sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

A história de Tyler Alexander, um discreto fundador (parte 5)

(continuação do episódio anterior)

Quando Carl Haas tinha decidido entrar na Formula 1, com uma operação a complementar o que tinha nos Estados Unidos, não havia equipas americanas na categoria máxima do automobilismo desde 1980, quando desapareceu a Shadow. E este projeto era ambicioso: uma companhia de distribuição alimentar, a Beatrice, era a grande patrocinadora, complementada por outras companhias mais pequenas, a Ford tinha decidido dar um motor Turbo, preparado pela Cosworth. Com esse dinheiro, poderia contratar alguns dos melhores incluindo Alexander e Teddy Mayer.

"Como o Carl vendia Lolas nos Estados Unidos, ele chamou o carro de Lola, mas na realidade, não era. O chassis era desenhado pelo Neil Oatley, que tinha vindo da Williams, nós tínhamos Ross Brawn e John Baldwin, e depois tivemos o Adrian Newey na equipa. Tínhamos uma fábrica em Colnbrook, construimos um bom carro, tinhamos tudo para dar certo. Infelizmente, as politicas é que estragaram tudo".

Eles queriam começar no final daquela temporada com os motores Ford Turbo, mas atrasos no desenvolvimento desse motor fizeram com que eles tivessem de recorrer aos motores Hart. Alan Jones correu cm o primeiro carro no final dessa temporada, mas não era nem competitivo, nem fiável. Contudo, o chassis THL2 era melhor, e com o Patrick Tambay ao volante, havia esperanças para a temporada de 1986.

"Keith Duckworth odiava turbos. Cosworth fazia montes de promessas de que teriam o motor pronto a tempo, mas no dia 1 de janeiro, fui a Northampton e me disseram: 'não temos o motor pronto até ao GP do Mónaco.' No regresso, parei na primeira cabina telefónica, liguei ao Teddy e ao Neil e lhes disse: 'é melhor estarem sentados quando vos contar isto'. Tivemos de mudar os chassis de volta para os Hart, com um sistema de arrefecimento diferente, radiadores, escapes... tudo, para estarmos prontos para a primeira corrida, no Rio de Janeiro. 

"Tive muitos períodos da minha vida sem dormir, mas aquele fevereiro foi inesquecível. Nós trabalhamos da forma mais dura que posso imaginar. Tivemos o nossos primeiro motor Cosworth em abril, em Imola, e no Mónaco, ambos os carros já o tinham. Mas quando ligavas o botão da pressão do turbo, para fazeres uma volta rápida ou para ires mais veloz, começava a aquecer. Mas fizemos progressos, na Austria os nossos carros acabaram no quarto e no quinto lugar. Em Monza tínhamos um motor novo, e porque era-nos desconhecido, Teddy colocou-o no carro do Tambay. Nos treinos, Tambay passa na reta colado ao Lotus do Senna. Na volta seguinte, ainda estava lá. Descobrimos que ele era 18 km/hora mais veloz nas retas do que o Jones. Ele começou a reclamar, foi para o motorhome e ficou por lá."

"Com as pessoas que tínhamos, poderíamos ter feito as coisas bem, mas no automobilismo, aconteceram coisas dos quais não resultaram como queríamos. No final daquela temporada a Beatrice tinha sido vendida, e tudo parou. Depois, Carl me pediu se não queria vir para os Estados Unidos dirigir a Newman-Haas Racing com o Andretti, e perguntou se não queria levar o Adrian para dirigir a parte técnica. Então eu disse a ele 'se fores, eu vou contigo'. Ele aceitou e e fui com ele."

Nessa altura, a Newman-Haas era das melhores equipas da IndyCar e tinha ao volante um dos melhores pilotos de então, Mário Andretti. Apesar da longa carreira de ambos, quer na IndyCar, quer na Formula 1, só em 1987 é que tiveram a oportunidade de trabalhar juntos.

"Não conhecia bem o Mário até aquela altura, mas ficamos amigos em 15 minutos. É uma pessoa mágica. Independentemente de ter o capacete posto, no carro, ou quando está a conversar contigo nas boxes, têm uns olhos mágicos. Não sei como explicar, era como o Bruce, hipnotiza-nos".

"Quando o carro veio da Lola, e os motores da Ilmor, fomos testar para Laguna Seca e as coisaas até correram bem, até que a asa traseira se soltou. Mário voltou às boxes a pé, com uma parte do carro num lado, e a outra parte do carro do outro. descobrimos depois que a asa não tinha sido fixada propriamente, o que nos desagradou bastante. Mas nós consertamos o carro, fomos para a primeira corrida do ano em Long Beach e o Mário faz a pole. 

"Na pré-grelha, tou a andar com o Paul Newman, que era uma pessoa verdadeiramente amistosa, demos de caras com o George Harrison e o Tom Petty e ele diz: 'Depois da corrida, venham ter à nossa motorhome para bebermos um copo de vinho'. Então, o Mário vence a corrida, e eles aparecem. Foi uma festinha inesquecivel. A seguir, veio Phoenix, Mário estava outra vez na pole, mas desistiu com um problema mecânico. Depois, veio Indianápolis. Mario era o mais veloz ao longo de todo o mês, coloca-nos na pole-position, lidera grande parte da corrida, até que a dez minutos do fim, uma das valvulas interiores quebra-se. Não sabia se iria chorar ou vomitar."

"Estive na Newman-Haas por quase três anos. Eu era o 'manager', o Carl era o vendedor, vendia o negócio a todos que esatavam ao seu alcance, e o Paul era o relações públicas. Em 1989, decidi que iria colocar um segundo carro na equipa, e o Michael veio ter conosco. Fiquei a dirigir a equipa, mas entretanto, aparece uma carta vinda do sr. Ron Dennis: estaria interessado em voltar à McLaren? Sabe, não conhecia ninguém que tinha trabalhado com o Ron e tivesse voltado.

"No final, chegamos a um acordo, e apareci por lá em Suzuka, no final de 1989. Foi no fim de semana em que o Alain Prost bateu no Ayrton Senna, ele foi pela escapatória, e desclassificaram por isso. Depois disso, o Nelson Piquet disse aos comissários: 'Que raio vocês andam a fazer? É para isso que serve a escapatória, Vocês estragaram tudo'. O que é surpreendente, vindo do Piquet, porque como sabes, não havia amizade entre eles."

(continua amanhã)

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