quarta-feira, 7 de maio de 2014

Pagar para sair: mais uma saga de Maldonado

Esta noticia já têm algum tempo, mas ao ler isto, faz pensar que a passagem de Pastor Maldonado pela Formula 1 deverá merecer, não um livro, mas uma data de livros. É que se já vi muito piloto pagar para entrar, é bem raro pagar para sair. Mas foi o que aconteceu no final de 2013, quando quis sair da Williams para correr na Lotus. E claro, quem pagou a conta foi a estatal venezuelana do petróleo, a PDVSA.

Já se sabia que Maldonado tinha pago para sair, mas no inicio desta semana, o jornal "The Telegraph" disse que o valor ficou na ordem dos 25 milhões de dólares, quase 18 milhões de euros, para que o piloto pudesse ir para a Lotus nesta temporada, depois de uma época decepcionante na equipa de Grove, onde só conquistou cinco pontos - quatro deles provenientes do oitavo lugar de Valtteri Bottas em Austin - Com isso, o orçamento da equipa passou de quatro milhões de dólares de prejuízo, em 2012, para 14 milhões de dólares de lucro, na temporada seguinte.

É uma história bem interessante. Se formos a comparar como anda a equipa antes e agora, poderemos ir bem além dos pilotos, dos motores e dos patrocinios. Se formos pensar bem, tirando da PDVSA e os pequenos patrocínios que Bottas trouxe da Finlândia, não me recordo de mais algum grande ou sequer médio patrocinador a entrar nas contas da empresa durante esse tempo. É certo que esses 18 milhões fazem parte de uma cláusula que eventualmente Williams e PDVSA assinaram em relação a alguma quebra de contrato antes do final do prazo estabelecido, daí este dinheiro todo. E falamos de um patrocinador generoso: em média, os contratos valiam à volta dos 40 milhões de dólares, mais ou menos 25 milhões de euros. É muito, para o prejuízo que teve.

Mas o mais interessante é ver o que a Williams conseguiu depois da saída de Maldonado. Os motores Mercedes era algo que se esperava, pois fazia parte do acordo de compensação pela marca alemã ter levado dali o seu sócio minoritário, Christian "Toto" Wolff. Ter aqueles motores alemães "quase de graça" foi meio caminho andado para que eles tivessem o bom começo de temporada que estão a ter agora, sendo a quarta equipa do campeonato, a par da McLaren. Só faltam os pódios, algo que até a Force India já têm, mas também, só estamos ainda na quarta corrida do ano.

Contudo, o mais interessante são os patrocínios que a marca de Grove têm este ano. A Martini, muito elogiada por toda a gente, coloca 15 milhões de euros por temporada, e os patrocinadores brasileiros (Petrobrás e Banco do Brasil) colocam ao todo cerca de 20 milhões de euros. Tudo isto, somado à compensação da PDVSA, faz com que os cofres estejam um pouco mais recheados, e se respira um pouco melhor naquela equipa. Mas também temos de pensar outra coisa: a reputação de Maldonado e da Venezuela caiu tanto na Formula 1 que se tornou um pouco um "ativo tóxico", do qual todos têm aquele dilema de ou se afastam, ou se abraçam, como um Pacto com o Diabo. E isso faz-me lembrar o que se passa neste momento com a Sauber, que tentou tanto arranjar dinheiro em paragens russas que quando se viu que iria conseguir... a geopolitica interferiu nos seus planos.

E com isso, volto a Maldonado e à Venezuela. Tem alturas que olho para ele e para as suas atitudes e não deixo de pensar se ele não será o espelho do seu país, que vive tempos agitados, com uma divisão da população que arrisca aumentar a cada dia que passa, e cujas consequências são imprevisíveis. Toda a gente saber que Maldonado está lá por causa dos petrodólares, e está numa Lotus que necessita desesperadamente de dinheiro para pagar as suas contas. Têm salários em atraso e combate a "fuga de cérebros" da melhor maneira possível, e esse dinheiro serve para estancar essa hemorragia, mas com a agressividade que já entra nos anais da lenda, creio que vai ser mais gasto em reparar o seu chassis do que para alcançar bons resultados. É que em quatro corridas, a Lotus têm zero pontos, e precisa disso como do pão para a boca.

E que tentem domar Maldonado, senão, vão ter de pagar para que ele não corra. A cada corrida, ele se torna num ativo tóxico e num perigo para os corredores.

2 comentários:

Ron Groo disse...

Nada que venha deste cara me surpreende.

Anselmo Coyote disse...

Groo, Maldonado é uma pessoa. Hugo Chávez e Nicolás Maduro são outras.
Não confunda. Quem ganhou uma corridinha para aquela Williams horrível foi justamente esse maluco aí.
Abs.