domingo, 6 de agosto de 2017

Uma confissão de Alan Jones

Aos 70 anos, Alan Jones goza a reforma na Austrália, fazendo também de comentador na televisão local, quer para a Formula 1, quer para o V8 Supercars. Mas de vez em quando lá conta uma historieta dos seus tempos na Formula 1, onde foi o primeiro campeão pela Williams, em 1980. 

Recentemente, Jones escreveu - e publicou - a sua biografia, com o sugestivo título de "How Alan Jones Climbed to the Top of Formula One" (Como Alan Jones Subiu ao Topo da Formula 1, numa tradução à letra), onde escreve umas linhas sobre o seu segundo regresso à Formula 1, em 1985, ajudando no projeto da americana Lola-Haas.

No final dessa temporada, o pelotão da Formula 1 foi a Kyalami, ao polémico GP da África do Sul, numa altura em que a comunidade internacional fazia fortes pressões para boicotar o país, que estava na altura submetida ao regime do "apartheid", de minoria branca. A Formula 1 era a única competição que visitava aquele país, e algumas equipas, nomeadamente os franceses da Renault e da Ligier, decidiram não ir lá competir. E Jones também decidiu não competir nesse dia, apesar de ter corrido por ali na qualificação. Apesar de ter alegado um virus, sempre se desconfiou que a razão tinha sido outra. E ele conta ali o que aconteceu, afirmando que não correu... por sugestão de Bernie Ecclestone.

Jones fala que isto aconteceu no sábado à noite, depois da qualificação, quando foi convocado para o quarto onde estava Bernie. "Não tinha a certeza do que tinha feito desta vez, fui lá ter com ele. Quando bati à porta, Bernie perguntou-me: 'Como você se sente?'", recorda.

"'Que chances tens de ganhar a corrida amanhã?' perguntou Ecclestone. Jones disse: 'Se eu começar agora, provavelmente são boas'".

De acordo com Jones, Ecclestone continuou: "Bem, eu tenho uma idéia. Se você der baixa e não puder correr neste fim de semana, nós lhe daremos o prémio do primeiro lugar. Vá para casa e visite Austrália", concluiu.

Jones saiu do hotel no dia seguinte, algo do qual apenas Carl Haas e Teddy Mayer sabiam, e o resto do mundo soube que o australiano estava doente. A razão para todo este esquema foi que a Haas era patrocinada pela Beatrice Foods, uma importante corporação americana, e tinha sido ameaçada de um boicote por parte do movimento dos Direitos Cívicos, então liderada por Jesse Jackson. E para evitar isso, arranjou-se um motivo de "força maior", logo, uma doença inesperada que o impedisse de correr, e tirando um pouco a razão dos protestos na América.

Duas semanas depois, na Austrália, Jones alinhou na corrida sem problemas. "Fiz uma recuperação milagrosa para o Grande Prêmio da Austrália, que também andei bem", recorda, em jeito de conclusão.

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