quarta-feira, 9 de maio de 2012

Automobilismo e Hollywood


Ao longo da existência deste blog, já falei de mais de uma dezena de projetos automobilísticos no cinema. Uma biografia de Bruce McLaren, uma adaptação cinematográfica de “Como uma Bala”, do A.J. Baime, um documentário sobre Gilles Villeneuve, e algumas coisas menores. Tudo isto antes de 2010. De tudo isto, a única coisa que vi concretizada foi o documentário sobre Ayrton Senna, e o seu sucesso resultou na atual explosão de projetos de filmes que Hollywood anda a produzir, elaborar ou encontrar financiamento.

O documentário de Asif Kapadia e Manish Pandey tornou-se, de facto, num sucesso. Apesar de não ser um documentário completo, ignorando aspectos fundamentais como os seus primeiros tempos nas categorias de acesso ou da sua carreira na Lotus e aquela primeira volta em Donington Park, em 1993, tornou-se num sucesso. Foi o documentário mais visto de sempre na Grã-Bretanha, foi um sucesso no Japão e no Brasil, e venceu prémios, incluindo dois BAFTA’s, os prémios de cinema britânicos. Apesar de ter sido ignorado pela Academia de Hollywood, ganhou um prémio em Sundance.

E foi por causa do sucesso de “Senna” que Hollywood se interessou no automobilismo, mais concretamente na Formula 1. Sabemos das filmagens de “Rush”, o filme realizado por Ron Howard, com um argumento de Peter Morgan, e que relata a temporada de 1976, o duelo entre Niki Lauda e James Hunt, e que incluiu o acidente do piloto austríaco em Nurburgring e consequente recuperação, e claro, o duelo que teve oi seu culminar no GP do Japão, realizado debaixo de chuva, e que resultou na vitória para o piloto inglês.

Aparentemente, a dupla Howard/Morgan tem sucesso no passado recente, vide “Nixon vs Frost”, e pelas imagens que tenho visto, parece estar a ser feito um excelente filme, fiel à época, com algumas liberdades artísticas. Vai focar a vida quer de Hunt, quer de Lauda, e poderá ser interessante de se ver. Se tudo correr bem, no final do ano será a sua estreia, a tempo de tentar a sua sorte nos Oscares.

Mas em novembro do ano passado, quando soube que “Rush” ia para a frente, e o sucesso de “Senna” era mais do que evidente, li num site dedicado ao cinema, que havia em Hollywood, pelo menos cinco projetos sobre automobilismo. Creio que foi da boca de Manish Pandey que ouvi tal afirmação. E aos poucos, começo a ouvir esses projetos: um filme sobre Peter Collins e Mike Hawthorn, realizado pelo próprio Pandey, outro sobre Jackie Stewart e Francois Cevért, que teria a bênção do próprio Stewart, um terceiro sobre Richard Seaman, o primeiro piloto britânico de Grand Prix, que guiou os Mercedes em 1938, em tempos perigosos para o mundo, e agora ouvi dizer que pode haver outro filme sobre Ayrton Senna.

Acho tudo isto engraçado: do deserto – o último filme sobre corridas foi o horrível “Driven”, feito por Sylvester Stallone, e isso já tem mais de dez anos – passamos para a abastança. Parece ser uma nova moda, com muitos a quererem fazer um projeto bem feito, outros que querem simplesmente aproveitar a onda. Longe vão os tempos de “Grand Prix” e “Le Mans” – ambos filmes de culto e do qual todo e qualquer “petrolhead” deve ver pelo menos uma vez na vida. O primeiro filme, realizado por John Frankenheimer, venceu três Oscares em termos técnicos – e foi o avô em termos de colocar câmeras nos carros de Formula 1 – e o segundo foi um projeto pessoal de Steve McQueen, um dos maiores atores do seu tempo e um reconhecido “petrolhead”. “Le Mans” foi um fracasso na altura, por ser demasiado experimentalista, e por causa disso, a sua produtora, a Solar Productions, foi à falência.

Todos estes projetos, caso algum dia cheguem às salas de cinema, serão objeto do maior escrutínio de nós, que sabemos da realidade e de como esta história foi contada. Pessoalmente, detesto demasiadas liberdades criativas - é por isso que prefiro ver documentários do que “biopics” – mas como toda a gente, gosto de um filme bem feito. Claro, quem esfrega as mãos de contente é Bernie Ecclestone, porque a Formula 1 vai estar no cinema nos próximos tempos, mas há uma “nuance”: com a excepção de “Senna” e o tal filme sobre Dick Seaman, o máximo que vai é o inicio dos anos 80, ou seja, a Formula 1 atual não parece estar nos planos de Hollywood. Pode ser por causa do tempo, mas eu acho que também pelo seu desinteresse.

Contudo, creio que haja uma excepção: um documentário sobre Bernie Ecclestone. Acho que seria engraçado se fizesse algo desse género, mal o anãozinho fosse ter com o Capeta. Seria engraçado ver todos os que lidaram com ele tirarem os esqueletos do armário para dizer o que pensavam dele. Muitos o elogiariam, é certo, mas outros aproveitariam para acertar contas “além-túmulo”. Há ainda muita raiva acumulada, algo que - suspeito - nem as recentes biografias aliviaram totalmente.

Sem comentários: