quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Andrea de Cesaris, por Bruno Giacomelli

Na semana que se seguiu ao desaparecimento de Andrea de Cesaris, surgiram tributos de toda a parte, principalmente de aqueles que conviveram com ele, alguns dos bons amigos que fez no seu longo tempo na Formula 1. E um dos que fez uma sentida homenagem ao piloto de Roma foi um compatriota seu, Bruno Giacomelli.

Atualmente com 62 anos, Giacomelli venceu em 1977 o campeonato europeu de Formula 2, antes de guiar na Formula 1 como piloto da McLaren, Alfa Romeo, Toleman e a infame Life, em 1990, depois de sete anos de ausência. Foram companheiros de equipa por duas vezes, uma no final de 1980 e a outra durante toda a temporada de 1982, onde desenvolveram uma forte relação de amizade. E nesta homenagem, falando ao jornalista da Motorsport, Sam Smith, Giacomelli recorda-o:

"Ele era como um irmão mais novo para mim e eu acho que ele me apreciou olhando para mim como um irmão mais velho também", começa por dizer. "Corremos juntos por apenas uma temporada [quando ambos correram para a Alfa Romeo em 1982], mas também competiu com a equipa  Lancia, num LC2, por vezes. Competindo com ele, era sempre um prazer."

Giacomelli era muito mais do que apenas um dos inúmeros companheiros que De Cesaris teve durante sua longa carreira de 15 temporadas na Formula 1. "Ele era meu amigo. Só tenho boas lembranças de Andrea. Você sabe, ele era uma pessoa muito gentil e genuína. Um pouco como Gilles [Villeneuve] em que ele tinha uma personalidade muito diferente ao volante do que ele tinha fora do carro. Ele era uma pessoa honesta e divertida."

Giacomelli fala que a primeira vez que viu De Cesaris foi um Thruxton, em março de 1978, quando a Formula 2 e a Formula 3 coincidiram naquele fim de semana. "Andrea estava apenas começar na F3 [num Tiga-Ralt de Tim Schenken] e eu estava com o March-BMW oficial de F2. Nós éramos os únicos dois italianos que vivem no Reino Unido e lembro-me encontrar com ele de vez em quando e realmente gostar dele. Ele era muito jovem, então [tinha 19 anos], mas era óbvio que ele era veloz e iria ter uma bela carreira no automobilismo."

Em 1979, De Cesaris era candidato ao título na Formula 3 britânica, mas apesar de ter vencido seis corridas, perdeu para o brasileiro Chico Serra, não sem alguns contratempos e acidentes que lhe começaram a dar fama de "De Crasheris". Uma delas aconteceu em Oulton Park, onde ele colidiu com Nigel Mansell, e o "brutânico" acabou no hospital, com alguns ossos fraturados.

No ano seguinte, alinhando no Project Four de Ron Dennis, ao lado do seu arqui-rival Serra, apenas venceu em Misano, numa temporada dominada pelos Toleman de Derek Warwick e Brian Henton. Mas no final do ano, teve a chance de se estrear na Formula 1 a bordo do Alfa Romeo que era de Patrick Depailler, antes de este se ter matado durante testes do carro em Hockenheim. Vittorio Brambilla andou com ele por duas corridas, mas as provas americanas foram usadas para que o jovem italiano - tinha apenas 21 anos quando se estreou no Canadá - pudesse ter uma ideia do que era correr na categoria máxima do automobilismo.

"1980 foi um ano difícil e lembro que era realmente a minha primeira temporada completa na Formula 1", reflete Giacomelli. "Andrea entrou para a equipa em Montreal e Watkins Glen e deu-se bem [ele qualificou no oitavo lugar na sua estréia na Formula 1]. Eu podia ver que ele foi rápido, mas que lhe faltava confiança. Você sabe, quando você olha para a temporada seguinte, a de 1981, quando se juntou a Ron Dennis na McLaren, ele teve um monte de acidentes. Mas ele estava aprendendo num ambiente britânico e ele ainda tinha apenas 22 anos de idade. Andrea era o tipo de cara que realmente precisava ser confortável na equipa e na McLaren nessa idade, e com o que estava acontecendo dentro da equipe, acho que aquele não era o ambiente ideal para ele."

Depois da terrivel temporada de 1981 e da reputação que tinha arranjado - e do qual nunca se iria livrar para o resto da sua carreira - em 1982 estava de volta à Alfa Romeo, ao lado de Giacomelli, onde conseguiu alguns feitos, como a pole-position em Long Beach e um pódio no Mónaco. Mas nesses dias, De Cesaris e Giacomelli conheceram-se melhor e tornaram-se grandes amigos. O primeiro fim de semana juntos foi em Kyalami, na mesma altura em que os pilotos resolveram fazer uma greve para chamar a atenção à FISA e à FOCA sobre as suas condições.

"Nós já nos conhecemos muito bem, mas em Kyalami, aquela foi uma boa experiência para os pilotos, por passarem todo aquele tempo juntos. Andrea sempre foi uma pessoa muito positiva e tenho boas lembranças dele no hotel na África do Sul, brincando e divertindo-se com os outros pilotos".

Tempos depois, foi o GP do Mónaco. A Alfa Romeo fez uma excelente qualificação - Giacomelli foi terceiro e De Cesaris sétimo - mas a corrida de Bruno foi encurtada na quarta volta, quando o eixo se quebrou. Já De Desaris esteve prestes a ganhar quando a gasolina acabou na última volta, quando passava por Massenet. Mesmo assim, deu para o terceiro lugar e o seu primeiro pódio da sua carreira.

"Foi uma corrida incrível e eu me senti tão triste por Andrea", diz Giacomelli. "Nós qualificamos bem, eu era o terceiro e depois consegui chegar ao segundo lugar, atrás de Arnoux, mas depois de cinco voltas o meu eixo quebrou. Eu estava com muita raiva. Mas não tão irritado e chateado como Andrea estava no final da corrida!", exclamou.

Contudo, essa amizade foi colocada à partida do GP da Austria daquele ano, quando ambos se eliminaram nos primeiros metros da corrida. De Cesaris tinha se convencido que Giacomelli tinha batido nele e ficou tão zangado que ambos não se falaram por algum tempo. Contudo, quando apareceram fotografias dessa colisão, as coisas tomaram um rumo diferente:

"Nós não nos falamos por duas semanas até à próxima corrida [em Dijon]. Andrea tinha a certeza que a culpa era minha, mas eu sabia que estava inocente. Em seguida, no paddock, um fotógrafo veio com algumas fotos da partida, que mostra que ele bateu no Williams de Daly, que me entalou entre ele e o guardrail. Mas você sabe que uma coisa boa sobre o Andrea foi que, quando viu as fotos que ele virou para mim e disse: 'Bruno, estou arrependido, você estava mesmo certo, peço desculpas'. Como eu disse Andrea foi muito correto e honesto e também não muito orgulho de dizer que ele estava errado."

No final de 1982, Giacomelli muda-se para a Toleman, enquanto que De Cesaris continuou na equipa de Varese, fazendo uma excelente temporada, com boas corridas em Spa-Francochamps, e pódios em Hockenheim e Kyalami, a bordo do competitivo modelo 183T. "Eu fiquei amigo dele depois de 1982, é claro", diz Giacomelli. "Nós costumávamos passar o tempo com Nelson Piquet, a esquiar ou apenas de férias, principalmente na Sardenha e em Sestriere nos meses de inverno."

"Andrea adorava windsurf e ele era muito bom. Ele competia muitas vezes e geralmente ganhava. Era algo do qual era um bom substituto à sensação de correr na Formula 1. Ele precisava competir e ele fez isso muito bem no windsurf. Ele viajou por todo o mundo procurando os melhores lugares e condições para praticar."

"Era uma excelente pessoa, e vou recordar disso quando for para Roma, para o seu funeral, na quinta-feira. Ele teve uma grande vida", concluiu.

1 comentário:

Por Dentro dos Boxes disse...

quando se perde um amigo, se perde também um pedaço de si mesmo...