domingo, 9 de julho de 2017

Bottas e a "falsa" partida que... não existiu

A corrida da Áustria ficou marcada pela vitória de Valtteri Bottas... e pela polémica que aconteceu logo na largada do Grande Prémio pelo piloto finlandês. No momento da largada, as rodas do Mercedes numero 77 avançaram um pouco, ainda antes das luzes se apagarem. Muitos gritaram que ele queimou a largada, mas depois de uma aturada pesquisa por parte dos comissários de pista, decidiu-se que a partida do finlandês foi legal, acontecendo dentro da margem de tolerância concedida pela FIA.

Muito se contestou - especialmente na Internet, claro! - contudo, todas estas explicações mostram que a ignorância das regras da FIA são... gritantes. O "olhómetro" parece ser a regra que se seguem e acham que elas tem de ser tal qual, e não são. Como aconteceu em Baku, a FIA explicou a razão pelo qual não iria haver qualquer penalização para aquele caso. E tinha a ver com a margem de tolerância que os pilotos tem numa regra como estas. 

Uma matéria da Autosport britânica explica isso da seguinte forma:   

"Embora os comissários austríacos do GP tenham investigado o assunto, eles decidiram no final que Bottas não cometeu uma falsa partida. Isso não impediu que tenha havido alguma confusão sobre [a razão] pelo qual chegaram a essa conclusão - com imagens de televisão amplamente divulgadas nas mídias sociais sugerindo que as rodas da frente de Bottas estavam a mexer-se enquanto as luzes ainda estavam ligadas.

A FIA explicou, no entanto, que [os pilotos podem fazer] alguns movimentos antes que as luzes se apaguem devido à necessidade, ocasionalmente, dos pilotos fazerem ajustes na sua embraiagem nos momentos cruciais antes do início da corrida.

Esse sistema está em vigor há 20 anos e foi aceito por todos os concorrentes"

Em suma, se os pilotos aceitam esta regra, porque nós, espectadores, a iremos contestar?

Tudo isto mostra que, na realidade, não fazemos ideia das regras da FIA. Noventa e nove por cento de nós nunca as leu, e partimos do principio que as regras escritas são assim, "ipsis verbis", é a letra da lei. Só que não é verdade, e qualquer aluno do primeiro ano de Direito sabe disso. Existe o espírito da lei, o que significa que ela tem muitas interpretações. E se formos ver nesta regra em particular, é que há uma tolerância, como existe nos atletas dos 100 metros. Se partirem depois de ouvir o tiro que assinala o inicio da corrida, eles tem uma tolerância a partir do qual se pode dizer se "queimou" ou não. E como na Formula 1, é de 0,2 segundos. 

Ainda por cima, descobriu-se que no caso do Valtteri Bottas, ele partiu com uma tolerância de 201 centésimos de segundo, ou seja, não foi penalizado por... dois milésimos. Para além disso, a penalização abarca situações onde a roda tenha dado uma volta completa sobre si mesma. Ou seja, tolera os tais ajustes, mas não os aproveitadores alheios. E foi isso que se vê nas imagens: ajustou, parou e depois arrancou.

Em suma, o olho humano é ilusório, e também nunca lemos o livro de regras da FIA. E vimos isso há duas semanas em Baku, com a polémica entre o Lewis Hamilton e o Sebastian Vettel, especialmente na parte em que se diz que o piloto da frente pode fazer o que quiser em relação aos carros que vêm atrás, a pretexto de dar espaço ao Safety Car quando ele regressa às boxes.

E já agora: esqueçam as teorias da conspiração. Porque se, por exemplo, pensassem que a Mercedes seria beneficiada pel FIA, então o Sebastian Vettel teria sido desclassificado da corrida de Baku. É que o Hamilton e a imprensa inglesa não se cansou de pedir essa penalização ao longo da semana que passou. E só isso demonstra que não tem consistência.

Logo, sigamos em frente, porque Silverstone está ao virar da esquina.

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