domingo, 24 de fevereiro de 2013

CPR: da letargia ao "buzz"

No final de 2012, o panorama do Campeonato Português de Ralis (CPR) era o da decadência: o parque automóvel era pequeno, não havia pilotos a correrem em S2000, o campeão, Ricardo Mouta, tinha vindo dos Açores para vencer a bordo de um Mitsubishi Lancer Evo IX de Grupo N e em muitos aspectos, os carros da Categoria Open eram mais velozes do que os oficiais, para não falar da pobreza que era a lista de inscritos de qualquer um dos ralis desse campeonato de 2012. 

Não se admira que toda a gente queria mudar o panorama e se falou, nos bastidores, de um "golpe de estado" para derrubar a atual direção da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK), que era vista como um obstáculo à mudança. Atenta, reagiu: ouvindo os clubes, decidiu reduzir custos, fez uma fusão parcial entre o CPR e o Open e fez um campeonato mais pequeno, colocando as "provas rainha" - Rali de Portugal, Açores e Madeira - num campeonato à parte, do qual os pilotos não estavam obrigados a ir. Por causa disso, as coisas mexeram-se: em poucas semanas, assistiu-se a uma "retoma" inesperada, com alguns dos grandes nomes dos ralis nacionais, como Bernardo Sousa, Bruno Magalhães, Miguel Campos, Pedro Meireles, José Pedro Fontes e até "dinossaurios" como Adruzilio Lopes, a anunciarem os seus regressos.

Mas mais espantosa essa retoma foi o facto de irem buscar carros da categoria S2000 para competirem neste campeonato. Primeiro, Meireles num Skoda, depois Sousa num Peugeot 207 S2000, e no futuro, provavelmente outros carros, que até poderão vir na nova categoria R5, que a FIA elaborou e cujas marcas estão a finalizar os seus carros. A ideia de se ter cinco, ou mais carros dessa classe por aqui é algo espantoso, para dizer o mínimo.

O "completar do círculo" aconteceu ontem em Fafe. 59 carros, em várias categorias - S2000, Grupo N, e outros - alinharam neste ali, o maior número nos últimos anos, e o publico correspondeu a esse "buzz", enchendo as classificativas de um rali que começou e acabou no mesmo dia. Bernardo Sousa, mesmo dizendo que não sabe se irá fazer todo o campeonato, foi o melhor num carro que não é novo e que estava despido de patrocinios. Deu o seu melhor numa tática inteligente e conseguiu superar toda a concorrência, especialmente Ricardo Moura. Um ilhéu - Bernardo é da Madeira - a superar o açoriano Moura. A completar o pódio ficou Pedro Meireles, que no seu Skoda Fábia S2000, ainda se encontra a adaptar-se ao carro.

Ainda não conseguimos garantir apoios e só por isso é que alinhámos em Fafe com a carroçaria do Peugeot 207 S2000 sem um único autocolante. Ou seja, participámos com o objectivo claro de demonstrarmos o profissionalismo e a competitividade do projecto. Se o resultado espelha o que podemos fazer nas restantes provas do campeonato, fico agora na expectativa que também ajude nas negociações que andamos a estabelecer com potenciais patrocinadores. O campeonato vai ser um dos melhores dos últimos anos, os portugueses voltaram a comparecer em grande número e eu gostaria de lutar pela conquista do meu segundo título”, começou por afirmar após a cerimónia do pódio. 

"Queremos lutar pelo título, mas para além dos objectivos desportivos, queremos que este seja um projeto de comunicação para todos os que nele apostem. Os ralis são a modalidade rainha do automobilismo nacional, o Campeonato de Portugal de Ralis promete ser um dos mais competitivos e espectaculares dos últimos anos e o público continua a sentir um carinho especial pela modalidade, como aliás ficou bem evidente no último sábado. No fundo, estamos confiantes e vamos continuar a trabalhar para estarmos à partida das próximas provas”, concluiu.

Já Ricardo Moura, o segundo classificado, era outro piloto satisfeito com o seu resultado: “Um segundo lugar no meio de dois S2000 é excelente", começou por dizer o piloto açoriano, no final do rali. "Fico satisfeito por ter conseguido andar a este nível, nesta que foi apenas a minha terceira participação em ralis na zona de Fafe. É um momento importante na minha carreira, porque veio clarificar aquilo que fizemos nos dois últimos anos.", declarou. 

"Penso que esclarecemos em definitivo que o nível do Campeonato de Portugal de Ralis nos dois últimos anos já era muito elevado. Com o regresso de nomes sonantes ao CPR, demonstrámos em definitivo que os dois títulos absolutos que conquistámos, não foram obra do acaso.", continuou. 

"Entrámos muito bem na prova, e a nossa exibição em Fafe poderia ter sido ainda melhor, caso o nosso carro de Grupo N não tivesse tantas dificuldades em pisar o mau piso durante as segundas e terceiras passagens, onde inclusive no último troço, perdemos muita potência no motor do nosso Evo IX devido a falta de ventilação do intercooler. No entanto, este foi um excelente resultado”, concluiu.

Vendo as imagens e vendo o que foi este rali, parece que, num país de sombras, há um pequeno canto onde se pode, mais do que vislumbrar, sentir a luz no fundo do túnel. Veremos o que os próximos ralis nos reservarão.   

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