quarta-feira, 2 de março de 2016

Uma antevisão do Campeonato Nacional de Ralis

No próximo fim de semana de 4 e 5 de março, arrancará o campeonato nacional de ralis, com o Serras de Fafe. Rodado em pisos de terra, usa as classificativas mais famosas do Rali de Portugal, e este ano, serão dez especiais à volta de quatro classificativas: Confurco, Luílhas, Lameirinha e Montim.

Contudo, o mais interessante deste campeonato nacional de ralis de 2016 é o seu parque automóvel, pois estão "apenas" 14 carros de classe R5, apenas abaixo do WRC. E essa concentração é inédita num campeonato nacional em toda a Europa, como diz a Autosport na edição desta semana, num artigo escrito pelo jornalista José Luis Abreu:

"Sendo verdade que apesar do campeonato arrancar com mais de uma dezena de carros do agrupamento R5, nem todos os pilotos estão em condições de lutar pelas vitórias e muito menos pelo campeonato, até porque há muita incerteza relativamente a alguns projetos de topo.. Mas seja qual for a forma de olharmos para a questão, não há volta a dar. A exemplo do que se sucede no todo o terreno nacional, o CNR deste 'cantinho á beira mar plantado' arrisca-se a ser dos melhores da Europa.

E para o provar, nada melhor do que olhar um pouco para alguns dos principais países da Europa dos ralis. França é um caso à parte, sempre foi. Não é por acaso que os melhores pilotos têm de lá saído, tem um plantel imenso nas suas várias competições de topo. Já a Finlândia, tem dois R5 e listas de inscritos com centena e meia de carros. A Alemanha, três Porsche 997 GT3, dois Skoda Fabia R5, quatro Skoda Fabia S2000, com listas de inscritos que variam entre os 85 e os 130 concorrentes, para além da ADAC Rally Cup e a Citroen Racing Trophy. 

Na Holanda, um pais mais comparável a Portugal, entre 28 e 54 inscritos, correm todo o tipo de carros, mas nem sequer um R5, mas sim muitos WRC e Mitsubishi lancer Evo X. Na Austria, 50-90 inscritos, cinco S2000. Na Turquia, cinco S2000 e listas de 30 inscritos. Na Noruega, três R5, um WRC, listas de 80-120 inscritos. Na Bélgica, cinco R5, um Porsche R-GT. lista de 50-90 inscritos. Republica Checa, quatro R5, listas de inscritos enormes, quatro S2000. Polónia, sete R5, 50-95 inscritos. Itália, oito R5, dois S2000. Portugal terminou o ano de 2015 com sete R5 e dois S2000."

Como é de esperar, nem todos alinharão em toda a temporada. Todos estes carros estarão presentes no primeiro rali do ano, em Fafe, mas há pilotos como João Barros (na foto) que afirma alinhar esporadicamente, ou Ricardo Teodósio, que poderá aparecer em mais um ou outro rali durante a época. O piloto algarvio - que vai correr num Ford Fiesta R5 - foi até protagonista de um momento durante a pré-temporada, quando recorreu aos seus fãs para o apoiarem, pelo método "crowdfunding". Teodósio queria 5000 euros, mas não conseguiu mais do que dez por cento do valor proposto.

Mas destes 14 carros, há um grupo que se destaca. Não só porque vão fazer todo o campeonato, como também têm a experiência do seu lado. José Pedro Fontes, o campeão de 2015, no seu Citroen DS3 R5, o açoriano Ricardo Moura, tricampeão entre 2011 e 2013, num Ford Fiesta R5, João Barros, no seu Ford Fiesta R5 Evo (que como foi dito, este ano pretende aparecer de forma esporádica), o vimaranense Pedro Meireles, campeão em 2014, num Skoda Fabia R5, e os regressados Fernando Peres, num Ford Fiesta R5 e Miguel Campos, num Skoda Fabia R5, todos eles têm boas condições de vencer, já em Fafe.

Para estes dois últimos, são regressos. Fernando Peres foi um dos melhores pilotos nacionais na década de 90, tendo vencido três campeonatos nacionais, sempre num Ford Escort RS, chegando a ser um dos poucos pilotos com um WRC - os outros eram Rui Madeira e Pedro Matos Chaves - tendo depois se dedicado à sua equipa, correndo com um Mitsubishi Lanver Evo IX no Regional Norte. Este ano, para comemorar o seu 50º aniversário natalício, decidiu voltar a competir com os mais novos, numa máquina à altura deles, para ver se continua a ter ritmo para eles.

Já Miguel Campos, anda nestes últimos anos a fazer ralis de forma esporádica. No passado recente, apareceu com um Peugeot 208 R5, quer no Rali da Madeira, quer no Serras de Fafe, e não fez muito feio, mas não andou a fazer uma temporada inteira, por alguma falta de apoios. Contudo, este ano, decidiu apostar um pouco mais alto, com um Skoda Fabia R5, e é provável que vá fazer mais ralis do que o Serras de Fafe.

Dois pilotos de áreas diferentes vão fazer uma incursão pelos ralis: Carlos Vieira e Miguel Barbosa. O primeiro, de Braga, vêm da velocidade, mas já anda nos ralis desde meados da temporada passada, primeiro num Porsche GT no Rali Vidreiro, e depois num Fiesta R5 nos dois últimos ralis da temporada, onde acabou por liderar o Rali do Algarve, antes de se despistar e abandonar. Agora voltou a tempo inteiro, com um Citroen DS3 R5, semelhante ao carro de José Pedro Fontes. Ele afirma que pretende aprender, mas nada garante que possa andar a par dos melhores, pois rapidez não lhe falta.

Já Miguel Barbosa, depois de andar no Todo o Terreno - com participações no Dakar - decidiu apostar este ano no CNR, a bordo de um Skoda Fabia R5, com o intuito de aprender. E é um projeto a longo prazo, pois pretende andar aqui por três anos, com o objetivo de se tornar campeão nacional.

Claro, não há bela sem senão:

"Portugal tem uma competição de excelência. Ainda com muitos problemas, de maior ou menor facilidade de resolução, mas só um deles pode minar tudo. Não tem existido grande renovação, não há muitos jovens pilotos a entrar nos ralis e a subir a "escada"...", escreve o jornalista no mesmo artigo do Autosport.

É óbvio que todos estes R5 num campeonato como o nosso tem um lado negativo: as outras categorias são negligencidas, como os GT's, que sendo mais favoráveis no asfalto, nunca tiveram grande projeção em Portugal, apesar do José Pedro Fontes quase ter ganho o campeonato de 2014 com um Porsche. E aqui, no Serras de Fafe, não aparecerão nenhum, e provavelmente no campeonato não aparecerão mais, apesar da possibilidade de aparecerem no Rali da Madeira, através dos pilotos locais.

E outro "derrotado" é a falta de uma categoria de iniciação nos ralis, para os pilotos mais novos ou com aspiração nesse sentido. Há muito tempo que não existe um troféu monomarca, com um orçamento a ter em conta para toda uma temporada - na ordem dos 25/30 mil euros - apesar das tentativas nesse sentido. Este ano existirão alguns Cirtroen DS3 R1 e R2, mas não serão muitos, comparados com os R5. E claro, continuarão a surgir os inevitáveis Mitsubishi Lancer de Grupo N, sempre fiáveis, mas desde há muito que não há uma máquina nova nesse campo, para além dos japoneses. Este ano, Adruzilo Lopes vai encostar o seu Subaru Impreza, pois anda à procura de um R5, e não se sabe se alguém pegará no seu carro para correr com ele.

Apesar de tudo, o Campeonato Nacional de Ralis será este ano uma competição que valerá a pena seguir, por causa desta lista de inscritos. E como será um campeonato que será seguido pela televisão, através da Motors TV, o canal internacional do automobilismo, vai ser algo do qual valerá a pena seguir.

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