terça-feira, 29 de outubro de 2013

Justificando o injustificável

Desde que a Red Bull anunciou a surpreendente decisão de colocar o russo Daniil Kvyat na Toro Rosso, no lugar deixado vago por Daniel Ricciardo, que Helmut Marko anda a desdobrar-se em entrevistas a tentar justificar a escolha do russo em detrimento do português António Félix da Costa, que todos julgavam ser o candidato natural ao lugar. E agora a última justificação é que o piloto russo de 19 anos têm o estofo de Felipe Massa e Kimi Raikkonen, que entraram cedo na Formula 1 e a demonstrar todo o seu talento. 

Se você olhar para Räikkönen ou Massa, em como eles se adaptaram rapidamente à Formula 1 mesmo com pouca experiência em categorias menores, nós acreditamos que Kvyat pode fazer isso também”, começou por dizer. “Nós vimos como Daniil melhorou na Formula 3 e na GP3 neste ano, e o progresso dele tem sido fantástico de diversas maneiras”, afirmou, em declarações captadas pelo site brasileiro Grande Prêmio.

Nós também temos a impressão que ele está mais maduro, de menino para um rapaz. Félix [da Costa] teve seus altos e baixos. Algumas vezes ele foi rápido, mas não de uma forma constante. Além disso, Kvyat tem apenas 19 anos e Félix da Costa, 22, o que tornou a decisão mais fácil”, encerrou.

Portanto, Helmut Marko afirma que a sua rapidez inata foi o que o fez tomar uma decisão dessas. Não contesto a sua rapidez, mas ele está neste momento a disputar a liderança da GP3 com o argentino Facundo Regalia e ele até têm menos vitórias que Félix da Costa em 2012 - o russo têm duas, enquanto que o português conseguiu com três. O espantoso de toda a gente foi que só esperavam Kvyat em 2015, depois de ele passar pela World Series by Renault e fazer uma boa temporada, se conseguisse. E não há garantias de que em Abu Dhabi, apesar dos sete pontos que separam Kvyat de Regalia, ele tenha o "estofo suficiente" para superar o argentino na jornada dupla que falta disputar.

Também acho piada Marko usar a carta da "idade". Para ele, um piloto de 22 anos já é "velho para a Formula 1", o que me espanta um pouco, mas não tanto. Afinal de contas, lançou para os leões um jovem chamado Jaime Alguersuari, que tinha 19 anos quando chegou à categoria máxima do automobilismo. E não teve pejo nenhum de o dispensar dois anos mais tarde, transformando-o no mais jovem ex-piloto da história da Formula 1. E acho piada esta pressa toda. Se era isso, porque é que não colocou Félix da Costa num Toro Rosso nalgum treino livre no final do ano passado, inicio deste ano, ou então, que o colocasse como piloto titular a meio de 2013, em substituição de Jean-Eric Vergne ou Daniel Ricciardo? Para mim, não é mais do que uma desculpa esfarrapada. Só mesmo na cabeça de Helmut Marko que está a ver o Kvyat a fazer a pole-position em Melbourne numa Toro Rosso...

Não sei se o russo se vai estatelar "forte e feio", e eu não desejo isso, claro. Só tenho sérias dúvidas sobre a "divindade" do piloto, que Marko apregoa aos quatro cantos da Terra. Mas acho que toda a gente sabe como o programa da Red Bull consegue ser implacável com os seus pilotos. E ele não terá mais aquilo que Felipe Massa, Kimi Raikkonen e até Jenson Button tiveram na década passada: experiência em testes. É certo que ele vai ter a oportunidade de andar no carro da Toro Rosso em Austin e Interlagos, e terá também a oportunidade de correr nos testes de pré-época. Mas não vejo Kvyat a fazer cinco mil quilómetros como tiveram Button, Massa ou Raikkonen na década passada. Os tempos dos testes ilimitados acabaram, e esta gente nova têm muito menos experiência a guiar carros de Formula 1, num tempo em que se exige que aprendam da pior forma. E Kvyat vai ter menos treinos livres que Ricciardo em 2011, por exemplo, e não terá uma vaga na HRT como teve o australiano.

Quero ver para crer que esse Kvyat é algum iluminado, como diz o Marko. Até prova em contrário, só foi para a Toro Rosso devido ao tamanho da sua carteira. Ponto.

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