quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O "caso Lotus" começa a ficar esquizofrénico

Todos acompanham isto, mais ou menos, desde meados do ano passado. Vocês sabem que apoiei o Tony Fernandes nesta luta "Lotus vs Lotus" porque a história e a legalidade estava do seu lado, e os tribunais britânicos deram razão nisso. E sempre vos disse que a médio prazo, as ambições megalómanas de Dany Bahar em espalhar o nome Lotus por toda a parte levaria à falência a marca e a sua tutora, a Proton. Pois bem, parece que um ano depois, essas previsões concretizar-se. Mas as coisas estão a ficar kafkianamente estranhas, pois na próxima temporada podemos passar de "duas Lotus" para... nenhuma.

Confuso e estranho? Verdade, mas vamos por partes. Primeiro: as duas partes - Group Lotus e Team Lotus - chegaram a um acordo há cerca de mês e meio, dois meses, mas deverá ser anunciado oficialmente em Singapura, dentro de semana e meia. Como já tinha sido noticiado anteriormente, Tony Fernandes e a Proton chegaram a um acordo em que Fernandes devolverá, por uma soma não especificada, o nome "Team Lotus" ao Grupo Lotus, de Dany Bahar, enquanto que no ano que vêm, chamará a sua equipa de Team Caterham, nome da marca que adquiriu em abril deste ano. De uma certa forma, livra-se de algo que se transformou num escolho com todas as complicações juridicas que fomos informados ao longo do ano, e Fernandes, Gascoyne e o resto dos técnicos muda-se de armas e bagagens em 2012 para Silverstone - nas instalações que já foram da Arrows e Super Aguri - já que Norfolk acaba por ser demasiado longe para os engenheiros e mecânicos que trabalham nesta categoria.

Os carros ganharão esse nome e novas cores, Tony Fernandes colocará os seus produtos na carlinga dos seus bólidos e provavelmente construirá e venderá mais carros de estrada Caterham, provavelmente fazendo as coisas melhor do que Dany Bahar anda a fazer agora.

E com isto pensa-se que Bahar ganhou a sua batalha e poderá colocar o nome Lotus nos seus chassis em 2012, certo? Errado. O nosso amigo Joe Saward falava esta terça-feira no seu blog que da Malásia surgiram as campaínhas de alarme. Os responsáveis da Proton começam a ficar assustados com a quantidade de dinheiro que está a ser gasto para alimentar os projetos megalómanos de Dany Bahar, especialmente na parte dos motores. Fala-se já que o projeto do motor próprio na Indy já está compreometido, o que não me admiraria, pois desde há várias semanas a esta parte, várias equipas da Indy andam a tentar falar com a Lotus, mas só tem batido com o nariz na porta. Ou se perferirem, eles não atendem o telefone.

Em contraste, a sua presença na Genii está cada vez mais forte. O "buzz" tem a ver com o adiantamento de verbas de patrocinio que Gerard Lopez anda a pedir para pagar as suas contas, e em troca - suspeita-se - Lopez deu uma parte das ações. É por isso que desde o GP da Belgica que se vê elementos da Lotus no dia-a-dia da equipa, não como visitantes, mas como decisores. Assim sendo, poderão ter passado de simples patrocinador para co-proprietários da equipa. Mas como os dois lados andam aflitos de dinheiro, estão agora a atrair o holandês Marcel Bloekhoorn, o dono da McGregor, para comprar a equipa. O preço? 85 milhões de euros, segundo se fala. Com esse dinheiro, Lopez provavelmente pagará aquilo que deve a Vladimir Antonov, o russo-uzebeque dono da Snoras Bank, que claro, já anda a bater à porta da Genii, exigindo o dinheiro de volta...

Caso o negócio for concluido nas próximas semanas, tudo fica relativamente resolvido e a Renault poderia ser Team Lotus em 2012, se a marca francesa concordar. Mas parece que dos lados da marca do losanglo, há um renovado interesse pela Formula 1. O novo CEO da marca, o português Carlos Tavares - numero dois da aliança Renault-Nissan - já foi um "gentleman-driver" e é um confesso adepto do automobilismo, logo, sabe da importância de ter a marca num mundo como a Formula 1, e ja começa a achar que o "período de nojo" da Renault já terminou. Prova dessa mudança de tática tem a ver com o fornecimento de motores, que está a alargar a cada vez mais equipas - a Hispânia F1 é a mais recente interessada - e o prolongamento do acordo de fornecimento à Red Bull até à temporada de 2016.

E isto tudo acontece na mesma altura em que o governo francês começa a movimentar-se para voltar a ter o GP de França, em Paul Ricard. Tavares poderá decidir que chegou a altura da equipa dar uma volta de 180 graus nos seus planos para a Formula 1 e voltar em força, voltando a pintar os seus carros de amarelo e branco - as cores nos tempos da era Turbo - e até poderá voltar a ressuscitar o conceito de "Ecurie de France", com pilotos e tudo. Ou seja, se ele acionar a opção de voltar a ficar com os 75 por cento que vendeu a Gerard Lopez no final de 2009, pode ser que, quem quer que fique com a Renault no final desta temporada - Lotus, Boekhoorn, etc - poderá acabar com uma mão cheia de nada e outra de coisa alguma, porque a Renault simplesmente pode chegar e dizer "OK meninos, foi tudo muito divertido mas agora queremos de volta, está bem?". E de "duas Lotus" em 2011, podemos passar em 2012 para uma Renault F1, mas de verdade, e uma "Team Caterham". Tony Fernandes fica a rir-se enquanto que Dany Bahar provavelmente sairá de cena pela "porta do cavalo".

Riamos ou choremos, entendamos ou não entendamos tudo isto, a conclusão é que esta novela muito provavelmente acabará com um clássico a voltar às sombras. Triste para a Formula 1 para os fãs da Lotus, é certo, mas se há alguma coisa boa nisto é que o "regresso à casa" está assegurado, vinte e um anos depois da familia Chapman ter vendido a Team Lotus para Peter Collins e Peter Wright. Quando voltar à categoria máxima - se algum dia voltar - ao menos já sabemos onde está. Espera-se que o próximo CEO da empresa tenha a mesma paixão, mas mais realidade.

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