domingo, 27 de maio de 2012

As 500 Milhas de Indianápolis, versão 2012

As 500 Milhas de Indianápolis é uma realização do qual vale sempre a pena ver, como Mónaco e Le Mans. O facto que desde há muito tempo ambas as corridas acontecem no mesmo dia pode impedir os pilotos de disputarem as corridas ao mesmo tempo, mas para os adeptos de sofá e de pista, é um regalo para os olhos, pois têm a oportunidade de ver ao vivo duas das três mais conhecidas corridas do automobilismo em pista.

Em 2012, as 500 Milhas de Indianápolis tinha uma aura diferente. O vencedor anterior, Dan Wheldon, estava morto e a organização queria fazer o devido tributo a ele, entregando o anel à viúva e dar ao carro que guiou a devida homenagem. E nas voltas 26 e 98, os numeros dos carros que guiou nos anos em que venceu a competição, o público era convidado a prestar tributo a ele, colocando os seus óculos de sol brancos, a sua devida imagem de marca. Mas numas 500 Milhas onde o calor foi outra das imagens de marca - 34ºC esta tarde - não sei se muitos perfeririam refrescar-se com um "Budwiser" do que colocar uns óculos de sol brancos em tributo ao britânico.

Depois das devidas cerimónias em tributo, especialmente, aos soldados que combateram nas guerras - afinal de contas, era o fim de semana do "Memorial Day", com muitos soldados a verem a corridas nas bancadas, e pelo menos vi um a exibir a sua "Medal of Honor", a mais importante do país - as outras cerimónias foram devidamente realizadas: os hinos nacionais e locais, o anunciante a declarar "Drivers, Start Your Engines!" e as três voltas de aquecimento atrás do Corvette branco antes da corrida própriamente dita.

A depois de ser dada a bandeira verde, pudemos ver que pela primeira vez em muito tempo, dois pilotos foram obrigados a abandonar porque eram... chicanes móveis. Jean Alesi e Simona de Silvestro, os dois unicos a alinharem nas 500 Milhas de Indianápolis com o motor Lotus, foram obrigados a recolherem-se às boxes por terem violado a regra dos 105 por cento, ou seja, eram demasiado lentos. Não sei porquê, mas imediatamente lembrei-me da história do canadiano Al Pease, desclassificado do GP do Canadá de 1969 por ser... demasiado lento. Achei mau, especialmente para Jean Alesi. E isso provavelmente foi o canto do cisme para a Lotus, que não sairá da porta do cavalo, mas sim da porta do esgoto.

Passado esse momento embraçoso, a partir do primeiro terço da corrida, os Andretti estavam nos lugares da frente. Marco Andretti e James Hintchcliffe alternavam na liderança, com o Chip Ganassi de Dario Franchitti e Takuma Sato a não andarem muito longe. O que é mais espantoso nisto tudo é que nos três primeiros lugares, dois deles eram motores Honda. Para quem esperava que isto fosse um passeio Chevrolet, era algo 

As amarelas voltaram a ser mostradas na volta 83 quando Mike Conway - que tinha feito uma má paragen mas boxes, atropelando dois mecânicos sem gravidade - saiu das boxes visivelmente perturbado com o que aconteceu e distraiu-se, batendo na Curva 2. Na confusão, Will Power, o lider do campeonato, também bateu e o ângulo do impacto fez com que o carro batesse nas redes de proteção, repetindo o que lhe tinha acontecido há dois anos. Ambos os pilotos safaram-se, mas por pouco iria haver um terceiro envolvido: Helio Castro Neves, que por muito pouco - por instinto, talvez - evitou um dos pneus por muito pouco. A sorte e o azar de mãos dadas...

Na volta 88, voltou a bandeira verde, mas foi sol de pouca dura, pois Bia Figueiredo despista-se e bate ligeiramente no muro. Isso foi mais do que suficiente para que regressase à corrida e claro, aproveitado para mais uma ronda de paragens. Hinthcliffe teve uma má saída, mas como foi em plenas bandeiras amarelas, não ficou muito prejudicado.

A corrida voltou ao normal na volta 96, duas voltas antes de nova homenagem a Dan Wheldon, com Chip Ganassi, nas boxes, a sorrir ao ver que dois dos seus pilotos estavam no "top 5". Nada mau para um motor Honda e quem largou do meio do pelotão. E era assim que as coisas estavam no meio da corrida.

Pouco depois, os Chip Ganassi foram às boxes e era a vez dos Andretti e da KV, que tinham uma estratégia de pneus diferente, a passarem para a frente da corrida. Dois ex-pilotos de Formula 1, primeiro Takuma Sato, depois Rubens Barrichello, passavam pela liderança. Na volta 125, Sato era de novo o lider, mas os Chip Ganassi estavam a assediá-lo. Entretanto, uma das juntas de cabeça do carro de Ryan Hunter-Reay cede e ele é obrigado a acabar a corrida mais cedo.

A caminho do terceiro terço da corrida, as coisas pareciam andar ao ritmo das estratégias. Sato beneficiava das estratégias gizadas por Bobby Rahal, enquanto que Dario Franchitti aguardava que as coisas acontecessem. E isso aconteceu na volta 145, quando Sebastian Saavedra fica parado na saída das boxes. Novamente as banderias amarelas e todos entraram para as boxes, com Sato a sair melhor do que os Chip Ganassi.

Na volta 155, a bandeira verde é mostrada e os Chip Ganassi passam Sato para ficar na liderança. Depois, começaram os seus jogos para tentar induzir Sato ao erro. Mas na volta 164, Josef Newgarden para na relva e as amarelas aparecem de novo. Todos param para uma última vez, antes da meta, e na volta 168, o verde apareceu de novo. A partir dali havia os Ganassi na frente,com o trio Wilson-Sato-Carpenter a trocarem de posições, mas na volta 181, Carpenter perde o controlo do seu carro na Curva 2, mas não bate no muro por pouco menos do que um milagre.

As coisas voltam ao verde na volta 185, com Tony Kanaan a apanhar toda a gente com as calças na mão e  ficar com a liderança. Os Chip Ganassi reagiram, mas o brasileiro fez a mesma coisa, até à volta 188, quando a maldição dos Andretti volta a atacar, com Marco a bater na curva 1. Algum dia há de acabar, mas não este ano. E com isso, as voltas finais voltam a ter a emoção do costume, do qual todos olham com o interesse do costume.

E assim foi. Na volta 193, os carros da Chip Ganassi foram para a frente, com Tony Kanaan e Takuma Sato a seguirem atrás. A partir dali, o japonês tentou a sua sorte e partiu para o ataque, tentando algo inédito: ser o primeiro japonês a ganhar nas 500 Milhas. Passou Dixon e atacou Franchitti no inicio da volta 199, com a bandeira branca a ser mostrada. Ambos ficaram lado a lado... e Sato ficou com a fava. Bateu no muro na Curva 1 e as bandeiras amarelas foram mostradas, com o piloto escocês a vencer pela terceira vez na sua carreira.

A Chip Ganassi completou o quadro com o segundo lugar de Scott Dixon, enquanto que o terceiro foi o brasileiro Tony Kanaan. Rubens Barrichello foi 11º e o melhor "rookie" nas 500 Milhas, numa prova em que não deslumbrou, até cumpriu.

No Winning Circle, com a atriz Ashley Judd a comemorar pela terceira vez a vitória do seu marido, alguém afirmava que ele sempre venceu em bandeiras amarelas, mas uma vitoria, não importa as circunstâncias, é uma vitória. Afinal de contas, Dan Wheldon venceu a corrida na última curva... e hoje tudo se fez para que ele não fosse esquecido. E Indianápolis é assim... 

1 comentário:

Daniel Médici disse...

Vencer a Indy em bandeira amarela não é demérito nenhum, e, nessa prova, Franchitti deu uma aula de pilotagem. Foi uma corrida movimentada, com poucas bandeiras amarelas no início e muitos pits em bandeira verde. A vitória lá é sempre um pouco rifada, mas eu achei bem justa - também o seria se fosse para Sato, Dixon ou Tony.