quinta-feira, 17 de abril de 2014

A dependência automobilística do dinheiro russo

E nestes dias que correm, quando um mal surge na Formula 1, parece que nunca vêm só. Continua a ter a ver com a politica, mas já vai além do duelo entre Jean Todt e Bernie Ecclestone. A situação periclitante no leste da Ucrânia, com as ameaças de guerra civil entre o governo central e as "regiões rebeldes" pró-russofonas do leste, para além da ameaça de invasão russa, a tomar forma a cada hora que passa, arrisca a uma reação em cadeia da comunidade internacional. E esta já começou, logo após a tomada da Crimeia por parte da Rússia: os Estados Unidos e a União Europeia aplicaram sanções económicas a bancos e pessoas estritamente ligados ao presidente Vladimir Putin. E algumas dessas entidades, nomeadamente o banco SMP, têm investido bastante no automobilismo, nomeadamente na Endurance, na IndyCar – Mikhail Aleshin – e na Formula 1, com Serguei Sirotkin e Daniil Kvyat.

Muitos desses oligarcas que andaram nos últimos anos a ligar-se a Vladimir Putin também começaram a fazer ligações à Formula 1, particularmente a Sauber e a Marussia. A equipa suíça tenta desde meados de 2013 atrair capital russo, chegando a dar em compensação um lugar como piloto de testes ao jovem Serguei Sirotkin, de 19 anos, no sentido de o preparar para a Formula 1 em 2015, enquanto que a Marussia, apesar de ter sede inglesa e ser gerida pela Manor, é financiada pelos oligarcas. Primeiro, Nicolai Fomenko, o fundador dos automóveis Marussia, e depois por outro oligarca, que aparentemente, no final de 2013, pagou todas as dívidas da fábrica contraídas até agora.

No caso do banco SMP, esta foi fundada e têm como grande acionista o banqueiro Boris Rotemberg, cuja fortuna pessoal rondava os 1,7 mil milhões de euros no final de 2013. Para além do futebol - e proprietário do clube Dinamo de Moscovo - ele está envolvido na Endurance, através da SMP Racing, bem como quatro carros da Ferrari na European Le Mans Series. Na IndyCar, são eles que bancam a aventura de Mikhail Aleshin na Sam Schmidt Motorsports, enquanto que na Formula 1, quando se soube que Daniil Kvyat fora escolhido na Toro Rosso em detrimento de António Félix da Costa, falava-se que o banco russo tinha contribuído com a equipa de Faenza na ordem dos 15 milhões de euros.

Sem o dinheiro russo, devido ao congelamento das contas, poderá ser quase impossível a estas equipas financiarem as suas operações, pelo menos no curto prazo, e teme-se pelo futuro, o que poderá levar ao encerramento das suas atividades, pois o dinheiro fornecidos pelas equipas não é o suficiente para pagar as contas. Daí que a Sauber e a Marussia, estarem agora a puxar por uma limitação de custos, pois só assim as suas operações se tornam sustentáveis.

Para além disso, existe um problema que surgir no horizonte num futuro próximo: como será em outubro, quando a Formula 1 ir a Sochi, palco do Grande Prémio da Rússia? Se Bernie Ecclestone ainda mandar no circo, e a situação continuar a estar como está, poderemos ver de novo os exemplos do passado (África do Sul, Bahrein) e muito provavelmente ignorará as sanções internacionais e levará o pelotão à cidade olímpica, a 12 de outubro. Mas dependendo do que acontecer até lá, muito provavelmente a comunidade internacional poderá não ser tão passiva assim neste caso, como foi em 2012 com o Bahrein, onde ele ignorou os apelos ao boicote, preferindo receber o dinheiro e ir para a pequena ilha do Golfo Pérsico, num autêntico “business as usual”.

Em suma, vamos esperar para ver. Esta quinta-feira houve conversações a quatro (Rússia, Ucrânia, Estados Unidos e União Europeia) em Genebra e tudo indica que houve progressos. Vamos a ver como acabará esta história.

Sem comentários: