sábado, 13 de agosto de 2011

O carro que nos fez lembrar um bule de chá


O Bruno Mantovani colocou por estes dias na sua página do Facebbok mais um dos seus desenhos clássicos. E neste caso em concreto, é um carro que apareceu no mesmo ano que nasci, ou seja, há 35 anos.

Já falei de forma técnica e histórica sobre este carro. O Ligier JS5 é o primeiro projeto do francês Gerard Ducarouge para a Formula 1, depois de ter entrado para a Matra em 1967, pouco depois de ter terminado o seu curso de Desenho e Matemática na Ecole National Technique d’Aeronautique. Quando no final de 1974, Jean-Luc Lagardére, o patrão da Matra, decidiu fechar a aventura da sua marca nas competições, Ducarouge seguiu o homem que comprou o espólio da equipa nas competições: um self-made-man, ex-internacional de rugby pela França e ex-piloto de automóveis, Guy Ligier.

Quando Ligier aceitou o desafio da S.E.I.T.A., detentora da marca Gitanes, de correr na Formula 1, Ducarouge desenhou o seu primeiro bólido, o JS5. Já agora, para quem não sabe, o código de identificação de todos os chassis da Ligier são um tributo a Jo Schelsser, o melhor amigo de Ligier, morto no GP de França de 1968, quando guiava o Honda oficial.

Quanto ao carro em si, é certo que dividiu opiniões. É certo que Ducarouge se inspirou nos Tyrrell 006 de 1973, guiados por Jackie Stewart e Francois Cevért, e o desenho só se manteve por três corridas, antes que a FIA se tenha decidido abolir tais entradas de ar, mas ficou tempo suficiente para que deixasse uma impressão duradoira nas nossas mentes, especialmente para quem o viu. Bule de chá ou Corcunda de Notre Dâme eram os nomes mais frequentes, mas para mim deve ser dos mais impressionantes caros que já vi daquela década. Talvez seja pelo desenho que fizeram nessa entrada de ar, da cigana que nos lembra Carmen, de Bizet, e que identifica a todos a marca de cigarros mais conhecida daquele hexágono.

O chassis teve sucesso no seu primeiro ano de competição. Conseguiu uma pole-position e três pódios, vinte pontos e o quinto lugar no Mundial de Construtores, mas num ano de dominio dos Ferrari e McLaren, no ano do Tyrrell de seis rodas, foi um carro que deixou uma impressão duradoira nas mentes das pessoas. E aquele motor Matra V12 também ajudou.

Em suma, aquele foi um bom exemplo de como eram as coisas há 35 anos. Havia liberdade de criação, as regras eram compreendidas por todos e os que viam as corridas na pista ou na televisão, e liam os relatos nos jornais e revistas, vendo as suas imagens, faziam-nos sonhar... Será que é por isso que Hollywood vai fazer um filme baseado nessa temporada, nesses tempos criativos e aventureiros da Formula 1?

Para finalizar, o ultimo desenho é do Ricardo Santos, infografista do i e dono do - inativo - blog Um Desenho, uma História. Espero que ele consiga arranjar tempo para voltar a fazer e colocar alguns desenhos. Pessoalmente, tenho saudades.

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