sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A história do campeonato sul-africano de Formula 1 (Parte 2)

(continuação do capitulo anterior)


JOHN LOVE, O PRIMEIRO DOMINADOR


Em 1963, sem Hocking, os grandes rivais para o campeão Pieterse eram Pieter de Klerk e Neville Lederle, já que outros pilotos, como John Love, tentavam a sua sorte em paragens europeias. Como Pieterse, Lederle tinha também um Lotus 20 para correr no campeonato, e foi algo fácil para ele, pois se tornou campeão com seis vitórias em nove possiveis, contra dois de De Klerk e uma de Syd Van der Vyer. Pieterse não ganhou qualquer corrida.

Já quando a Formula 1 regressou a East London, a 22 de dezembro, Lederle tinha-se lesionado num acidente e não participou, enquanto que todos os pilotos relevantes estavam lá, incluindo John Love, que foi o melhor dos locais... isto, se excluirmos Tony Maggs, que tinha sido décimo na grelha e sétimo na corrida. Maggs continuava a correr a tempo inteiro pela Cooper, e tinha conseguido um segundo lugar no GP de França, numa temporada dominada por Jim Clark.

Maggs continuaria a correr lá fora em 1964, desta vez com um BRM ao serviço da Scuderia Centro Sud, mas quem regressava para correr no campeonato local era o rodesiano John Love, que aos 39 anos, e depois de um acidente que o colocou fora de cena por boa parte do ano anterior, voltava para contrariar o dominio dos sul-africanos.

Nascido a 7 de dezembro de 1924 em Bulawayo, Love tornou-se mecânico antes de competir, quando preparava os motores do seu compatriota Jim Redman. Ele arranjou um Cooper de Formula 3 com motor Norton, que o montou e o fez entrar nas suas primeiras corridas, na Rodesia natal. Em 1958, passou para os automóveis e adquiriu um Jaguar D-Type, onde venceu o GP de Angola, em 1960. Pouco depois, rumou à Europa, participando na Formula Junior a bordo de um Cooper inscrito pela equipa de Ken Tyrrell, e chegou a andar num Mini no BTCC britânico, tendo vencido o campeonato em 1962. Contudo, um grave acidente em Albi, em 1963, quando corria numa prova de Formula Junior, fez cortar as esperanças de ir mais longe no automobilismo mundial. 

Depois de recuperar das suas feridas no braço direito, voltou à Africa do Sul e correu no campeonato local, embora tivesse tido a chance de correr pela Cooper no GP de Itália de 1964, no lugar de Phil Hill. Contudo, não conseguiu se qualificar para essa corrida.

Love já participava no campeonato desde o seu inicio, e foi o primeiro não-sul-africano a vencer em 1961, a bordo de um Cooper-Maserati, no Van Ribbeck Trophy, em Killarney. No ano seguinte, venceu no Rand Autumn Trophy, em Kyalami, antes de se dedicar ao campeonato a tempo inteiro, em 1964. Nesse ano, tinha um Cooper-Climax T55 que tinha arranjado no final da temporada de 1962, para correr no GP sul-africano, e numa temporada com 14 corridas - a maior de sempre, com uma ida à Rodésia e outra a Moçambique - Love entrou a matar em Killarney e Pietmaritzburg, com Clive Puzey a ser o vencedor em Kyalami, na Rand Autumn Trophy.

Depois de três vitórias de Pieter de Klerk no seu Alfa Spacial, Love venceu as três seguintes, incluindo a corrida moçambicana, e só voltaria a vencer no Rand Spring Trophy, a 10 de outubro, mas foi mais do que suficiente para vencer o seu primeiro campeonato. O que não se sabia era que até 1970, ele seria o unico vencedor.

Sem participar na temporada de 1964, a Formula 1 veio à Africa do Sul no dia de Ano Novo de 1965, em East London, com uma série de pilotos locais, tantos que a organização decidiu instalar um limite de 20 carros para participar. Ali, apenas De Klerk, Love, Tingle conseguiram qualificar-se, para além de Tony Maggs, que iria fazer ali a sua última corrida na Formula 1, antes de correr no campeonato local. De Klerk foi o melhor, chegando na décima posição, a seis voltas de Jim Clark, o vencedor.

A temporada de 1965 começou com o australiano Paul Hawkins a ser o vencedor da primeira corrida do ano, o Cape South Easter Trophy, mas nas restantes treze provas, o vencedor foi um só: John Love, fazendo com que a revalidação do seu título fosse uma formalidade. O dominio de Love em 1966 foi um pouco menos óbvio, pois foi o vencedor em sete das treze corridas daquela temporada, com Dave Charlton a vencer em três e Sam Tingle a ser o vencedor numa prova, bem como o britânico Bob Anderson.


O DIA EM QUE O LOCAL QUASE GANHOU


Sem Formula 1 em 1966 por causa do novo circuito, esta voltou a contar no calendário em 1967, sendo o primeiro do ano, e logo... no dia 2 de janeiro. Na lista de inscritos estavam apenas quatro pilotos que alinhavam nesse campeonato: os sul-africanos Luki Botha e Dave Charlton, e os rodesianos John Love e Sam Tingle. Love alinhava com um Cooper-Climax que tinha sido feito para correr na Tasman Series, com um motor de 2,7 litros, bem menos potente do que os carros com 3 litros que já existiam, mas que ainda eram muito frágeis em termos de durabilidade. Contudo, esse motor era muito glutão e o consumo de combustível era bem maior do que o normal, e para isso, Love tinha arranjado um depósito de combustivel suplente para ver se conseguiria ir até ao fim.

Quanto aos outros, Charlton e Botha tinham um Brabham-Climax cada um, e Tingle alinhava com um LDS-Climax.

Apenas com 18 carros inscritos, era fácil para os locais conseguirem resultados de relevo. E assim foi: Love ficou com o quinto tempo, Charlton com o oitavo, ambos entrando no "top ten", entre os grandes pilotos do pelotão da Formula 1. Para ficar com uma ideia, ambos ficaram na frente de, por exemplo, Jackie Stewart!

Na partida, os Brabham ficaram na frente, com Dennis Hulme a comandar as operações, com Surtees e Love logo a seguir. Brabham despistou-se e caiu para o quarto posto, antes de desistir na volta 41, enquanto que Love passou Surtees para ficar com o terceiro posto.

As coisas ficaram assim até à volta 59 quando Hulme começou a ter problemas nos seus travões, obrigando-o também a parar, no sentido de os reparar. O tempo perdido fez com que o líder fosse, sensacionalmente... John Love! E num carro desfasado!

Nas voltas seguintes, a veterania de Love fez com que pudesse andar de forma calma e consistente, poupando a mecânica enquanto podia e mantendo as distâncias. E à medida que se aproximava do fim, parecia que o impossível iria acontecer: uma vitória surpresa de um piloto que não fazia qualquer temporada completa no Mundial de Formula 1.

Contudo, a sete voltas do fim, o sonho acabou. Love notou que o seu Cooper não teria o combustível suficiente para chegar ao fim, e teve de ir às boxes para fazer um reabastecimento. Assim sendo, a liderança caiu nas mãos de outro piloto estreante nestas andanças, o mexicano Pedro Rodriguez, a bordo de um Cooper-Maserati, e só teve de o levar até à bandeira de xadrez, conseguindo estrear-se na galeria dos vencedores. E Love chegou ao segundo posto, a sua melhor posição de sempre, e a única vez que um rodesiano subia ao pódio de um Grande Prémio de Formula 1.

Em termos do campeonato local, Love continuou com o Cooper, mas trocou a meio do ano para ter um Brabham BT20, usado pela equipa oficial em 1966, mas mesmo com o carro antigo, venceu três corridas, antes de conseguir mais cinco com o carro novo, e sewndo campeão com trinta pontos de avanço com o seu maior rival, Dave Charlton, a ser o vencedor apenas no Rand Autumn Trophy e no Rand Spring Trophy, ambos em Kyalami.

(continua amanhã)

1 comentário:

Fern Kesnault disse...

cara...que acompanhar essa saga tua com esse campeonato que poucos conhecem...Valeu!