terça-feira, 13 de maio de 2014

Os Pioneiros: Capitulo 17, Gordon Bennett em terras irlandesas

(continuação do episódio anterior)


A TAÇA GORDON BENNETT EM TERRAS BRITÂNICAS


Os sucessos de Selwyn Edge e de Charles Jarrot no ano anterior, em provas europeias, fizeram com que os britânicos tivessem o direito de organizar a Taça Gordon Bennett desse ano. Contudo, eles tinham muitos obstáculos pela frente nesse campo, porque havia leis na Grã-Bretanha a impedir a realização de provas automobilísticas nas suas estradas. Assim sendo, a RAC, o Royal Automobile Club, andou à procura do sitio ideal para a competição, e a encontrou nas pouco povoadas estradas irlandesas, mais concretamente em Athy, no County Kildaire.

Com a ajuda dos deputados irlandeses da Câmara dos Comuns, uma petição foi apresentada a 14 de março e foi aprovada, com a prova a ser marcada para o dia 2 de julho, num circuito fechado, seguindo o modelo belga. O RAC, em reconhecimento dos feitos dos irlandeses em acolher a sua prova, decidiu pintar os seus carros de "sharmrock green", a cor que veio depois a ser o famoso "british racing green".

A pista tinha 83 quilómetros na sua extensão maior, e decidiu-se que os concorrentes fariam sete voltas a ela, mas havia um atalho do qual os concorrentes faziam nas voltas pares, enquanto faziam a maior distância nas voltas pares, com a volta final a ser feito no percurso mais longo.

Quatro nações acolheram o desafio. A Grã-Bretanha colocou o vencedor do ano anterior, Selwyn Edge e Charles Jarrot, o campeão da Corrida das Ardenas, ambos em Napier, enquanto que o terceiro piloto encontrou-se numa corrida de qualificação. O vencedor acabou por ser J.W. Stocks, que também correu num Napier.

No lado francês, a equipa era composta por René de Knyff, e Henri Farman, ambos em Panhard, e Fernand Gabriel, num Mors. Do lado americano, os pilotos eram Alexander Winton e Percy Owens, ambos num Winton, e Louis Mooers, num Peerless.

Já o lado alemão foi mais profissional, mas houve polémica à mistura. Inicialmente, a Mercedes apresentou-se com três carros, dois deles guiados por profissionais: Otto Hyeronimus e Christian Werner. Contudo, os regulamentos determinavam que os pilotos tinham de ser membros do automóvel clube do seu país, e ambos eram meros empregados da marca. Num pais aristocrático como o alemão, ambos foram recusados, mas Emil Jellinek, o financiador da marca, entrou num duelo com as autoridades alemãs para inscrever os seus pilotos. Por fim, cederam, mas apenas em metade: Hieronymus foi aceite, mas Werner não.

Para piorar as coisas, os carros de 90 cavalos, especialmente preparados para a corrida, perderam-se todos num incêndio na fábrica e como recurso, foram buscar carros menos potentes, de 60 cavalos. E em termos de pilotos, a escolha foi mais pragmática: dois belgas, o Barão Pierre de Caters e Camile Jenatzy, e o americano James Foxhall Keane, um desportista nato, há muito radicado na Europa.

O primeiro a partir foi Edge, mas pouco depois, recebeu assistência fora da estrada e acabou por ser desclassificado. O último a partir foi o Mercedes de Keane, mas demonstrou que mesmo com opções de recurso, eram os mais rápidos, com ele a fazer a volta mais rápida. No final da segunda volta, se dúvidas existia, Jenatzy dissolveu-as, ao tomar o comando da corrida.

Na terceira volta, Jarrot sofre um despiste devido à quebra da coluna da direção e fratura a clavicula. O primeiro a parar para o ver foi o Barão Pierre de Caters, que quando viu que ele não corria perigo de vida, continuou, para logo a seguir parar numa bancada montada para o efeito e anunciar aos presentes sobre o estado de Jarrot. A multidão aplaudiu o gesto de desportivismo, mas isso não adiantou muito na classificação geral, pois desistiu quando o seu eixo traseiro cedeu. Pouco depois, o mesmo aconteceu a Keane.

Restava Jenatzy, que mantinha-se na frente, seguido fortemente pelos carros franceses. O piloto belga mantinha o ritmo, apesar das pressões de René de Knyff, e no final acabou por ser o vencedor, conseguindo dar à Mercedes a sua primeira grande vitória internacional, com um avanço de onze minutos e 40 segundos sobre De Knyff. Henri Farman completou o pódio, e todos souberam assim que a Taça Gordon Bennett de 1904 iria ser disputado em paragens alemãs.

(continua no próximo episódio)

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