sexta-feira, 3 de abril de 2015

Igualdade e meritocracia

A discussão sobre as mulheres no automobilismo continua a decorrer por estes dias. E ao mesmo tempo que se comenta sobre mais uma ideia de Bernie Ecclestone, surgiu ontem a noticia de que o organização da Endurance, a WEC, irá banir as "grid girls" até ao final do ano. Uma medida que se elogia, dado que afastaria o estigma do machismo do automobilismo e convidaria mais mulheres a aparecer por lá.

Na conta oficial do Twitter, a organização do Mundial da Endurance comunicou da seguinte forma:

"As garagens, bancadas, tendas de hospitalidade e salas de media do Mundial WEC estão cheias de belas mulheres, sempre muito apreciadas por todos e não apenas antes das partidas. Temos muitas mais mulheres bonitas que trabalham com a WEC do que apenas aquelas que seguram os painéis numéricos. Nós acreditamos que os carros são as belezas e o espirito de Le Mans ecoa em tudo que fazemos" concluiu.

A decisão colocou a Formula 1 um pouco mais para trás e um pouco mais "fora de órbita" em termos de acompanhamento dos tempos, mas creio que essa decisão ainda não foi pensada a sério, quando ainda se discute a história das mulheres. No meio disto tudo, já apareceu Michele Mouton, agora a presidente da comissão que promove a integração das mulheres no desporto, a criticar fortemente a ideia de Ecclestone. 

"Estou irritada e muito desapontada por Ecclestone estar talvez a pensar nas mulheres só para o espectáculo", disse a ex-piloto francesa, vice-campeã do mundo em 1982 e vencedora de quatro ralis. "Mais, pela minha experiência como piloto, acredito verdadeiramente que as mulheres querem competir a um nivel igualitário relativamente aos homens. Elas têm provado ao longo de décadas que é possivel, mesmo que tenham sido poucas. Esta igualdade de condições permite um indicador realista das prestações e iniciativa desportista a ser a melhor do mundo, independentemente do género", concluiu.

Mouton têm razão no que diz. A sua carreira, mais ao serviço da Audi, conseguiu ser melhor do que pilotos como Walter Rohrl, Stig Blomqvist, Ari Vatanen, Markku Alen ou Hannu Mikkola, entre outros, e conquistou o respeito dos seis colegas, mesmo que tenham engolido as vitórias dela em lugares como Sanremo, o Rali de Portugal e o Rali do Brasil, ambos em 1982. E num passado não muito distante, a Formula 1 teve pilotos como Lella Lombardi, a unica que pontuou numa corrida de Formula 1. Nem que tenha sido meio ponto numa das corridas mais infames da história do automobilismo, o GP de Espanha de 1975.

Mas se discute o lugar da mulher no automobilismo e torná-la menos sexista, também se discute a ideia de "quotas". Ao ler um artigo hoje no jornal português "A Bola", a ideia surgiu no último parágrafo do artigo. Honestamente, sou contra. E dois motivos vêm-me à cabeça: descer o nível dos pilotos e dar lugares a alguém que não merece, ou seja, promover a mediocridade. 

A IndyCar teve sempre mulheres, que correram contra homens porque acharam que mereciam - ou porque precisavam do dinheiro que elas tinham - e nunca reservou uma quota para elas. E se houve pilotos medíocres, como Milka Duno, também teve excelentes mulheres-piloto, que mereceram o respeito dos homens, como Danica Patrick e Simona de Silvestro. E Sarah Fisher, que também foi piloto, agora é manager da sua própria equipa, a Fisher Hartmann Racing, que este ano se fundiu com a Ed Carpenter Racing.

Arranjar uma quota feminina para o automobilismo é a mesma coisa que a ideia de Ecclestone de termos uma "Formula 1 feminina". Faz mais mal do que bem e só eternizaria o preconceito dos homens em relação ao sexo feminino, para além da promoção da mediocridade. Para quê ter uma piloto que seria uma chicane móvel? É por isso que prefiro mais a ideia meritocrática de uma piloto se degladiar contra os homens e os bater, para ganhar o respeito deles.

1 comentário:

Ron Groo disse...

Perfeito! Vamos dar igualdade às mulheres no automobilismo desempregando algumas delas...
Cada uma viu.
Teve uma categoria, sei lá qual, que junto com as grid girls colocou uns grid boys também. Mais sensato e mais justo.
E quanto a atrair as mulheres para a pista, porra... é só dar condição.
Começar a procurar piloto pelo talento e não pela carteira e certamente mulheres aparecerão.
Se aguentarão o tranco físico é outra coisa, mas elas aparecerão.