quinta-feira, 13 de outubro de 2011

5ª Coluna: bodes expiatórios de um campeonato que acabou muito cedo

Estamos ainda na ressaca do GP do Japão, com pouco tempo para se comemorar o bicampeonato de Sebastian Vettel, pois a esmagadora maioria dos profissionais da comunicação social está em trânsito - ou já chegou - a Seoul, pois o GP da Coreia do Sul, em Yeongnam, é já neste domingo. Mas muito provavelmente, para muitos destes profissionais, poderá ser a última corrida que assistirão neste ano, porque com o título de pilotos já decidido, muitos voltarão às suas redações para seguir o resto do campeonato do conforto dos seus escritórios. E a partir daqui irá acontecer aquilo que se pode chamar de "separação de águas", entre os que seguem isto por interesse e os verdadeiros apaixonados.

Digo isto porque esta segunda-feira, quando lia um dos posts do "aniversariante" Joe Saward - comemorou no Japão a sua 400ª participação num Grande Prémio - lia que o numero de cancelamentos de vôos e de reservas de hotel para Delhi, onde o GP da India terá lugar no dia 30 deste mês, aumentou bastante nos últimos dias. Por um lado, podemos falar do desinteresse acima referido, mas também as dificuldades de entrada na India - no qual até pilotos, mecânicos e engenheiros estão a passar - é outro fator a ter em conta, bem como a lendária burocracia indiana, que já tem fama de ser enorme e lenta como a lesma. O Joe fala, como exemplo, que a BBC ainda tem equipamento retido na alfândega indiana, desde os tempos dos Jogos da Commenwealth. E isso já aconteceu faz agora doze meses.

Portanto, muitos destes profissionais poderão apenas querer evitar o inferno indiano e seguir imediatamente para Abu Dhabi, mais tranquilo e mais amigável para os turistas. Mas também há outro assunto que alguns discutem em surdina: é que o título deste ano foi decidido decidido "demasiado cedo", a cinco corridas do final do campeonato, algo que muitos torcem o nariz e alegam que isso "prejudica o espectáculo". Honestamente, acho que essa insinuação é disparatada, mas não é a primeira vez que surge, como sabem.

O chato é que quando este tipo de discussão surge, aparece o mesmo bode expiatório: o sistema de pontuação. De 1960 a 2002, esse sistema de pontuação foi o mesmo, com a excepção do acrescento de um ponto ao vencedor em 1991. Aí, os seis primeiros recebiam pontos, na ordem de 10-6-4-3-2-1. Em 2003, sabendo que os carros se tornaram mais resistentes e pontuar se tornara mais dificil, deram pontos até ao oitavo classificado, e dificultaram a tarefa ao vencedor, diminuindo a diferença de pontos entre os dois primeiros, dez para o vencedor, oito para o segundo classificado.

Tudo bem, as disputas pelo título iam até ao fim, mas os acontecimentos de 2008, em Interlagos, fizeram com que se aclamasse por um sistema que valorizasse a vitória, e a FIA cedeu, criando um novo sistema que dava sete pontos de diferença entre o vencedor e o segundo classificado: sete. Se em 2010 isso foi esquecido e até houve quem cantasse "loas" pelo novo sistema, este ano, e em nome da competitividade, já surgem criticas pelo fato de o título já estar decidido demasiado cedo, quando falta mais de um mês para que a cortina da Formula 1 desça de vez, no Autódromo de Interlagos.

Durante anos, a FIA tinha o sistema de descartes, onde se contavam os melhores resultados em todos os disputados até então. Onze em dezasseis, treze em desasseis, variava o ano. A ideia era contabilizar oitenta por cento dos melhores resultados de cada piloto, para assim equilibrar artificialmente a disputa pelo título mundial. O sistema foi válido até 1989, mas no ano anterior aconteceu o curioso caso do piloto com mais pontos não ser o campeão do mundo. O visado foi Alain Prost, que devido à sua regularidade, teve de "deitar fora" algumas vitórias, beneficiando Ayrton Senna. Jean-Marie Balestre, presidente da FIA, achou que era demais e aboliu o sistema de descartes em 1990.

Então, qual é a conclusão? Não há e nunca haverá um sistema ideal. Artificializar o campeonato, fazendo com que tudo se resolva na última corrida do ano, para capitalizar dinheiro, investidores, publicidade, etc, dá a sensação de falsidade e nenhum fair-play. E também demonstra que todo este tipo de discussão acaba por ser disparatado. Porque daqui a nada, a FIA pode decidir, num disparate qualquer, que é melhor usar o sistema da IndyCar Racing e dar pontos a todos. Ou então faz o contrário, que aprove o ridículo sistema de medalhas que o Bernie Ecclestone se lembra de quando em quando.

As causas são outras, e as pessoas têm de aceitar que haverão sempre épocas onde há uma máquina ou um piloto que será superior aos outros. Se no futebol não se grita por modificações no sistema de pontuação sempre que um clube ganha campeonatos sem derrotas e com vinte pontos de avanço, porque é que o automobilismo terá de ser diferente?

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