quinta-feira, 8 de setembro de 2011

5ªColuna: Porque é que a Formula 1 ainda não foi para a Tailândia

A imprensa especializada em automobilismo repercutiu muito a noticia surgida na terça-feira no jornal "Bangkok Post" sobre a intenção da Tailândia de albergar um Grande Prémio, a exemplo do que já fizeram as nações á sua volta, como a Malásia, Singapura e a partir deste ano, a India. A intenção foi anunciada oficialmente pela Thailand Convention & Exhibition Bureau (TCEB).

Ao contrário de alguma gente, eu sempre achei estranho a Tailândia nunca se ter sériamente interessado no automobilismo ao longo destes últimos anos, pois é a nação do Principe Bira, o primeiro piloto asiático com impacto internacional. No final dos anos 30, este membro da familia real tailandesa foi para a Grã-Bretanha estudar e apaixonou-se pelo automobilismo, construindo até uma equipa com um dos seus primos. Até teve a intenção de trazer alguns desses pilotos de Grand Prix para a sua terra natal para um "Grande Prémio da Tailândia", mas o evento, que seria realizado no final de 1939, acabou por ser cancelado devido ao inicio da II Guerra Mundial.

Há também uma segunda razão para que a Formula 1 já ter ido para lá há mais tempo: a Red Bull. A receita é originária da Tailândia - chama-se Krating Daeng - e foi importada para o resto do mundo graças ao engenheiro austriaco que a descobriu, Dietrich Mateschitz, em meados dos anos 80. Segundo diz o Joe Saward no seu blog, Mateschitz apenas detêm... 49 por cento da firma. Só que dos 51 por cento que estão em mãos tailandesas, dois por cento pertemcem ao filho de Chaleo Yoovidhya, Chalerm. E mesmo esses 49 por cento que o senhor Chaleo tem são mais do que suficientes para ele: é um dos homens mais ricos do país, com uma fortuna estimada em quatro mil milhões de dólares.

O Joe fala em três hipóteses para um eventual Grande Prémio: um circuito urbano no centro de Bangkok, a exemplo de Singapura, a reconstrução do circuito Principe Bira, em Pattaya ou a construção de um circuito de raíz em Bangkok. A primeira hipótese pode ser agradável e rápida de se fazer, mas numa cidade que tem fama de ter um dos transitos mais caóticos do mundo, não sei se seria do bom grado. E depois, Singapura faz aquilo porque não tem mais para onde ir, não por capricho. A segunda hipótese é mais plausível, pois dinheiro não deve faltar e o circuito de Pattaya, inaugurado em 1985, é pequeno: 2410 metros de comprimento por dez metros de largura. Quanto à terceira hipótese, seria mais a longo prazo.

Contudo, há boas razões para que a Formula 1 ainda não tenha feito a mudança. E a principal tem a ver com a situação politica desse pais nos últimos anos. Quem acompanha as noticias conhece a luta pelo poder dos "vermelhos" contra os "amarelos". E não tem nada a ver com o futebol: os vermelhos são os partidários de Thaksin Shinawatra, um multimilionário tailandês que se meteu na politica - é um Silvio Berlusconi asiático, diga-se - e foi primeiro ministro graças a uma agenda populista, e a sua base de apoio está no campo. Shnawatra foi acusado de corrupção e os militares o derubaram do poder em 2006, quando estava a meio de uma visita oficial.

Desde então, exilou-se para vários sitios, como o Reino Unido - onde comprou o Everton - Dubai e agora está no Montenegro, onde se tornou cidadão daquele país. E nestes anos todos, os "vermelhos" sairam à rua na capital para exigir o regresso de Shinawatra ao poder, em confrontos por vezes sangrentos, temendo-se que o país caísse na guerra civil. Contra Shinawatra estão os "amarelos", conservadores, citadinos e adeptos da monarquia e da ordem regente, que não gostam nada de Shinawatra. Agora o atual primeiro ministro é... a irmã mais nova de Thaksin, Yingluck Shinawatra.

Para ter a Formula 1 por aqui, seria bom que as coisas se acalmassem por aquelas bandas. Porque, para embaraços já basta o Bahrein, não é? Que pelo que anda a ouvir, arrisca-se a ser um novo embaraço no próximo ano, pois os problemas politicos ainda estão muito por resolver... enfim, mais uma bomba para a FIA e o Bernie Ecclestone desarmarem.

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