segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A evolução das coisas

Deixem-me contar uma coisa do desfile do "Leiria Sob Rodas", ontem à tarde. A uma determinada altura, comecei por andar na rua onde aconteceu o desfile, a Mouzinho de Albuquerque. Normalmente, aquela rua tem duas faixas de sentido único, mas num passado não muito distante - isto é, a minha infância - aquela rua era usada nos dois sentidos, antes da abertura da Avenida Heróis de Angola fez com que o sentido fluísse em cada sentido, com duas faixas de cada lado.

A certa altura, eles simularam um engarrafamento como acontecia há 40 anos, e senti o cheiro da gasolina queimada naqueles escapes. Aqueles carros e motos, com 40, 50, 60 e mais anos de idade, e aquele fumo a entrar pelas minhas narinas, me fez recuar muito no tempo... mas não foram boas recordações. Lembrei-me de como no passado respirávamos um ar tremendamente venenoso. E como as coisas avançaram na industria automóvel ao longo deste tempo.

Os carros de 1960 ou 1970, sem serem modificados para ficarem a par das atuais emissões poluentes, sem catalizadores ou motores mais eficientes, eram bombas poluidoras com algum jeito. Respirar ali por alguns minutos me fizeram ficar quase sem ar, consciente de que estava a respirar algo extremamente venenoso, potencialmente cancerigeno. E a caminho de casa, pensei no que a industria automóvel evoluiu desde então.

Hoje em dia, os carros a combustão poluem muito pouco, comparado com o passado. Se forem ver, as marcas automóveis gostam de se gabar que os seus carros emitem coisas como "cem microgramas de CO2 por quilómetro", semelhante aos litros de gasolina que gastam a cada cem quilómetros. Claro que tivemos os escândalos da manipulação das emissões da Volkswagen (e de outras marcas) que abalou a industria no ano passado, e do qual a marca de Wolfsburg arrisca a pagar uma multa bem pesada, mas não se pode dizer que a industria automóvel tenha feito um péssimo trabalho. Um engarrafamento nos dias de hoje é bem menos incómodo para quem anda a pé, e os unicos que incomodam são os autocarros que funcionam a gasóleo (mas já se experimenta a hidrogénio, electricidade, biomassa, etc...)

Em suma, deram imensos passos no sentido dos carros poluirem o menos possivel.

Mas sei que há mais, bastante mais. Na semana passada, dei de caras com o site de Rameez Naam, um escritor americano que escreve sobre o futuro da industria e da revolução que está a acontecer em termos de captação de energia, passando das fontes não renováveis para as fontes renováveis, como a electricidade eólica, solar, e das ondas, entre outros. E um dos artigos que ele escreveu tem a ver com os carros elétricos, que ele fala que num prazo de oito a dez anos, serão extremamente baratos. Quão baratos ficariam? Ele fala que em 2026, um carro com uma bateria de 200 milhas (320 quilómetros) poderia custar, novo, abaixo dos dez mil dólares. Bem menos do que o mais baixo carro à venda, que é de 14.200 dólares.

E ele fala das imensas razões para que isso aconteça. Reparem nisso: o que é que tem hoje em dia, qualquer carro a combustão? Um motor, para começar. Mas depois, temos uma caixa de velocidades, um radiador para o arrefecer, um depósito de gasolina, um de óleo, e dento do próprio motor, elementos que garantem que a máquina funciona, como velas, correia de transmissão, pistões, etc. E o que tem um carro elétrico? Tirando o motor... nada. Não precisa de nada disto. E o motor, entenda-se, é um gerador que armazena energia, e no caso dos Teslas, por exemplo, o motor é tão pequeno que cabe no eixo traseiro (ou dianteiro) do carro.

E há outra coisa interessante que ele fala: sem todos esses elementos, o custo de construção desses carros diminui bastante. Não depende de outros fornecedores externos ou internos para os construir e colocar. Vai diminuir a manutenção - suspeito que daqui a dez anos, as oficinas, tal como as conhecemos agora, desaparecerão - e as restantes vão se especializar em restaurar carros antigos.

Em suma: estes carros elétricos serão estupidamente baratos. E com o custo da energia a baixar bastante, não ficaria admirado se um dia tenhamos tanta, mas tanta, que teremos excedentes. Reparem: se captássemos eficientemente a energia do Sol, ou construíssemos uma central a fusão, poderíamos captar em uma hora o equivalente ao consumo anual de electricidade... em um ano. E já agora, quando falo de uma central de fusão, falo de... uma. Um edifício. Em todo o planeta Terra.

Claro, os céticos vão dizer coisas como "ficção cientifica" ou "não vai acontecer no meu tempo", mas o problema é que neste momento, há milhares de firmas um pouco por todo o mundo que estão a investir milhares de milhões de dólares em investigação e desenvolvimento para nos libertarmos dos combustíveis fósseis. E a não ser que essas pessoas pensem que vão ter uma esperança de vida muito curta, eu direi que os céticos poderão viver o suficiente para ver todo um mundo que conhecem agora ser totalmente transformado. Contra ventos e marés.

E os materiais? Bom, descobri na semana passada que um grupo de chineses está a construir painéis solares revestidos a grafeno (um compósito semelhante à fibra de carbono), no sentido de os fazer bem mais eficazes do que são agora. Do género... captar a luz do sol mesmo com céu nublado e à chuva.

Enfim, o que quero dizer é até que ponto já evoluímos, e essa'e a beleza das coisas. Se aquele engarrafamento encenado de ontem me fez lembrar a minha infância e de como o centro das cidades era bem mais horrível do que é agora, o futuro me dirá que grande parte das pessoas que compraram este ano um automóvel - entre os quais o meu pai e o meu irmão - poderão ter comprado um carro a combustão pela última ou penúltima vez. Poderão estar a um ou dois carros de ter um elétrico, e só terem coisas boas para dizer.

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