segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

As (novas) ameaças de Sergio Marchionne

Este fim de semana, em Maranello, Sergio Marchionne convidou a imprensa para um encontro de Natal, mas as intenções não eram apenas para lhes desejar Boas Festas e um Próspero 2018 para eles. O presidente da Ferrari não deixou escapar a oportunidade para lançar farpas para a Liberty Media, especialmente para os seus planos de dar mais igualdade entre as equipas. 

O que mais me incomoda é que existe um homem com a experiência de Ross Brawn, que procura maneiras de lutar contra o ADN da Formula 1. Fazer carros todos iguais, com motores simples e económicos, como a Nascar, não interessa para nós”, começou por dizer o presidente da Ferrari.

Temos de buscar um equilíbrio nas decisões para o futuro que satisfaçam a todos, e acho que vamos fazer isso com o tempo. Caso contrário, a Ferrari vai embora. Se eles acreditam que estamos a fazer "bluff", [eu direi que] eles estão a brincar com o fogo”, ameaçou.

Na renovação de contrato com o Liberty, há a possibilidade de se desvincular, em oposição ao Pacto da Concórdia, e acho que a Ferrari tem a força para arrastar outras [equipas] para um campeonato alternativo”, complementou Marchionne.

Por um lado, há um certo exagero da parte de Marchionne, mas sei que cúpula da Ferrari, aprende-se depressa da história - e sobretudo da influência - que a Scuderia têm na Formula 1. Eles não querem ter poder, digamos assim. O que desejam é ter a capacidade de influenciar a FIA no sentido de que as regras os beneficiem. E historicamente, sempre se saíram bem. As táticas influenciadoras - quase bullying - do Commendatore têm acolhimento naqueles que têm idade para serem os seus netos. Não tanto Piero Lardi Ferrari, o filho (bastardo) de Enzo, mas sim Sergio Marchionne, que aprendeu com Luca de Montezemolo, que por sua vez, aprendeu com "il Vecchio".

E claro, avisos e mais avisos aos jornais para que "se nos tocarem, vamos embora" é exatamente isso: avisos. Para ver se a Liberty Media tem coragem para os enfrentar. Testes, se quiserem. Mas é bom começáramos a ver isto noutra perspectiva. Ir para além do que se fala, ter um contexto no meio disto tudo. E o contexto é um pouco este: lembram-se dos rumores sobre a Maserati na Haas, depois do patrocínio da Alfa Romeo na Sauber? Não é tanto o Marchionne a comprar um terço da Formula 1 para influenciar o Acordo da Concórdia após 2020, mas é porque ele manda num grupo grande chamado Fiat-Chrysler Automobiles e quer ver se arranja comprador.

É que nos últimos dois a três anos, a companhia não respira saúde. Foram obrigados a vender a Ferrari - está colocada à parte e cotada na Bolsa de Nova Iorque - e Marchionne tem 65 anos, no limite para a reforma. E os objetivos de vendas da Alfa Romeo, quer nos Estados Unidos, quer no resto do mundo, não tem sido alcançados. Marchionne queria vender meio milhão dos seus carros este ano, mas só vende cerca de um quinto, apesar de ter carros como o Giulia e o Stelvio. E as outras marcas estão, de uma certa maneira, adormecidas. A Maserati, por exemplo, tem uma aumento de vendas depois de colocar o SUV Levante, e o ano de 2016 foi o seu melhor de sempre, pois vendeu 42.500 veículos. 

Mas tudo isso tem um objetivo: vender a firma para outros interessados. E quem tem dinheiro? Talvez os chineses. Aliás, ao ler os posts do Joe Saward, li o último parágrafo de um artigo que escreveu no passado dia 7, onde dizia isto:

"Movendo a marca [Maserati] para a Formula 1 é projetado para adicionar um pouco mais de brilho para uma eventual a divisão entre Alfa Romeo-Maserati, reduzir a dívida da FCA e torná-la mais atrativa para uma venda ou uma fusão". A ideia é emagrecer, é óbvio, mas livrar-se de algumas marcas para ficar com as que têm lucro (Ferrari) poderá não ser boa politica, pois ficaria vulnerável para uma aquisição futura por outra marca, não é?

Portanto, tudo isto é uma estratégia para mostrar o seu portfólio mais interessante. Mas isso só funcionaria se a Liberty Media se encolhesse e não pegar a guerra que Marchionne deseja comprar. É que o grupo de Chase Carey e Sean Bratches ainda está a pagar o preço da aquisição da Formula 1 à CVC Capital Partners e poderá ainda estar vulnerável em termos financeiros a outra guerra... e o grupo Formula 1 teve prejuízos este ano, como sabem. E também não poderemos deixar de pensar se outros atores não estarão presentes, dispostos a minar o trabalho dos novos proprietários. Nomeadamente um certo anão octogenário...

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