terça-feira, 25 de outubro de 2011

O polémico socorro de Marco Simoncelli em Sepang



Por muito que diga o contrário, por muito que se peça para que se respeite a dor dos familiares dos pilotos que morreram, o ser humano não resiste a uma "caça às bruxas". Parece que faz parte dos instintos humanos querer encontrar algum culpado para algo que não consegue aceitar ou tolerar. Digo isto tudo porque, 48 horas depois do acidente que vitimou o piloto italiano Marco Simoncelli, no GP da Malásia de moto GP, surge um video mostrando que a equipa de socorro local deixou cair o piloto da maca.

O video - que coloco aqui, mas aconselho aos mais sensíveis para que não o vejam - vem acompanhado de uma carta escrita por um perito italiano em serviços de emergência médica, Marco Venturi, divulgada no jornal italiano "La Reppublica". Segundo ele, Simoncelli foi socorrido, depois do acidente, "de forma inadequada". "Primeiro, num acidente como este, a ambulância deve entrar na pista e Marco deveria ter sido assistido de acordo com o protocolo", começa por afirmar.

"Um médico devia avaliar a condição [do piloto ainda na pista] e transportá-lo com todo o cuidado que um caso como este exige", continua Venturi, acrescentando que, "após avaliação clínica no local do acidente, deveria ter sido colocado no pescoço do jovem piloto um colar cervical. Só posteriormente é que o motociclista deveria ter sido deitado numa maca adequada e imobilizado, para ser transportado convenientemente numa ambulância", concluiu.

Após isto, critica as autoridades locais pela maneira como transportaram o piloto de 24 anos como "inapropriada e prejudicial", acrescentando: "Eu não transportaria nem um saco de batatas daquela maneira." Apesar das criticas, ressalva: "Não digo que isto [o protocolo] lhe teria salvado a vida, não o presumo e nem tenho autoridade para o fazer", admitindo que, mesmo seguindo o procedimento habitual neste tipo de casos, todos os cuidados teriam sido "inúteis", devido à violência do acidente.

Mesmo que as intenções sejam boas e tenha falado como especialista, temo que as pessoas não leiam a última parte do parágrafo anterior e vão para "soundbytes" como "saco de batatas" ou vejam o momento em que cai da maca, chegando à conclusão que ele estaria vivo se não fossem "o bando de amadores que o levaram para a ambulância". Como 98 por cento das pessoas usam a cabeça para pentear ou acreditam demasiado nos jornalistas que apresentam isto de forma sensacionalista, temo que depois de duas semanas que que as pessoas viram pilotos a morrerem em direto na televisão, as pessoas exijam uma "caça às bruxas", o que é muito triste e muito frustrante para quem está dentro disto.

Mas mesmo que diga isto, não deixo de pensar que a FIM (Federação Internacional de Motociclismo) tenha aspectos a corrigir neste campo. A própria IndyCar, uma semana depois do acidente de Las Vegas, que matou Dan Wheldon, já reconheceu que modificações devem ser feitas, não tanto nos carros, mas nos circuitos e em alguns dos procedimentos de corrida. E já correm rumores da criação de uma associação de pilotos, à semelhança da GPDA (Grand Prix Drivers Association) existenta na Formula 1...

Mesmo assim, cada vez mais penso que a memória das pessoas é semelhante à dos peixes: dura menos de 24 horas.

1 comentário:

Daniel Médici disse...

Acho que qualquer investigação sobre a morte de Simoncelli a esta altura, menos de uma semana após o ocorrido, deveria se concentrar em apurar causas, e não responsabilidades. Não culpo os fiscais no momento, afinal, esta é a primeira morte em Sepang. Que treinamento eles tiveram para tais situações? É melhor levantar questões do que cuspir certezas...