passageiros morreu, atropelado pelo carro que seguia atrás deles, outros dois ficaram em estado mais ou menos grave. Há uma menina de 17 anos também em condição séria, mas estável.

Não vou comentar sobre o circo mediático que se instalou à porta do Hospital de Santo António, porque não é esse o assunto deste post. O que quero falar são os fatos conhecidos e as suas consequências: Angélico, que era o condutor, perdeu o controlo do carro quando o pneu rebentou, bateu no separador central e capotou diversas vezes. Ele não levava cinto de segurança e foi cuspido para fora do carro. Bateu fortemente com a cabeça no asfalto e fala-se que quebrou o pescoço em três sitios, tem traumatismo craniano muito grave, com perda de massa encefálica, fermientos no torax e nas mãos. Há rumores de que já está em morte cerebral, mas os médicos já desmentiram. Só dizem o habitual: "prognóstico muito reservado".

Pela descrição - e a ser verdadeiro - faz-me lembrar o acidente de Gilles Villeneuve em Zolder. Só o capacete evitou o traumatismo craniano, mas não as fraturas cervicais. E todos sabem que estava ligado às máquinas até que Joanne, a mulher dele, mandou desligar naquela noite de 8 de Maio de 1982 o seu suporte de vida. Talvez seja isso que impede de isto tudo acabar, uma decisão da familia, porque para mim, isto não tem saída possivel. E não acredito em milagres.

O que me causa pena nisto tudo é que... tudo isto poderia ter sido evitado. Desde o acidente - não o furo, mas sim a velocidade a que ia - até ao fato de não ir com o cinto de segurança colocado. Ele provocou o seu próprio fim quando tirou o cinto - ou se calhar nem sequer o apertou - no momento em que o carro se despistou. Isso é o que me revolta. As pessoas não podem dizer que não usam o cinto porque lhes aperta o peito ou porque se sentem sufocados, etc, etc. O cinto de segurança neste é obrigatório por lei, quer à frente, quer atrás, e a penalidade por isso é multa até 500 euros! A lei é dura, mas serve para proteger as pessoas. Nós e os outros.

É chato dizer isto e muitos irão parecer que estou a "apontar o dedo" quando eu poderei ter algum telhado de vidro. A verdade é que não tenho. Porque não posso ter, tenho de dar o exemplo. Não bebo alcool quando saio à noite, ou se bebo, não pode passar de um copo. Coloco o cinto de segurança antes de rodar a chave na ignição. Tenho não ultrapassar os limites de velocidade nas autoestradas e sempre que tenho sono, tento o possivel encontrar um lugar para encostar e relaxar um pouco. E o telemóvel, tento parar o carro antes de atender a chamada.

Em suma, quero ser um cidadão responsável porque conheço as consequências. Vejo-os todos os dias nas noticias. Tenho o caso pessoal de um amigo de escola que morreu ao volante há 13 anos porque vinha de uma discoteca e estava alcoolizado. Não uso o meu carro como arma de arremesso, nem faço da autoestrada a minha pista de corridas. Quero acelerar, vou a um kartódromo ou meto-me num "track day". Só que parece que devo ser uma excepção, porque esta noite estava a ver uma peça na TV em que dizia que em Portugal, todos os anos, onze mil condutores são apanhados sem o cinto de segurança. Parece que só quando espalharem o seu cérebro no asfalto, num acidente perfeitamente evitável, é que dão razão às autoridades quando lhes dizem que "o cinto posto salva vidas".

E neste acidente em particular, o rapaz que ficou menos ferido tinha o cinto colocado. Enfim, o mal já aconteceu e infelizmente os seus familiares irão sofrer esta perda para o resto das suas vidas. Francamente, depois do que aconteceu, o melhor legado, ou "lição de além túmulo" era que a Prevenção Rodoviária Portuguesa - será que ainda existe? - fazer uma campanha nas TV's, rádios e jornais, usando este acidente para consciencializar a numa nova geração sobre este tipo de perigos na estrada.

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